quarta-feira, 19 de julho de 2023

A chuva não atrapalhara a visita

A primeira reunião não dera certo. Não por causa da chuva, foi pelo contratempo. Estava quase tudo certo para a reunião do Fórum Carajás no P.A Baixão / Bacaba, zona rural de Urbano Santos. Os membros do Fórum Carajás conversariam com os moradores do assentamento naquele dia, com o intuito de ajudá-los através de um pequeno projeto de galinha caipira financiado pela ONG – “ASW da Alemanha”. Esses projetos espalhados por toda região do Baixo Parnaíba tem como principal objetivo fortalecer a renda familiar e a segurança alimentar das famílias camponesas – principalmente aquelas que vivem próximos às plantações de eucaliptos e soja - vítima do impacto direto do agronegócio. Visam também dá uma injeção de ânimo naqueles que lutam pela permanência física e cultural em seus territórios tradicionais, ou melhor dizendo, os que lutam pela terra. Uma iniciativa muito importante onde se trabalha com pouco, mas o suficiente para levantar e manter erguida a bandeira da agroecologia na região. Os desafios são grandes; experiências que dão certo e as vezes não. A intenção de ajudar os menos favorecidos gera “ciúmes” em alguns momentos, em algumas situações. Entidades como o Fórum Carajás são consideradas importantes para as comunidades tradicionais, outra reunião fora marcada com o mesmo objetivo. Informar aos assentados do Baixão/ Bacaba sobre a situação da realidade agraria no Brasil. Os problemas de acesso aos projetos para assentados e assentadas da Reforma Agrária. Conversaríamos sobre a questão do “Programa Minha Casa Minha Vida Rural”, donde eles tem demandas. É só uma questão de tempo. Além do Programa “Pronaf Mulher” e Projeto Agroextrativista  na Reserva Ecológica separada pelo INCRA – obedecendo a lei. A Comunidade Baixão dos Loteros tem uma historia  voltada para a colonização dessas terras, assim como a maioria das comunidades tradicionais habitadas por sertanejos há séculos neste pedaço de chão que é o Baixo Parnaíba maranhense. Quando o Baixão começou a ser colonizado partiu da construção de um curral para botar gado, depois veio a casa de fazenda que foi feita por uma das “famílias influentes”. Conta-se que possivelmente fora um “Quilombo de Negros” escravizados no passado. Por ficar em uma área estratégica entre a chapada e a mata – por onde passa um riacho batizado com o mesmo nome do povoado. Ali se desenvolvera a cultura de criação de gado e a produção de farinha – esta ultima, permanecendo e transformando o Baixão  em um vilarejo dos mais respeitados na fabricação de farinha de puba em Urbano Santos. Os conflitos sempre existiram nesta região. O saudoso Nonato Valentim na década de 80 foi um dos líderes da luta pela terra. Período esse um tão pouco difícil por ser ainda na ditadura militar. Os Camponeses tinham o apoio das Comunidades Eclesiais de Base  - (CEBs), que até então surgia na historia como um “Novo Sujeito Popular” e orientação sociopolítica e religiosa da Igreja Católica. A história se contradiz nas entrelinhas de quem a escreve. Poucos se escreve sobre conflitos fundiários – muito menos colocando o campesinato como figura importante no cenário político de transformação social e econômica. Mas na verdade quem assegura o alimentando na mesa dos brasileiros? Quem protege o pouco que resta das matas e cabeceiras de rios? Quem está preocupado com a água que abastece as comunidades e as cidades? A agricultura tem ajudado no entendimento de muitos em saber que a saída para melhoria de nossas vidas é a conquista, ocupação e produção da terra. Reunião dera certo – 27/02/2019. Avisava-se com tempo. Apesar da chuva foi possível uma reunião com os moradores do Baixão dos Loteros. Para melhores esclarecimentos sobre a vida da comunidade e a parceria de ajudar nesse processo de solidariedade e esperança.

 

José Antônio Basto

       

terça-feira, 20 de junho de 2023

Pelas trilhas do assentamento

     Pensava-se num trabalho, um tão quanto literário –, quase crítico, mas não tanto assim. O “Programa Jovem Saber” da Contag e Fetaema – em parceria com os STTRs, convidara-nos para uma pequena pesquisa na casa de um morador do “P.A – Projeto de Assentamento do Povoado Estiva da Mangabeira”, em Urbano Santos, Baixo Parnaíba maranhense. Friviar por aquelas bandas é relembrar o passado histórico do processo de dominação das terras de famílias influentes que detinham do poder cartorial e da estrutura agrária herdada pelos portugueses desde o império do Brasil - para suas elevações econômicas. Pois terra sempre foi sinônimo de capital e poder. Isso é fato.

    Três companheiros seguiram numa manhã cedo de inverno para desenvolver as pesquisas e aproveitar para visitar velhos amigos de lutas durante o percurso. Eram seis horas da manhã, quando o carro buzinava convidando para seguir cortando os povoados: “Bacaba, Frankylândia, Palmeirinha, Cacimbinha, Baixa do Cocal I e II, Ingá, Santana, São Felipe, Primavera, Mangabeira Velha até Estiva da Mangabeira (Fazenda São Paulo). O “6º Módulo de estudo do Programa Jovem saber”, convidou-nos para uma experiência sistemática, prática e teórica sobre o entendimento do processo de Reforma Agrária no município onde vivemos, suas indiferenças, sonhos e utopias. Um romantismo pregado que se alicerça no pensamento e que algum dia possa chegar como direitos, poeticamente no canto: “Nosso direito vem”.. [...]. Convidava para uma reflexão sobre a participação da juventude na “política de sucessão rural”. Na participação como agentes sucessores da Reforma Agrária, críticos e voluntários de um trabalho de seus avós que começaram há muito tempo atrás e que eles devem entender sobre a continuação desta obra. As brigas de terra para aquelas bandas e em toda região próximas ao rio preguiças são bem antigas – porque remontam o ciclo das fazendas de cana; assim também como em boa parte dos territórios que ligavam as estradas de acesso à cidade de Brejo e Vila de Miritiba. Na narrativa que se tratava das primeiras lutas na área que foi desapropriada pelo Incra, retrata a resistência dos trabalhadores rurais em não aceitar a pagar mais uma parte de sua produção para os donos da terra. O capítulo é bem antigo desde a habitação dos caboclos sertanejos na época da Balaiada em meados do século XIX. Mas só começaram de fato se organizar na luta pela terra na década de 60 e 70 – anos esses em que o “movimento camponês” ganhava notoriedade no cenário nacional, principalmente no Nordeste, sendo esta, a mais velha categoria e movimento - MSTTR, que tardou tanto para se organizar. Isso vale lembrar a grande participação dos padres e o papel da Igreja Católica na MEB – (Movimento de Educação de Base) e da fundação das CEBs - (Comunidades Eclesiais de Base) – no leste maranhense. A luta organizada dos camponeses resultou depois de quinze e vinte anos na desapropriação do complexo de “Assentamento Mangueira / Data Mangabeira” na década de noventa. Foi o inicio de uma batalha que deu os primeiros passos com relação à posse da terra e a construção de pequenas e rudimentares casas para as famílias cadastradas. O morador o qual nos recebeu falava do problema da comunicação social naquela época, que para se deslocar até a cidade de Urbano Santos ou tinha que ir a pé ou de animal... na maioria das vezes andavam de trinta a quarenta quilômetros para resolver seus negócios na cidade. Ele faz uma autocrítica sobre a realidade da reforma agraria, que não é apenas nos assentamentos de Urbano Santos, mas em todo país – principalmente agora com o retrocesso de transformações politicas do atual governo central: “No Brasil não existe reforma agrária, existe apenas uma pequena política de assentamentos fundiários e agora infelizmente ameaçado, explica”. Dá-se ao entender que no entendimento daquele assentado a reforma agraria não é simplesmente assentar famílias camponesas no meio da chapada seca sem água e sem assistência técnica para a agricultura, sem os meios necessários para sobreviver. Deve no mínimo se ter infraestrutura básica, saúde, assistência técnica, educação e outras politicas de desenvolvimento social que completam o verdadeiro sentido da Reforma Agraria, que estão muito longe de nossa realidade.

    A família mora e produz na terra: pimenta malagueta, coco da praia, farinha de puba e criam pequenos animais para a alimentação. Sobre as laterais da casa tem um grande morro com árvores preservadas, além de um riacho de águas claras que passa na frente da moradia. O trabalho foi concluído até meio dia. Será editado e enviado para a coordenação da Fetaema e em seguida para a Contag para avaliação. Foi muito válido o aprendizado para conhecer mais de perto a realidade da historia do assentamento. Página essa que as vezes, ou talvez, a maioria dos moradores não conhecem. Voltamos pela mesma trilha com mais uma das tantas tarefas cumpridas.

 

José Antonio Basto