Uma das minhas maiores e mais
importantes experiências nesses meus tempos de militância nos direitos humanos
em defesa da vida foi a visita à aldeia dos índios Awa-Guajá na região do Alto
Turiaçú no noroeste do Maranhão nas proximidades do Município de Zé Doca, uma
área que restou da Floresta Amazônica do Maranhão, lá vivem pouco mais de 300
pessoas, além de outros grupos nas adjacências que ainda estão isolados e sem contato
como o homem branco. No Território Indígena dos Awa-Guajá residem um dos
últimos povos nômades caçadores e coletores do planeta, por isso são especiais.
Viajei para o município de Zé Doca a
convite da Professora Benedita Secretária de Formação da CTB/MA (Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) que coordenaria um curso de formação
para os membros da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais daquele município. Sai de Urbano Santos mais ou menos as seis e meia da
manhã do dia 05/06 e encontrei a professora nas imediações de Itapecuru-mirim
que já vinha de São Luís. Seguimos viagem passando pelas cidades de Miranda,
Arari, Santa Inês e outros municípios; região aquela de muitas fazendas de
criação de gado na beira da BR-316, motivo esse pelo qual acontece sempre
muitos conflitos fundiários, causando então diversos assassinatos de
camponeses, ambientalistas, sindicalistas e índios vítimas dos problemas
frequentes de pistolagem. Uma distancia significativa que levou mais de duas
horas e meia para chegarmos a Zé Doca. Ao chegar fiquei hospedado na sede do
STTR e ainda dia 05, ajudei na formação contribuindo com os dados dos programas
para Reforma Agrária do Governo Federal e fazenda análise de conjuntura sobre
os problemas de conflitos agrários e socioambientais naquela região do Alto
Turiaçú, sendo aquela faixa uma das campeãs desse fenômeno. Com isso o dia
passou, dormi bem, porque estava cansado da viagem e das tarefas. Na manhã
seguinte 06/02, viajei para as aldeias onde fui convidado pelo pessoal da CPT
(Comissão Pastoral da Terra) e CIMI (Conselho Indigenista Missionário) que
estavam com uma programação marcada para uma expedição às terras dos Awa-Guajá,
pois no dia anterior fiz amizade com a companheirada que do qual faziam parte
da missão. A ideia era ajudar a coletar dados nas comunidades indígenas que
estavam sob ameaças de fazendeiros, garimpeiros e madeireiros ilegais na região
das florestas. Saímos cedo nas toyotas que a Diocese de Zé Doca fretou para as
atividades. Adentramos os caminhos na mata, roncava-se os motor-serras destruindo
a quase escassa Amazônia Maranhense. Depois de algumas horas de viagem
começaram a aparecer as primeiras aldeias Awas, impressionado tirei algumas
fotos. Paramos num posto da FUNAI para informações, os organizadores da atividade
foram na frente para conversar com as lideranças indígenas. Enquanto isso
perguntei se podia visitar as casas deles, um índio guia foi comigo que ao
mesmo tempo explicava sobre a situação precária de sua gente, os desmandos da
lei, a impunidade dos criminosos que assolam seu povo. Muitas crianças, umas
com papagaios e macacos domesticados. Muito legal presenciar pela primeira vez
o dia-a-dia cultural de uma tribo indígena. Os Awá-Guajá como são
caçadores e coletores precisam diretamente da floresta. A caça é mantida como
base de sua vida social e determina o padrão de ocupação tradicional do
território. Segundo algumas fontes de pesquisas ainda hoje, os Awá-Guajá recém
contatados conhecem e dominam o território com base nos caminhos de caça pela
mata fechada. Precisam, portanto, de florestas vastas e ambientalmente
íntegras, sem as quais não poderão manter sua reprodução física e cultural.
Com base no
problema dos madeireiros e os vários casos de conflitos, o Governo Federal
mandou o Exército Nacional para intervir no território dos Awa-Guajá tirando
todos os não índios da área. Os trabalhos do Exército nas guaritas e pontos que
demarcam o território tem sido fundamental para a proteção de um dos mais
importantes povos indígenas que lutam pela preservação ambiental, social e
cultural de seus ancestrais. Voltamos pra cidade de Zé Doca já quase a noite,
mas com a consciência de dever comprido e a alegria de ter contribuído para a
concretização de uma causa justa, deixando então nossas solidariedades ao bravo
povo Awa-Guajá.
José
Antonio Basto
Militante
em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
Email:
bastosandero65@gmail.com
(98) 98890-4162
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