segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A POESIA QUE INUNDA A VIDA INTEIRA: ARCADISMO, A ESCOLA DA VIDA SIMPLES NO CAMPO

José Antonio Basto
A literatura é a arte da palavra. A poesia ou texto lírico é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos ou críticos. A poesia tem o poder de retratar tudo que pode ou não acontecer, depende da imaginação do autor, como também a do leitor. Um poeta disse: “quem ler poesia ver o mundo diferente”. A poesia é a arte, que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra o poema e o poeta é o artífice. sentido da mensagem poética pode ser algo extraordinário, ainda que seja de forma estética para definir um texto como poético. A poesia compreende aspectos metafísicos e a possibilidade desses elementos transcenderem ao mundo fático. Esse é o terreno que compete verdadeiramente ao poeta.
O campo brota poesia? Como escrever sobre as coisas do campo –, tradições, belezas das matas... Florestas, rios... Mares... Animais? Como escrever sobre a vida simples das pessoas do interior? Como descrever o cerrado brasileiro? Escrevendo e convivendo. Isso é brotar poesia! Na verdade a poesia nasce no campo... Desde o arcadismo que tinha como principal característica a “exaltação da natureza” e de tudo que lhe diz respeito, isso é apenas um ponto de vista ou talvez uma Inter-textualização da passagem dos séculos, convenhamos. A partir do desenvolvimento dessa escola “os poetas” adotaram pseudônimos de pastores gregos e latinos. “O arcadismo constitui-se numa forma de literatura mais simples, opondo-se aos exageros e rebuscamentos do barroco. Temas comuns relacionados ao campo, o amor, a morte, o casamento, a solidão... E o desejo de um mundo mais justo, características essas do arcadismo. As situações mais frequentes apresentam um pastor abandonado pela amada, triste e queixoso. É a "aurea mediocritas" (mediocridade áurea), que simboliza a valorização das coisas cotidianas, focalizadas pela razão. “Os autores retornam aos modelos clássicos da antiguidade greco-latina e aos renascentistas, razão pela qual o movimento é também conhecido como “neoclássico”. Os seus autores acreditavam que a arte era uma cópia da natureza por si só, refletida através da tradição clássica. Por isso a presença da mitologia pagã, além do recurso a frases latinas. “Inspirados na frase do escritor latino Horácio "fugere urbem" (fugir da cidade), os árcades foram imbuídos da teoria do "bom selvagem" de Jean-Jacques Rousseau, os autores árcades voltam-se para a natureza em busca de uma vida simples, bucólica, pastoril, num refúgio ameno em oposição aos centros urbanos dominados pelo antigo regime, o absolutismo monárquico. Cumpre salientar que essa busca configurava apenas um estado de espírito, uma posição política e ideológica, uma vez que esses autores viviam nos centros urbanos e, burgueses que ali mantinham seus interesses econômicos. Por isso justifica falar-se em "fingimento poético" no arcadismo, fato que transparece no uso dos pseudônimos pastoris”.
Escrever sobre o campo é embelezar o pensamento... Valorizar o mais importante da vida, pois é de lá que vem tudo para todos e todas – é de lá que aprendemos o sentido da vida e da cultura de nossos pais. As comunidades rurais não precisam enricar-se economicamente, precisam apenas viver bem, comer bem, ter água e terra para o trabalho e sustento de suas famílias; elas são as verdadeiras defensoras do meio ambiente –, as comunidades tradicionais poetizam no dia-a-dia.
O arcadismo me ensinou estes valores, desde quando nos reuníamos em casas de amigos para o desenvolvimento dos trabalhos de Literatura em grupo na época do ensino médio. “Ninguém ensina ninguém” a ser “Poeta” –, trazemos isso de berço - mas acredito nas orientações e sobretudo no incentivo do “ensino-aprendizagem”, durante todo esse período de outrora. Isso me tornou um fabricante de versos, na junção das letras, um agente divulgador do texto escrito, trilhando um difícil caminho da “lavra à palavra”. Escrever sobre o campo nos remete a uma livre expressão do criar em liberdade, do pensamento que voa para campos distantes e mares nunca antes navegáveis. Pulando num salto distante destes acontecimentos, meus escritos simples e modestos ainda faz-me lembrar de quando estudamos o Eça de Queiroz que foi um dos grandes nomes da literatura portuguesa; autor da obra “Os Maias” - um livro que ocupa-se da história de uma família (Maia) que habitava uma fazenda ao longo de três gerações. Eça participou de um período de mudança, em que o romantismo dava lugar ao realismo -, toda história do romance se passa no campo.
O arcadismo simboliza a valorização das coisas cotidianas focalizadas pela razão, assim como o romantismo que impera entre nós. A criação literária do individual pensamento para transformar as sociedades coletivas são os frutos do arcadismo. Penso eu. Cada momento teve suas características - mas a poesia tem atravessado gerações e continua ainda tão atual em nossos dias.

José Antonio Basto 



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