sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

PASSAGEM DO VIAJANTE PELA SEDE DA CIDADE DE URBANO SANTOS PARA UM DEDO DE PROSA COM OS AMIGOS

O Viajante acordara de um longo e cansativo sono existencial. Ele vinha das das bandas das terras dos campos arenosos de Humberto de Campos por aquelas estradas cheias de lagoas. Saia de Santo Amaro e Primeira Cruz - pela zona rural, lembrando os antigos caixeiros nordestinos dos tempos passados. Praticara o caminho pela "Lagoa do Casso", por ser um final de semana, tinha uma grande aglomeração de banhistas naquele importante ponto turístico. Caminhava com seu "alforje de caçador" -, um surrão de pano com livros e outros papéis - documentos bem antigos; tinha também alimentos para as horas difíceis; parava de povoado em povoado para pedir um copo de água e as vezes um punhado de farinha, nada foi lhe negado pelos camponeses que ouviram falar de suas aventuras. Por causa da "Pandemia", seguiu caminho afora pela Comunidade Vertente de Baixo. Chegara na sede da cidade e procurava o Mercado Central de Urbano Santos, mais conhecido como Centro de Abastecimento de Alimentos. Ele conversava com amigos companheiros - estes, porventura moradores da Vertente, antes passara em "Mocambinho dos Balaios" e Vertente de Cima -, sendo estas, duas áreas de terra com o mesmo nome e reconhecimento. O Estado ainda deve demarcar estas terras, assim favorecendo os moradores com seus títulos de posseiros e arrecadações sumárias. Uma família tradicional de posseiros mantiveram o direito de propriedade com o documento do Título Comunitário, reconhecido pelo ITERMA e órgãos fundiários de outrora. Vertente de Baixo e Vertente de Cima São dois povoados em um só, de uma mesma família de posseiros tradicionais. A faixa de terra pega uma grande área de chapadas, carrascos e matas por onde desce o Rio Mucambo com seus riachos e afluentes. Vertente possivelmente fora um quilombo no passado, pelos vestígios e modos de vida dos moradores. A conversa fluía num boteco que fica em um dos bosques dentro do mercado, cujo dono do ambiente era um velho morador de Vertente de Cima. Ele disse que constantemente assina "Declaração de Proprietário" - para o reconhecimento do exercício de atividade rural daquela gente que as vezes precisam para requerimentos de benefícios previdenciários. Um momento a parte, modesto... quando se trata de benefícios da Previdência Social, principalmente neste momento conturbado da história do país e da perdas de direitos. O Viajante passeava pelas bancas do mercado por gostar de feira e do cheiro de peixe seco; conversava com cada um dos feirantes, mototaxistas, peixeiros e outros trabalhadores. Percebera de tudo, o que estava sendo comercializado ali, produtos da terra e regionais: mel de abelha, tiquira, cachaça, coco babaçu e da praia, camarão, farinha seca e de puba, grolado, azeite, macaxeira, juçara, galinha caipira, leitões, carne de bode e até uma banca de "livretos de cordel". A movimentação na feira de Urbano Santos é grande, em especial aos "dias de quinta", o povo acostumou fazer suas compras especificamente neste dia. A cada momento o Viajante falava com um conhecido, pegava na mão de um amigo, tocava no ombro de outro - cumprimentava-os com respeito e grande dedicação e, quase sempre as mesmas perguntas eram lhes dirigidas: "Por onde andara todo esse tempo, pelas matas e povoados?" Um peregrino aventureiro, desbravador do sertão e de lugarejos, fazedor de amizade com todo mundo. O Viajante demorou na cidade, quase o dia todo e ao se aproximar a noite partira na sua missão rumo às fronteiras do "Rio dos Pretos". De fato cumprira ali, por mera conscidencia do destino mais uma vez seu simples ofício e papel de repórter que tende registrar com palavras escritas as coisas simples da vida, sempre com humildade e respeito. 

 

José Antonio Basto

julho - 2020

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Respeito

Respeito é algo extraordinário

Quando se tem se respeita

Quando se faz, se sujeita

Além do imaginário. 


Respira-se no respeito

Quando se tem humildade

Na prática do dia a dia

Na fala da sinceridade.


Respeitar os atos dos outros 

Em qualquer ocasião...

Podendo até não gostar

De qualquer que for a ação.


Até nas guerras se respeita

O lado do inimigo...

Quando é pego prisioneiro

Encurralado em perigo.


Nas guerras se travam batalhas

Mas também se descansa

Apesar do sangue e pólvora, 

Apesar do fogo e a lança.


O animal silvestre respeita

E pode se comunicar

Além disso dá lições 

Ao que sabe raciocinar.


Respeito é essencial 

Quando porém não se engana

Respeito é a maior virtude 

Dessa triste raça humana. 


José Antonio Basto

sábado, 6 de fevereiro de 2021

O capão do capão

 


Era cedo, mais ou menos seis horas de uma manhã de domingo. O Viajante partia para as bandas do norte desse grande Baixo Parnaíba. Ele saia da cidade de Urbano Santos, onde se encontrava hospedado. Certa vez quando esteve  em reunião com os camponeses do Povoado "Capão" - pra falar de reforma agrária e questões ambientais, acontece que a família trabalhadora rural a qual ele ficara na casa, lhe prometera um "capão caipira" (galinha caipira). Aquela promessa não saiu da cabeça do Viajante, inundava o pensamento. A motocicleta adentrava as estradas de Lagoinha - atravessando chapadas e carrascos. Parava-se aqui e acolá para um gole de água de cabaça. Descia num vilarejo bem afastado da civilização às margens da cabeceira do rio boa hora, era o Povoado Riachinho, vizinho do Capão. Uma comunidade quilombola que se formou há muito tempo, poucos sabem que Riachinho é quilombola, nem mesmo seus moradores sabem da história, porque não preservam a história oral contada pelos mais velhos, pois muitos já partiram. A maioria daqueles trabalhadores também não sabem ler, nem mesmo os jovens, porque vivem isolados... Um modo de vida? Sim. Respeitável. Ali tinha uma ponte de madeira que ligava o Riachinho ao Povoado Surrão, por onde a estrada era melhor de chegar ao  Capão. Então o Viajante praticou essa estrada pelas Cajazeiras, São Cosme até chegar ao ponto final. O sol já estava alto... Era tempo de bacuri, ainda ao entrar no vilarejo ouvia-se a zoada  da quebra de bacuri e o cheiro das paneladas de pequi. As famílias estavam reunidas numa casa de forno, batendo papo, quebrando bacuri... Enquanto algumas mulheres se ocupavam fazendo beijú de tapioca com coco babaçú. A animação era grande, vários assuntos surgiam: pescaria, roças, vaqueiros, criações, preços altos de mercadorias nos tempos de Pandemia do Coronavirus... Em fim... Era um domingo de lazer aos seus modos. Quando o Viajante chegava e desmontava da moto com sua bolsa e jaqueta do exército nacional, algumas crianças foram até ele, puxavam sua jaqueta e metia as mãos nos bolsos pra ver se conseguiam algumas balas. Ele foi até uma budega, (pequeno estabelecimento comercial) e comprou balinhas para a meninada. Ainda pretendia voltar cedo para casa, mas uma missão de informar e se informar sobre as questões agrárias da terra lhe prendia a atenção. Os recantos e tradições da arquitetura das casinhas de taipa e cobertas de palha do Povoado Capão lembra os quilombos. Talvez lá seja realmente uma comunidade quilombola. Pela localização do vilarejo ao pé da chapada e de difícil acesso. O Viajante passara lá há algum tempo atrás e um dos amigos moradores lhe prometera este capão criado no povoado capão. Um projeto de manejo de criação de frangos caipiras foi o fio que ligou esta amizade entre o escritor /desbravador e aquela família camponesa.

 

José Antonio Basto