sábado, 6 de fevereiro de 2021

O capão do capão

 


Era cedo, mais ou menos seis horas de uma manhã de domingo. O Viajante partia para as bandas do norte desse grande Baixo Parnaíba. Ele saia da cidade de Urbano Santos, onde se encontrava hospedado. Certa vez quando esteve  em reunião com os camponeses do Povoado "Capão" - pra falar de reforma agrária e questões ambientais, acontece que a família trabalhadora rural a qual ele ficara na casa, lhe prometera um "capão caipira" (galinha caipira). Aquela promessa não saiu da cabeça do Viajante, inundava o pensamento. A motocicleta adentrava as estradas de Lagoinha - atravessando chapadas e carrascos. Parava-se aqui e acolá para um gole de água de cabaça. Descia num vilarejo bem afastado da civilização às margens da cabeceira do rio boa hora, era o Povoado Riachinho, vizinho do Capão. Uma comunidade quilombola que se formou há muito tempo, poucos sabem que Riachinho é quilombola, nem mesmo seus moradores sabem da história, porque não preservam a história oral contada pelos mais velhos, pois muitos já partiram. A maioria daqueles trabalhadores também não sabem ler, nem mesmo os jovens, porque vivem isolados... Um modo de vida? Sim. Respeitável. Ali tinha uma ponte de madeira que ligava o Riachinho ao Povoado Surrão, por onde a estrada era melhor de chegar ao  Capão. Então o Viajante praticou essa estrada pelas Cajazeiras, São Cosme até chegar ao ponto final. O sol já estava alto... Era tempo de bacuri, ainda ao entrar no vilarejo ouvia-se a zoada  da quebra de bacuri e o cheiro das paneladas de pequi. As famílias estavam reunidas numa casa de forno, batendo papo, quebrando bacuri... Enquanto algumas mulheres se ocupavam fazendo beijú de tapioca com coco babaçú. A animação era grande, vários assuntos surgiam: pescaria, roças, vaqueiros, criações, preços altos de mercadorias nos tempos de Pandemia do Coronavirus... Em fim... Era um domingo de lazer aos seus modos. Quando o Viajante chegava e desmontava da moto com sua bolsa e jaqueta do exército nacional, algumas crianças foram até ele, puxavam sua jaqueta e metia as mãos nos bolsos pra ver se conseguiam algumas balas. Ele foi até uma budega, (pequeno estabelecimento comercial) e comprou balinhas para a meninada. Ainda pretendia voltar cedo para casa, mas uma missão de informar e se informar sobre as questões agrárias da terra lhe prendia a atenção. Os recantos e tradições da arquitetura das casinhas de taipa e cobertas de palha do Povoado Capão lembra os quilombos. Talvez lá seja realmente uma comunidade quilombola. Pela localização do vilarejo ao pé da chapada e de difícil acesso. O Viajante passara lá há algum tempo atrás e um dos amigos moradores lhe prometera este capão criado no povoado capão. Um projeto de manejo de criação de frangos caipiras foi o fio que ligou esta amizade entre o escritor /desbravador e aquela família camponesa.

 

José Antonio Basto

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