terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Desbravando as chapadas rumo à comunidade Bracinho -, Urbano Santos, Baixo Parnaíba Maranhense.


Foi a convite do companheiro Mayron Regis e do Edimilson, ambos dos Fórum Carajás, chegaram em Urbano Santos no inicio da noite do dia 13/02, sábado –véspera do carnaval, para a realização de uma missão antes planejada. Com eles veio também um outro velho amigo de armas, ideologias e lutas no cerrado, Chico da Cohab de Chapadinha com o intuito de conhecer pela primeira vez as chapadas do Bracinho,  Bom Princípio e São Raimundo. O almoço que celebrou a conquista da posse da terra do Povoado Bracinho não foi por acaso, pois há tempos havíamos programado por intermédio da Francisca do São Raimundo, uma vez que direta ou indiretamente outrora fizemos parte dessa luta.
A viagem foi no dia seguinte pela manhã 14/02, o carro que o Wilson tinha arranjado não chegava, tínhamos que sair  no máximo às 08:00h pra chegarmos cedo. O problema foi resolvido quando conseguimos fretar as carreiras outro transporte do Sr. Chiquinho. Então seguimos viagem cortando as estradas pelas comunidades Bacaba, Cacimbinha, Palmeirinha, Mangabeirinha, Lagoa dos Costa e Bom Fim, fiz questão de ir na carroceria, uma vez que já não me cabia mais na cabine, pois além do Mayron, Chico da Cohab e  Edimilson  foi também conosco a Telma e a Francisca. Nem me importei, pois dali apreciaria mais ainda a paisagem das chapadas, o que incomodou foi apenas o sol que ardia nos couros. Após passarmos o Bom Fim, o guia não lembrava da estrada que saia no Bebedouro, portanto o carro andava por um caminho estreito sem saída -, acabamos voltando pelo mesmo lugar. Em fim acertamos o caminho do Bebedouro, o carro atravessou as fontes onde as mulheres lavavam roupas e os meninos brincavam no riacho. O Bracinho que era nosso destino ainda estava um pouco longe, mas não muito. Chegamos lá e fomos recebidos com muito respeito e cortesia pelo João - atual presidente da associação, já era meio dia e o almoço foi servido, a fome era devoradora somando-se com o cansaço. Galinha caipira, pois a filha da Francisca tinha avisado alguns dias atrás que estaríamos na comunidade para essa atividade.  Perguntamos pelo Irmão Francisco, uma das grandes lideranças da luta pela conquista da terra; comandou um movimento alguns anos atrás que conseguiu reunir toda comunidade para expulsar a Suzano das terras de propriedade da associação, Irmão Francisco estava a serviço em suas vendas pelos lados da Boa União e Jabuti, trabalhando para sustentar sua família. Antes da refeição Mayron pediu atenção para algumas palavras a respeito da luta e o título da terra -, agradecendo por aquela ocasião que pretendia ajudar e fortalecer mais ainda a comunidade, foi apenas a primeira grande vitória, mas o desenvolvimento vem com o empenho dos companheiros de batalhas, os projetos, o assentamento para as famílias continuar trabalhando em seu lugar e produzindo como forma de desenvolvimento sustentável e solidário. Telma e  Chico da Cohab também fizeram seus acentos em solidariedade  ao Bracinho. A galinha foi preparada com carinho e estava ótima. A associação do Bracinho recebeu do ITERMA um dos maiores títulos de terras devolutas do estado dos últimos anos no Maranhão (3.390 hectares). A entrega aconteceu no dia 30 de Dezembro de 2014 juntamente com o da Lagoa das Caraíbas -, município de Santa Quitéria. Depois do almoço teve uma pequena reunião para tratar de projetos futuros onde as associações de Bracinho e São Raimundo trabalharão em parceria para o avanço da região. Despedimo-nos da companheirada e fomos para o São Raimundo, adentramos pelas chapadas do Bom Princípio, pois diga-se de passagem, considero uma das mais belas da Região do Baixo Parnaíba pela preservação e biodiversidade, muito pequi,  o carro parou debaixo dos pés e a negada não perdia tempo... desceram apavoradamente na disputa dos pequis, muitos deles estavam estragados e mochos. Encheram as sacolas e os sacos, uma fartura, só não vimos bacuris – esse é mais caro e disputado em todo lugar.
Descemos no Bom Princípio, visitamos casas de amigos, fomos presenteados com bacuris. Só eu que não ganhei nada, deixa pra lá, brincadeira! Voltamos pelo velho caminho e paramos no São Raimundo para a finalizar a expedição, Mayron, Edimilson e Chico compraram suas galinhas caipira do pai da Francisca, o motora já muito apressado para participar do primeiro baile de carnaval teve que aguardar a pelação das galinhas e do capote que gritavam na faca do Chico da Cohab -, achamos até que ele era especialista na área ou talvez já tinha trabalhado em alguma granja. O certo é que enquanto aguardávamos o termino do trabalho da Francisca fomos servidos com um saboroso suco de bacuri para matar o calor. A tarde foi passando rápido, tínhamos que chegar a tempo do pessoal voltar para São Luís. Chico averiguou a documentação da associação da Francisca, orientou-a sobre as certidões negativas e me falou que voltaríamos na região para outras tarefas a respeito desses documentos do São Raimundo e Bracinho. Demos adeus a Francisca  e saímos apressados rumo a Boa União, passando pelo Projetos de Assentamentos: Estiva, Mangabeira e Primavera; correndo pelos destinos de Santana, Ingá, Baixa do Cocal, cruzamos a estrada que passamos na ida e dobramos para o Cajueiro com o intuito de entregar a forrageira do projeto de galinha caipira do Fórum Carajás na casa do Edilson.  Ele não estava, mas sua irmã recebeu e falou que o projeto está andando bem, já construíram a casa e cercaram, faltando alguns detalhes para a compra dos pintos e início da criação. O tempo voava, pegamos a estrada para Urbano Santos. Em fim chegamos, o pessoal do fórum ligeiramente embalaram seus materiais, despediram-se da mãe e do pai e tiraram pra fora.
Aquele dia foi cansativo, mas cheio de aprendizagens pelas comunidades do Baixo Parnaíba. As chapadas, as pessoas, a culinária do interior. As comunidades são independentes para crescer, para avançar, são donas de seus próprios destinos, precisam apenas de orientações no combate ao impacto ambiental e defesa de seu território, tem que barrar o agronegócio principalmente as grilagens da Suzano que vem sugando nossos bens naturais (terra e água), as comunidades não podem de maneira alguma ser intimidadas pelos gaúchos safados que matam seus animais (jumentos, cavalos, bois, porcos e tudo que passa perto de seus cercados) eles querem amedrontar nossos camponeses, mas não vão conseguir -, vão embora seus Gaúchos junto com a Suzano, aqui não é de vocês, o Baixo Parnaíba é das COMUNIDADES TRADICIONAIS! A chapada equilibra nossas vidas, a biodiversidade do cerrado baixoparnaibense é única e incomparável. A aventura de desbravar as chapadas e visitar os povoados, os nossos amigos e amigas... acredito que nos deixou com a sensação de dever cumprido.  
 








José Antonio Basto
Pesquisador e Militante em Defesa dos Direitos Humanos
(98) 98890-4162




sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

CANTO DE FORMAÇÃO


I
Meu canto formado
Dedico agora,
Ao público que houve
Aqui nesta hora
Neste sindicato
Fazendo história.

II
Estudando a cartilha
Da formação...
Na luta incessante
Aperfeiçoando a gestão
Levando a mensagem
De uma boa lição.

III          
Aprendendo o PES
Pra sempre avançar!
No campo ao trabalho
A guerra ganhar...
Defendendo a classe
E a vitória alcançar.
IV
Levando conhecimentos
Às bases rurais...
Aos nossos irmãos
Das matas aos cocais
Com esta ideologia
Bem prática e demais!

V
Correndo no campo
Nas asas classistas
De nossa central (CTB)
Almejando conquistas
Na Reforma Agrária
Ao seio ruralista.

VI
Levando em conta
A economia...
Da agricultura
De tantas valias
Produtos da roça
Do nosso dia-a-dia.
VII
Novos desafios...
Já estão chegando
Para nossas vidas
Na luta avançando
Batalha renhida
Com o futuro sonhando.

VIII
Meus caros amigos (as)
Planejam o projeto
Com muita UNIÃO
De forma concreta
Com seus objetivos,
Ofícios e metas.

IX
Nós da CTB
Basto e Benedita
Aprendemos também
O que aqui fica...
Em nossos corações
Nada mais explica!

X
Salve nossas glórias
Num plano formal
Salve as cidades
E o mundo rural
Unindo as forças
Do MOVIMENTO SINDICAL.

• Essa mensagem é especialmente dedicada a todos (as) participantes do I CURSO DE GESTÃO SINDICAL E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL, realizado no SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE ZÉ DOCA-MA. Uma saudação a toda diretoria e membros como os delegados (as) sindicais, funcionários (as) e todo corpo deliberativo da entidade. Acentuamos ainda com especialidade a extrema competência e dedicação da PROFESSORA E SECRETÁRIA DE FORMAÇÃO DA CTB-MA, BENEDITA em nos passar de forma clara, explicita e dinâmica seus conhecimentos.
Grande abraço do modesto autor,

José Antonio Basto
- Poeta e colaborador de formação de base em Reforma Agrária da CTB-MA.
ZÉ DOCA-MA, 07 de Fevereiro de 2015

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A experiência de trilhar as terras dos índios Awa-Guajá na região do Alto Turiaçú.


Uma das minhas maiores e mais importantes experiências nesses meus tempos de militância nos direitos humanos em defesa da vida foi a visita à aldeia dos índios Awa-Guajá na região do Alto Turiaçú no noroeste do Maranhão nas proximidades do Município de Zé Doca, uma área que restou da Floresta Amazônica do Maranhão, lá vivem pouco mais de 300 pessoas, além de outros grupos nas adjacências que ainda estão isolados e sem contato como o homem branco. No Território Indígena dos Awa-Guajá residem um dos últimos povos nômades caçadores e coletores do planeta, por isso são especiais.
Viajei para o município de Zé Doca a convite da Professora Benedita Secretária de Formação da CTB/MA (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) que coordenaria um curso de formação para os membros da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais daquele município. Sai de Urbano Santos mais ou menos as seis e meia da manhã do dia 05/06 e encontrei a professora nas imediações de Itapecuru-mirim que já vinha de São Luís. Seguimos viagem passando pelas cidades de Miranda, Arari, Santa Inês e outros municípios; região aquela de muitas fazendas de criação de gado na beira da BR-316, motivo esse pelo qual acontece sempre muitos conflitos fundiários, causando então diversos assassinatos de camponeses, ambientalistas, sindicalistas e índios vítimas dos problemas frequentes de pistolagem. Uma distancia significativa que levou mais de duas horas e meia para chegarmos a Zé Doca. Ao chegar fiquei hospedado na sede do STTR e ainda dia 05, ajudei na formação contribuindo com os dados dos programas para Reforma Agrária do Governo Federal e fazenda análise de conjuntura sobre os problemas de conflitos agrários e socioambientais naquela região do Alto Turiaçú, sendo aquela faixa uma das campeãs desse fenômeno. Com isso o dia passou, dormi bem, porque estava cansado da viagem e das tarefas. Na manhã seguinte 06/02, viajei para as aldeias onde fui convidado pelo pessoal da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e CIMI (Conselho Indigenista Missionário) que estavam com uma programação marcada para uma expedição às terras dos Awa-Guajá, pois no dia anterior fiz amizade com a companheirada que do qual faziam parte da missão. A ideia era ajudar a coletar dados nas comunidades indígenas que estavam sob ameaças de fazendeiros, garimpeiros e madeireiros ilegais na região das florestas. Saímos cedo nas toyotas que a Diocese de Zé Doca fretou para as atividades. Adentramos os caminhos na mata, roncava-se os motor-serras destruindo a quase escassa Amazônia Maranhense. Depois de algumas horas de viagem começaram a aparecer as primeiras aldeias Awas, impressionado tirei algumas fotos. Paramos num posto da FUNAI para informações, os organizadores da atividade foram na frente para conversar com as lideranças indígenas. Enquanto isso perguntei se podia visitar as casas deles, um índio guia foi comigo que ao mesmo tempo explicava sobre a situação precária de sua gente, os desmandos da lei, a impunidade dos criminosos que assolam seu povo. Muitas crianças, umas com papagaios e macacos domesticados. Muito legal presenciar pela primeira vez o dia-a-dia cultural de uma tribo indígena. Os Awá-Guajá como são caçadores e coletores precisam diretamente da floresta. A caça é mantida como base de sua vida social e determina o padrão de ocupação tradicional do território. Segundo algumas fontes de pesquisas ainda hoje, os Awá-Guajá recém contatados conhecem e dominam o território com base nos caminhos de caça pela mata fechada. Precisam, portanto, de florestas vastas e ambientalmente íntegras, sem as quais não poderão manter sua reprodução física e cultural.
Com base no problema dos madeireiros e os vários casos de conflitos, o Governo Federal mandou o Exército Nacional para intervir no território dos Awa-Guajá tirando todos os não índios da área. Os trabalhos do Exército nas guaritas e pontos que demarcam o território tem sido fundamental para a proteção de um dos mais importantes povos indígenas que lutam pela preservação ambiental, social e cultural de seus ancestrais. Voltamos pra cidade de Zé Doca já quase a noite, mas com a consciência de dever comprido e a alegria de ter contribuído para a concretização de uma causa justa, deixando então nossas solidariedades ao bravo povo Awa-Guajá.
 








José Antonio Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
 (98) 98890-4162