sábado, 19 de setembro de 2020

GALINHA CAIPIRA NO ALMOÇO


Como os ancestrais faziam
Em velhos tempos de outrora
A galinha caipira...
Que ficara na historia.

De culturas e sabores
Com temperos de cercado
Matando a fome do povo
Através de um bocado.

Criada na capoeira...
Biliscando as sementes
De milho, arroz e feijão 
Que mata a fome da gente.

A galinha capira...
Na panela do fogão
No braseiro cozinhando
Sobre o calor do carvão.

Agora vai para os pratos
Costela, asa e pescoço...
Nascida deste poema
Na cantiga de um almoço.

José Antonio Basto

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

PASSAGEM DO VIAJANTE PELA SEDE DA CIDADE DE URBANO SANTOS PARA UM DEDO DE PROSA COM OS AMIGOS

O Viajante acordara de um longo e cansativo sono existencial. Ele vinha das bandas das terras dos campos arenosos de Humberto de Campos, por aquelas estradas cheias de lagoas. Saia de Santo Amaro e Primeira Cruz - pela zona rural, lembrando os antigos caixeiros nordestinos dos tempos passados. Praticara o caminho pela "Lagoa do Casso", por ser um final de semana, tinha uma grande aglomeração de banhistas naquele importante ponto turístico. Caminhava com seu "alforje de caçador" -, um surrão de pano com livros e outros papéis - documentos bem antigos; tinha também alimentos para as horas difíceis; parava de povoado em povoado para pedir um copo de água e as vezes um punhado de farinha, nada foi lhe negado pelos camponeses que ouviram falar de suas aventuras. Por causa da "Pandemia", seguiu caminho afora pela Comunidade Vertente de Baixo. Chegara na sede da cidade e procurava o Mercado Central de Urbano Santos, mais conhecido como Centro de Abastecimento de Alimentos. Ele conversava com amigos companheiros - estes, porventura moradores da Vertente, antes passara em "Mocambinho dos Balaios" e Vertente de Cima -, sendo estas, duas áreas de terra com o mesmo nome e reconhecimento. O Estado ainda deve demarcar estas terras, assim favorecendo os moradores com seus títulos de posseiros e arrecadações sumárias. Uma família tradicional de posseiros mantiveram o direito de propriedade com o documento do Título Comunitário, reconhecido pelo ITERMA e órgãos fundiários de outrora. Vertente de Baixo e Vertente de Cima São dois povoados em um só, de uma mesma família de posseiros tradicionais. A faixa de terra pega uma grande área de chapadas, carrascos e matas por onde desce o Rio Mucambo com seus riachos e afluentes. Vertente possivelmente fora um quilombo no passado, pelos vestígios e modos de vida dos moradores. A conversa fluía num boteco que fica em um dos bosques dentro do mercado, cujo dono do ambiente era um velho morador de Vertente de Cima. Ele disse que constantemente assina "Declaração de Proprietário" - para o reconhecimento do exercício de atividade rural daquela gente que as vezes precisam para requerimentos de benefícios previdenciários. Um momento a parte, modesto... quando se trata de benefícios da Previdência Social, principalmente neste momento conturbado da história do país e da perdas de direitos. O Viajante passeava pelas bancas do mercado por gostar de feira e do cheiro de peixe seco; conversava com cada um dos feirantes, mototaxistas, peixeiros e outros trabalhadores. Percebera de tudo, o que estava sendo comercializado ali, produtos da terra e regionais: mel de abelha, tiquira, cachaça, coco babaçu e da praia, camarão, farinha seca e de puba, grolado, azeite, macaxeira, juçara, galinha caipira, leitões, carne de bode e até uma banca de "livretos de cordel". A movimentação na feira de Urbano Santos é grande, em especial aos "dias de quinta", o povo acostumou fazer suas compras especificamente neste dia. A cada momento o Viajante falava com um conhecido, pegava na mão de um amigo, tocava no ombro de outro - cumprimentava-os com respeito e grande dedicação e, quase sempre as mesmas perguntas eram lhes dirigidas: "Por onde andara todo esse tempo, pelas matas e povoados?" Um peregrino aventureiro, desbravador do sertão e de lugarejos, fazedor de amizade com todo mundo. O Viajante demorou na cidade, quase o dia todo e ao se aproximar a noite partira na sua missão rumo às fronteiras do "Rio dos Pretos". De fato cumprira ali, por mera conscidencia do destino mais uma vez seu simples ofício e papel de repórter que tende registrar com palavras escritas as coisas simples da vida, sempre com humildade e respeito. 


José Antonio Basto
julho - 2020