José Antonio Basto |
A literatura é a arte da palavra. A poesia ou texto lírico é uma das sete
artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos
ou críticos. A poesia tem o poder de retratar tudo que pode ou não acontecer,
depende da imaginação do autor, como também a do leitor. Um poeta disse: “quem
ler poesia ver o mundo diferente”. A poesia é a arte, que a ensina, e a obra
feita com a arte; a arte é a poesia, a obra o poema e o poeta é o artífice. O sentido da
mensagem poética pode ser algo extraordinário, ainda que seja de forma estética
para definir um texto como poético. A poesia compreende aspectos metafísicos e
a possibilidade desses elementos transcenderem ao mundo fático. Esse é o
terreno que compete verdadeiramente ao poeta.
O campo brota poesia? Como escrever sobre as coisas do
campo –, tradições, belezas das matas... Florestas, rios... Mares... Animais?
Como escrever sobre a vida simples das pessoas do interior? Como descrever o
cerrado brasileiro? Escrevendo e convivendo. Isso é brotar poesia! Na verdade a
poesia nasce no campo... Desde o arcadismo que tinha como principal
característica a “exaltação da natureza” e de tudo que lhe diz respeito, isso é
apenas um ponto de vista ou talvez uma Inter-textualização da passagem dos
séculos, convenhamos. A partir do desenvolvimento dessa escola “os poetas”
adotaram pseudônimos de pastores gregos e latinos. “O arcadismo constitui-se numa forma de literatura mais simples, opondo-se aos
exageros e rebuscamentos do barroco. Temas comuns relacionados ao campo,
o amor, a morte, o casamento, a solidão... E o desejo de um mundo mais
justo, características essas do arcadismo. As situações mais frequentes
apresentam um pastor abandonado pela amada, triste e queixoso. É a "aurea mediocritas" (mediocridade
áurea), que simboliza a valorização das coisas cotidianas, focalizadas pela
razão. “Os autores retornam aos modelos clássicos da antiguidade greco-latina e aos renascentistas, razão pela qual o movimento é
também conhecido como “neoclássico”. Os seus autores acreditavam
que a arte era uma cópia da natureza
por si só, refletida através da tradição clássica. Por isso a presença da mitologia pagã, além do recurso a
frases latinas. “Inspirados na frase do escritor latino Horácio "fugere urbem" (fugir da
cidade), os árcades foram imbuídos da teoria do "bom selvagem" de Jean-Jacques Rousseau, os autores árcades voltam-se para a natureza em busca de uma vida
simples, bucólica, pastoril, num refúgio ameno em oposição aos centros urbanos
dominados pelo antigo regime, o absolutismo
monárquico. Cumpre salientar que essa busca configurava apenas um estado de
espírito, uma posição política e ideológica, uma vez que esses autores viviam
nos centros urbanos e, burgueses que ali mantinham seus interesses econômicos.
Por isso justifica falar-se em "fingimento poético" no arcadismo,
fato que transparece no uso dos pseudônimos pastoris”.
Escrever sobre o campo é embelezar o pensamento... Valorizar o mais
importante da vida, pois é de lá que vem tudo para todos e todas – é de lá que
aprendemos o sentido da vida e da cultura de nossos pais. As comunidades rurais
não precisam enricar-se economicamente, precisam apenas viver bem, comer bem,
ter água e terra para o trabalho e sustento de suas famílias; elas são as
verdadeiras defensoras do meio ambiente –, as comunidades tradicionais poetizam
no dia-a-dia.
O arcadismo me ensinou estes valores, desde quando nos reuníamos em casas
de amigos para o desenvolvimento dos trabalhos de Literatura em grupo na época
do ensino médio. “Ninguém ensina ninguém” a ser “Poeta” –, trazemos isso de
berço - mas acredito nas orientações e sobretudo no incentivo do
“ensino-aprendizagem”, durante todo esse período de outrora. Isso me tornou um
fabricante de versos, na junção das letras, um agente divulgador do texto
escrito, trilhando um difícil caminho da “lavra à palavra”. Escrever sobre o
campo nos remete a uma livre expressão do criar em liberdade, do pensamento que
voa para campos distantes e mares nunca antes navegáveis. Pulando num salto
distante destes acontecimentos, meus escritos simples e modestos ainda faz-me
lembrar de quando estudamos o Eça de Queiroz que foi um dos grandes nomes da
literatura portuguesa; autor da obra “Os Maias” - um livro que ocupa-se da história de uma família (Maia) que habitava
uma fazenda ao longo de três gerações. Eça participou de um período de
mudança, em que o romantismo dava lugar ao realismo -, toda história do romance
se passa no campo.
O arcadismo simboliza a valorização das coisas cotidianas focalizadas
pela razão, assim como o romantismo que impera entre nós. A criação literária
do individual pensamento para transformar as sociedades coletivas são os frutos
do arcadismo. Penso eu. Cada momento teve suas características - mas a poesia
tem atravessado gerações e continua ainda tão atual em nossos dias.
José
Antonio Basto
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