sexta-feira, 27 de novembro de 2020

O Viajante, as águas do Mocambo e as trincheiras da guerra

 

As águas corriam da nascente que fica para as bandas dos campos arenosos, a água nasce do chão, do subsolo – dos brejais e buritizais, as águas do Mocambo descem de longe. As águas negra do rio relembra o passado de glória em que “heróis desejaram a liberdade”, lutaram em seus esconderijos nas batalhas sem registros e mais! Eram BALAIOS que sob pressão do chamado recrutamento forçado, da expressão (o pega), já desejam explodir com suas ideias e ações e fizeram isso -, numa peleja de quase quatro anos de guerras pelas matas e vilarejos. O Viajante entendera que a insurreição passara por sua terra natal “Urbano Santos” – quando o vaqueiro Raimundo Gomes arrebentara as portas da cadeia de Vila da Manga no Iguará e lançava seu manifesto começando então organizar seu exército popular que passaram por este lugar, com o intuito de armar um grupo de rebeldes em Chapadinha e atacar a Vila de Miritiba - hoje Humberto de Campos. Os fatos se construíram e se constroem a cada tempo - a HISTORIOGRAFIA faz o restante do trabalho nas linhas das memórias ancestrais e naquilo que restou de um tempo diferente repleto de lutas sangrentas, de rebeldia e da sustentação de um sonho de liberdade.

O Sertão foi o espaço de luta, a terra tem um significado exemplar – presenciara muitas batalhas e demandas. A região é antiga e, sobretudo diferente. Mas toda guerra tem um fim, parava ali os combates depois que os líderes da insurreição sucumbiram, alguns se entregaram, outros preferiram morrer lutando. Os escravos sublevados pelo imperador das liberdades bem-te-vi, D. Cosme voltaram para suas fazendas... Outros procuraram quilombos distantes como o “Saco das Almas” e o “Lagoa Amarela”. Todos localizados no território deste imenso Baixo Parnaíba. Mas o medo imperava entre os sertanejos e suas famílias. Com o fim das batalhas, os legalistas ainda continuavam rondando o sertão para controlar a situação, alguns insurretos direcionaram-se ás terras de Urbano Santos, procurando refúgio seguro... Entrincheiraram-se e montaram seus barracos junto às margens do rio. Crescia as demandas de organização social, do comércio e subsistência, primeiro chamou-se “Mocambinho”, depois “Mocambo”, Ponte Nova e por fim Urbano Santos em 10 de junho de 1929. Naquela época o rio não tinha nome, daí recebera esse por ter amocambado nossos irmãos “Balaios”, mocambo é uma palavra de origem africana e significa “esconderijo” – “refúgio”. Ás “águas negras cheias de encantos”, correm banhando as comunidades que presenciaram combates; as águas que irrigam plantações frutíferas que chegam ás nossas mesas, águas que dão de beber a roças... As mesmas águas que também mata a sede de muitos da cidade. Este é o rio que inspirou o autor do hino municipal, nos trechos e linhas inscritas por José Antonio de Magalhães Monteiro: “Rio Mocambo de lutas gloriosas/ Em que heróis desejaram a liberdade [...] / Tuas façanhas são vividas 
no ideal da mocidade”.” Em tempos de outrora foi um grande rio por onde navegavam muitas embarcações transportando gêneros de nossa agricultura: (farinha, arroz, milho, tapioca, rapadura, tiquira e cachaça de cana), saindo da sede da cidade, caindo no Rio Preto ou “Rio dos Pretos”, caindo no Munim, seguindo para Cachoeira Grande e chegando à capital São Luís.

O Viajante banhava nas águas do Mocambo, observara os capítulos da história narrada oralmente pelos mais velhos. Aprendera com humildade. As memórias da guerra ainda estão vivas, resta muitas coisas boas, utensílios, barragens, cemitérios antigos, paredões, canhões... Resta o livro do pensamento que vai sendo construído ao longo dos tempos. O Viajante viajava na história deixando suas trilhas e pegadas na areia deste chão de lutas e nas águas que descem para algum lugar importante deste “Território livre”.

 

José Antonio Basto

E-mail: bastosandero65@gmail.com

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

VELHA NEGRA CONSCIÊNCIA

Ela estar madura e bem distante de todos

Lá está! Longe... bem longe da visão...

Lá está ela... forte e destemida! Resumida

Lá está minha "Consciência no coração".


Lá está ela viva e sem aceitos de guerreiros!

Minha mente africanizada com memórias!

Exceto! Os que nunca, nunca fizeram nada,

"Nada vezes nada, portanto é nada na história".


E lá vem a "Negra Consciência", a "Velha Negra"

As guerras e destinos sufocados na existência

Lá vem o tambor, o agogô... a cabeça e o berimbau

Lá estão meus versos de saudades e vivências.


Lá está o farol solitário e quase sem moral!

Por não acreditar na carabina... no braço e na guerrilha

Foste o sangue derradeiro, o mártir do sofrer!

Foste a glória, a história... a terra que brilha.


E ainda a rama, um sonho, a sorte

E ainda as gramas, a vastidão, o papel e o poema

Foste tu! A letra! Os negros... a senzala

A grande casa! Das vozes, o eterno tema.


E de grandes e pequenos... chão vermelho!

De tão poucos versos sem tal e regras!

Era a voz de trezentos e mil anos...

Que ecoam na minha "Consciência Negra".

José Antonio Basto e Mundinha Araújo


José Antonio Basto

• "Em dedicação ao "Dia Nacional da Consciência Negra. 20 de novembro - 2020". Uma especial saudação aos 325 anos de "Zumbi dos Palmares". Viva Zumbi!!

José Antonio Basto.