segunda-feira, 19 de agosto de 2019

A MARCHA QUE GERA FRUTOS: História de luta e resistência camponesa



Início da Marcha - Ala do Maranhão
Foi mais uma jornada cumprida em Brasília-DF neste mês de agosto - 2019; a “Marcha das Trabalhadoras Rurais Agricultoras Familiares” – “Marcha das Margaridas – 2019” – que reuniu mais de 100 mil pessoas, trabalhadoras e trabalhadores do campo, das águas e das florestas. Milhares de mulheres do campo e da cidade foram até a Capital Federal demonstrando sua força e capacidade de mobilização política e social. Mulheres que vieram mostrar que não concordam com a retirada de direitos, que tem consciência política e sabem que é preciso defender a democracia, a justiça, a liberdade e lutar por trabalho digno, educação, saúde e desenvolvimento sustentável e solidário. A viagem foi difícil, todas (os) acordaram antes das 05h da manhã e às 07h já estavam nas ruas, tomando o Eixo Monumental rumo à Esplanada dos Ministérios. Até às 12h, caminharam empunhando com orgulho suas bandeiras, com seus chapéus, suas faixas, suas camisetas e, principalmente, com suas ideias e suas paixões. É preciso muita paixão para fazer a maior manifestação de mulheres da América Latina acontecer com tanto sucesso, paz e, ao mesmo tempo, forte militância.

As vozes clamavam por uma REFORMA AGRÁRIA de verdade, pela manutenção de direitos conquistados com sangue na memória de lutas, por justiça, paz e liberdade. Juntos, com o apoio de outras organizações do Brasil e do exterior – deram início a Grande Marcha das Margaridas, saindo do Parque das Cidades e seguindo para o Congresso Nacional pela explanada dos ministérios. As companheiras que fizeram a Marcha acontecer vieram depois de um profundo processo de formação política, no qual o Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares – representado pela CONTAG, debateu o projeto de desenvolvimento que queremos: com inclusão social, soberania, igualdade, oportunidades para todas e todos. E mais do que isso, as questões específicas enfrentadas pelas mulheres rurais, como os diversos tipos de violência, o preconceito, a falta de reconhecimento do trabalho produtivo e doméstico, entre outros.

Delegação de Urbano Santos e Belágua - Estado do Maranhão
É do saber de todos que no Brasil ainda não foi feito uma Reforma Agrária como o movimento social pretende: massiva, com gente, assistência técnica e produção agroecológica respeitando o meio ambiente e, sobretudo a biodiversidade. Também sabemos que desde 500 anos atrás a terra no Brasil sempre foi objeto de disputas, onde quem tem favorecimento é o latifúndio, restando apenas a violência para as camadas mais pobres: índios, posseiros, quilombolas, extrativistas... Em fim, camponeses e camponesas que sonham com a concretização de seus direitos sociais. Pois até hoje não existe uma política séria realmente de Reforma Agrária, no decorrer da história do Brasil foram feitas várias práticas que tentaram realizar uma reforma, essas ações distribuíram algumas terras improdutivas, que não são de interesse de uma classe ruralista muito forte, mas que engessa em grande parte essa distribuição de terras porque essa classe também tem representantes no Congresso Nacional. Como exemplo de países desenvolvidos que fizeram uma Reforma Agrária de sucesso. Acreditamos que não é só desapropriar  a terra e ali desenvolver um cultivo, a Reforma Agrária é cercada de uma série de fatores e não somente uma política de assentamentos fundiários como é o que acontece. Outro problema sério é o impacto ambiental e o avanço desenfreado do agronegócio que nunca respeitou os territórios das comunidades tradicionais; sendo estas as verdadeiras protetoras das florestas, babaçuais, cabeceiras de rios, chapadas e brejos, (os biomas). Centenas de comunidades são vítimas de grandes impactos da mineração, pecuária, barragens e outros. O assassinato de camponeses e lideranças ativistas no meio rural ainda é um grande problema social, as controvérsias do Governo Bolsonaro preocupa os homens e mulheres do campo com o processo de liberalismo do armamento, sendo assim, os fazendeiros – herdeiros da estrutura agrária deste país podem ganhar mais força e poder. Estados como o nosso - Maranhão, Mato Grosso e o Pará lideram o sistema de pistolagem contra trabalhadores (as) rurais. Atos constantes de desacato aos direitos humanos e a vida: casas de trabalhadores são incendiadas, famílias inteiras despejadas sem nenhum amparo social, como foi o caso recente de despejo da Comunidade Cajueiro no Maranhão. Saiu um certo estudo cientifico sobre assassinatos no mundo, divulgado pelo Escritório da Nações Unidas, apontando então que o Brasil registra 11,4% do total de mortes do planeta, segundo esse estudo da ONU, 437 mil pessoas foram mortas em 2017 no mundo; desses, 50.108 foram no Brasil e grande parte delas no campo, isso pouco é divulgado. As maiores taxas de homicídios no mundo estão na América Latina e África, afirmam estas fontes de pesquisas.Nesse momento de crise econômica, as coisas estão piorando ao invés de melhorar, a má distribuição de renda e as concentrações de terras e riquezas só favorecem os mais ricos, empresários, órgãos do capital, latifúndios e aristocratas; mas ainda ACREDITAMOS EM ESPERANÇA DE NOVOS TEMPOS. A cada momento explode no Congresso Nacional um esquema dos desvios do nosso dinheiro que pagamos com altos impostos – PECs, emendas reformas macabras são aprovadas por alguns deputados que batem com força na cara dos trabalhadores que sustentam a economia. Exemplos: fator previdenciário, terceirização e a Reforma da Previdência. Os homens e mulheres do campo e das cidades do nosso país fizeram sua parte nos dias 13 e 14 de agosto de 2019 – honrando o sangue de MARGARIDA ALVES – Mulher liderança sindical da Paraíba do Norte que tombou sobre as balas do coronelismo. Lutamos por nossos direitos sonhando sempre com melhorias. Na capital do país lembramos nesses dias a memória daqueles e daquelas que começaram essa batalha há muito tempo atrás, companheiros e companheiras que lutaram corajosamente e deram suas vidas por uma palavra chamada “LIBERDADE”. A pauta das reivindicações pela primeira vez na história nessa VI Marcha não foi entregue ao Governo Federal, sendo este inimigo dos Movimentos Sociais. Voltamos então para nossos estados com mais um dever cumprido, acreditando que esta MARCHA HÁ DE GERAR BONS FRUTOS.

José Antonio Basto
Urbano Santos-MA.
Agosto -2019.
(98) 9 8607-6807