terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A experiência de trilhar as terras dos índios Awa-Guajá na região do Alto Turiaçú.


Uma das minhas maiores e mais importantes experiências nesses meus tempos de militância nos direitos humanos em defesa da vida foi a visita à aldeia dos índios Awa-Guajá na região do Alto Turiaçú no noroeste do Maranhão nas proximidades do Município de Zé Doca, uma área que restou da Floresta Amazônica do Maranhão, lá vivem pouco mais de 300 pessoas, além de outros grupos nas adjacências que ainda estão isolados e sem contato como o homem branco. No Território Indígena dos Awa-Guajá residem um dos últimos povos nômades caçadores e coletores do planeta, por isso são especiais.
Viajei para o município de Zé Doca a convite da Professora Benedita Secretária de Formação da CTB/MA (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) que coordenaria um curso de formação para os membros da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais daquele município. Sai de Urbano Santos mais ou menos as seis e meia da manhã do dia 05/06 e encontrei a professora nas imediações de Itapecuru-mirim que já vinha de São Luís. Seguimos viagem passando pelas cidades de Miranda, Arari, Santa Inês e outros municípios; região aquela de muitas fazendas de criação de gado na beira da BR-316, motivo esse pelo qual acontece sempre muitos conflitos fundiários, causando então diversos assassinatos de camponeses, ambientalistas, sindicalistas e índios vítimas dos problemas frequentes de pistolagem. Uma distancia significativa que levou mais de duas horas e meia para chegarmos a Zé Doca. Ao chegar fiquei hospedado na sede do STTR e ainda dia 05, ajudei na formação contribuindo com os dados dos programas para Reforma Agrária do Governo Federal e fazenda análise de conjuntura sobre os problemas de conflitos agrários e socioambientais naquela região do Alto Turiaçú, sendo aquela faixa uma das campeãs desse fenômeno. Com isso o dia passou, dormi bem, porque estava cansado da viagem e das tarefas. Na manhã seguinte 06/02, viajei para as aldeias onde fui convidado pelo pessoal da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e CIMI (Conselho Indigenista Missionário) que estavam com uma programação marcada para uma expedição às terras dos Awa-Guajá, pois no dia anterior fiz amizade com a companheirada que do qual faziam parte da missão. A ideia era ajudar a coletar dados nas comunidades indígenas que estavam sob ameaças de fazendeiros, garimpeiros e madeireiros ilegais na região das florestas. Saímos cedo nas toyotas que a Diocese de Zé Doca fretou para as atividades. Adentramos os caminhos na mata, roncava-se os motor-serras destruindo a quase escassa Amazônia Maranhense. Depois de algumas horas de viagem começaram a aparecer as primeiras aldeias Awas, impressionado tirei algumas fotos. Paramos num posto da FUNAI para informações, os organizadores da atividade foram na frente para conversar com as lideranças indígenas. Enquanto isso perguntei se podia visitar as casas deles, um índio guia foi comigo que ao mesmo tempo explicava sobre a situação precária de sua gente, os desmandos da lei, a impunidade dos criminosos que assolam seu povo. Muitas crianças, umas com papagaios e macacos domesticados. Muito legal presenciar pela primeira vez o dia-a-dia cultural de uma tribo indígena. Os Awá-Guajá como são caçadores e coletores precisam diretamente da floresta. A caça é mantida como base de sua vida social e determina o padrão de ocupação tradicional do território. Segundo algumas fontes de pesquisas ainda hoje, os Awá-Guajá recém contatados conhecem e dominam o território com base nos caminhos de caça pela mata fechada. Precisam, portanto, de florestas vastas e ambientalmente íntegras, sem as quais não poderão manter sua reprodução física e cultural.
Com base no problema dos madeireiros e os vários casos de conflitos, o Governo Federal mandou o Exército Nacional para intervir no território dos Awa-Guajá tirando todos os não índios da área. Os trabalhos do Exército nas guaritas e pontos que demarcam o território tem sido fundamental para a proteção de um dos mais importantes povos indígenas que lutam pela preservação ambiental, social e cultural de seus ancestrais. Voltamos pra cidade de Zé Doca já quase a noite, mas com a consciência de dever comprido e a alegria de ter contribuído para a concretização de uma causa justa, deixando então nossas solidariedades ao bravo povo Awa-Guajá.
 








José Antonio Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
 (98) 98890-4162


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