As águas corriam da nascente que
fica para as bandas dos campos arenosos, a água nasce do chão, do subsolo – dos
brejais e buritizais, as águas do Mocambo descem de longe. As águas negra do
rio relembra o passado de glória em que “heróis desejaram a liberdade”, lutaram
em seus esconderijos nas batalhas sem registros e mais! Eram BALAIOS que sob
pressão do chamado recrutamento forçado, da expressão (o pega), já desejam
explodir com suas ideias e ações e fizeram isso -, numa peleja de quase quatro
anos de guerras pelas matas e vilarejos. O Viajante entendera que a insurreição
passara por sua terra natal “Urbano Santos” – quando o vaqueiro Raimundo Gomes
arrebentara as portas da cadeia de Vila da Manga no Iguará e lançava seu
manifesto começando então organizar seu exército popular que passaram por este
lugar, com o intuito de armar um grupo de rebeldes em Chapadinha e atacar a
Vila de Miritiba - hoje Humberto de Campos. Os fatos se construíram e se
constroem a cada tempo - a HISTORIOGRAFIA faz o restante do trabalho nas linhas
das memórias ancestrais e naquilo que restou de um tempo diferente repleto de
lutas sangrentas, de rebeldia e da sustentação de um sonho de liberdade.
O Sertão foi
o espaço de luta, a terra tem um significado exemplar – presenciara muitas
batalhas e demandas. A região é antiga e, sobretudo diferente. Mas toda guerra
tem um fim, parava ali os combates depois que os líderes da insurreição
sucumbiram, alguns se entregaram, outros preferiram morrer lutando. Os escravos
sublevados pelo imperador das liberdades bem-te-vi, D. Cosme voltaram para suas
fazendas... Outros procuraram quilombos distantes como o “Saco das Almas” e o
“Lagoa Amarela”. Todos localizados no território deste imenso Baixo Parnaíba.
Mas o medo imperava entre os sertanejos e suas famílias. Com o fim das
batalhas, os legalistas ainda continuavam rondando o sertão para controlar a
situação, alguns insurretos direcionaram-se ás terras de Urbano Santos,
procurando refúgio seguro... Entrincheiraram-se e montaram seus barracos junto às
margens do rio. Crescia as demandas de organização social, do comércio e
subsistência, primeiro chamou-se “Mocambinho”, depois “Mocambo”, Ponte Nova e
por fim Urbano Santos em 10 de junho de 1929. Naquela época o rio não tinha
nome, daí recebera esse por ter amocambado nossos irmãos “Balaios”, mocambo é
uma palavra de origem africana e significa “esconderijo” – “refúgio”. Ás “águas
negras cheias de encantos”, correm banhando as comunidades que presenciaram
combates; as águas que irrigam plantações frutíferas que chegam ás nossas mesas,
águas que dão de beber a roças... As mesmas águas que também mata a sede de
muitos da cidade. Este é o rio que inspirou o autor do hino municipal, nos trechos e linhas inscritas por José
Antonio de Magalhães Monteiro: “Rio Mocambo de lutas gloriosas/ Em que heróis
desejaram a liberdade [...] / Tuas façanhas são vividas
no ideal da mocidade”.” Em tempos de outrora foi um
grande rio por onde navegavam muitas embarcações transportando gêneros de nossa
agricultura: (farinha, arroz, milho, tapioca, rapadura, tiquira e cachaça de
cana), saindo da sede da cidade, caindo no Rio Preto ou “Rio dos Pretos”,
caindo no Munim, seguindo para Cachoeira Grande e chegando à capital São Luís.
O Viajante banhava nas águas do Mocambo, observara os
capítulos da história narrada oralmente pelos mais velhos. Aprendera com
humildade. As memórias da guerra ainda estão vivas, resta muitas coisas boas,
utensílios, barragens, cemitérios antigos, paredões, canhões... Resta o livro
do pensamento que vai sendo construído ao longo dos tempos. O Viajante viajava
na história deixando suas trilhas e pegadas na areia deste chão de lutas e nas
águas que descem para algum lugar importante deste “Território livre”.
José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com
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