Foi a convite do companheiro Mayron Regis e
do Edimilson, ambos dos Fórum Carajás, chegaram em Urbano Santos no inicio da
noite do dia 13/02, sábado –véspera do carnaval, para a realização de uma
missão antes planejada. Com eles veio também um outro velho amigo de armas,
ideologias e lutas no cerrado, Chico da Cohab de Chapadinha com o intuito de
conhecer pela primeira vez as chapadas do Bracinho, Bom Princípio e São Raimundo. O almoço que
celebrou a conquista da posse da terra do Povoado Bracinho não foi por acaso,
pois há tempos havíamos programado por intermédio da Francisca do São Raimundo,
uma vez que direta ou indiretamente outrora fizemos parte dessa luta.
A viagem foi no dia seguinte pela manhã
14/02, o carro que o Wilson tinha arranjado não chegava, tínhamos que sair no máximo às 08:00h pra chegarmos cedo. O problema
foi resolvido quando conseguimos fretar as carreiras outro transporte do Sr.
Chiquinho. Então seguimos viagem cortando as estradas pelas comunidades Bacaba,
Cacimbinha, Palmeirinha, Mangabeirinha, Lagoa dos Costa e Bom Fim, fiz questão
de ir na carroceria, uma vez que já não me cabia mais na cabine, pois além do
Mayron, Chico da Cohab e Edimilson foi também conosco a Telma e a Francisca. Nem
me importei, pois dali apreciaria mais ainda a paisagem das chapadas, o que
incomodou foi apenas o sol que ardia nos couros. Após passarmos o Bom Fim, o
guia não lembrava da estrada que saia no Bebedouro, portanto o carro andava por
um caminho estreito sem saída -, acabamos voltando pelo mesmo lugar. Em fim
acertamos o caminho do Bebedouro, o carro atravessou as fontes onde as mulheres
lavavam roupas e os meninos brincavam no riacho. O Bracinho que era nosso
destino ainda estava um pouco longe, mas não muito. Chegamos lá e fomos
recebidos com muito respeito e cortesia pelo João - atual presidente da
associação, já era meio dia e o almoço foi servido, a fome era devoradora
somando-se com o cansaço. Galinha caipira, pois a filha da Francisca tinha
avisado alguns dias atrás que estaríamos na comunidade para essa
atividade. Perguntamos pelo Irmão
Francisco, uma das grandes lideranças da luta pela conquista da terra; comandou
um movimento alguns anos atrás que conseguiu reunir toda comunidade para
expulsar a Suzano das terras de propriedade da associação, Irmão Francisco
estava a serviço em suas vendas pelos lados da Boa União e Jabuti, trabalhando
para sustentar sua família. Antes da refeição Mayron pediu atenção para algumas
palavras a respeito da luta e o título da terra -, agradecendo por aquela
ocasião que pretendia ajudar e fortalecer mais ainda a comunidade, foi apenas a
primeira grande vitória, mas o desenvolvimento vem com o empenho dos
companheiros de batalhas, os projetos, o assentamento para as famílias
continuar trabalhando em seu lugar e produzindo como forma de desenvolvimento
sustentável e solidário. Telma e Chico
da Cohab também fizeram seus acentos em solidariedade ao Bracinho. A galinha foi preparada com
carinho e estava ótima. A associação do
Bracinho recebeu do ITERMA um dos maiores títulos de terras devolutas do estado
dos últimos anos no Maranhão (3.390 hectares). A entrega aconteceu no dia
30 de Dezembro de 2014 juntamente com o da Lagoa das Caraíbas -, município de
Santa Quitéria. Depois do almoço teve uma pequena reunião para tratar de
projetos futuros onde as associações de Bracinho e São Raimundo trabalharão em
parceria para o avanço da região. Despedimo-nos da companheirada e fomos para o
São Raimundo, adentramos pelas chapadas do Bom Princípio, pois diga-se de
passagem, considero uma das mais belas da Região do Baixo Parnaíba pela
preservação e biodiversidade, muito pequi, o carro parou debaixo dos pés e a negada não
perdia tempo... desceram apavoradamente na disputa dos pequis, muitos deles
estavam estragados e mochos. Encheram as sacolas e os sacos, uma fartura, só
não vimos bacuris – esse é mais caro e disputado em todo lugar.
Descemos no Bom Princípio, visitamos casas
de amigos, fomos presenteados com bacuris. Só eu que não ganhei nada, deixa pra
lá, brincadeira! Voltamos pelo velho caminho e paramos no São Raimundo para a
finalizar a expedição, Mayron, Edimilson e Chico compraram suas galinhas caipira
do pai da Francisca, o motora já muito apressado para participar do primeiro
baile de carnaval teve que aguardar a pelação das galinhas e do capote que
gritavam na faca do Chico da Cohab -, achamos até que ele era especialista na
área ou talvez já tinha trabalhado em alguma granja. O certo é que enquanto
aguardávamos o termino do trabalho da Francisca fomos servidos com um saboroso
suco de bacuri para matar o calor. A tarde foi passando rápido, tínhamos que
chegar a tempo do pessoal voltar para São Luís. Chico averiguou a documentação
da associação da Francisca, orientou-a sobre as certidões negativas e me falou
que voltaríamos na região para outras tarefas a respeito desses documentos do
São Raimundo e Bracinho. Demos adeus a Francisca e saímos apressados rumo a Boa União,
passando pelo Projetos de Assentamentos: Estiva, Mangabeira e Primavera;
correndo pelos destinos de Santana, Ingá, Baixa do Cocal, cruzamos a estrada
que passamos na ida e dobramos para o Cajueiro com o intuito de entregar a
forrageira do projeto de galinha caipira do Fórum Carajás na casa do Edilson. Ele não estava, mas sua irmã recebeu e falou
que o projeto está andando bem, já construíram a casa e cercaram, faltando
alguns detalhes para a compra dos pintos e início da criação. O tempo voava,
pegamos a estrada para Urbano Santos. Em fim chegamos, o pessoal do fórum
ligeiramente embalaram seus materiais, despediram-se da mãe e do pai e tiraram
pra fora.
Aquele dia foi cansativo, mas cheio de
aprendizagens pelas comunidades do Baixo Parnaíba. As chapadas, as pessoas, a
culinária do interior. As comunidades são independentes para crescer, para
avançar, são donas de seus próprios destinos, precisam apenas de orientações no
combate ao impacto ambiental e defesa de seu território, tem que barrar o
agronegócio principalmente as grilagens da Suzano que vem sugando nossos bens
naturais (terra e água), as comunidades não podem de maneira alguma ser
intimidadas pelos gaúchos safados que matam seus animais (jumentos, cavalos,
bois, porcos e tudo que passa perto de seus cercados) eles querem amedrontar
nossos camponeses, mas não vão conseguir -, vão embora seus Gaúchos junto com a
Suzano, aqui não é de vocês, o Baixo Parnaíba é das COMUNIDADES TRADICIONAIS! A
chapada equilibra nossas vidas, a biodiversidade do cerrado baixoparnaibense é
única e incomparável. A aventura de desbravar as chapadas e visitar os
povoados, os nossos amigos e amigas... acredito que nos deixou com a sensação
de dever cumprido.
José Antonio Basto
Pesquisador e Militante em Defesa dos Direitos Humanos
Email: bastosandero65@gmail.com
(98) 98890-4162
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