O Viajante
atravessava as chapadas do Bacabal no Baixo Parnaíba maranhense, em direção às
comunidades tradicionais das margens do Rio Preto, o rio que pede socorro! Ele
parava perto do Riacho Seco nas imediações da grota da Bicuíba -, escutava o
som dos pássaros... O som do vento!
Ele dobrava sua velha motocicleta para as
bandas da comunidade Bacabal - a vista do eucalipto e do cerrado todo verde
contradizia em paradoxo a realidade de duas faces totalmente diferentes, uma
com gente, animais e toda biodiversidade crescente e a outra sem gente, com
veneno e agrotóxicos. Em 2013 o conflito se arrastara por lá, as chapadas foram
provas da luta que se transformaram num sonho. A terra ainda está em processo
de desapropriação pelo INCRA – umas 1.500 hectares e também uma sobra de terras
devolutas do estado que deve ser incluída no projeto. O objetivo é distribuir a
terra para as famílias de agricultores que trabalham e produzirem seus
alimentos, por isso foi realizado na comunidade um seminário com assuntos
relacionados a reforma agrária.
Trabalho em grupo - (Seminário Agrário) |
O medo ainda mora
nas veredas do Bacabal e nos caminhos de Santa Rosa, a lembrança dos desacatos
naquela época que tentou amedrontar os trabalhadores rurais, não conseguiu seus
objetivos. A família dominante se diz dona, venderam parte da terra para
interesse próprio, pois as leis mudaram de curso e quem? A legislação fundiária
diz que quem “mora um ano e um dia numa determinada terra” – já tem direito a
ela. A legitimação de posse de terras sempre foi uma questão polêmica desde
séculos remotos e ainda nos dias de hoje continua sendo; as “práticas de lutas conceituam
serviços de instrumentos para a efetivação de direito a moradia e sobretudo a
produção na agricultura familiar”. A realidade agrária em nosso país nunca foi
resolvida e a cada dia tem uma coisa diferente. Com essas transformações de
reformas e PECs, as questões só pioraram para os homens e mulheres do campo,
povos e comunidades tradicionais.
José Antonio Basto - (orientação dos trabalhos) |
A luta de 2013
em Bacabal foi uma prova de demonstração de forças medida entre a associação de
moradores e os latifundiários que se dizem donos da área. A Constituição de
1988, deixa claro sobre a função social da terra; se ela não está cumprindo sua
função social, deve portanto ser ocupada e desapropriada para fins de reforma
agrária.
Questões
inerentes a terra tem sido tratada com atenção pelas esferas de governos, sem
resolverem nada, infelizmente! Vista pelos setores capitalistas como forma de
expropriação e lucros; o capitalismo no campo tenta passar por cima de tudo,
inclusive das comunidades tradicionais para atingir seus objetivos econômicos.
Muitas são as grandes áreas de terra em nossa região que foram tomadas e
arrecadadas para o bem pessoal de empresas e grupos de latifundiários; as famílias
influentes. O Baixo Parnaíba passa por uma crise de terras, as comunidades
lutam pelos seus direitos sociais de acesso a terra, mas ainda falta muita
informação e organização para se avançar, pois o agronegócio é muito forte e
tem o apoio dos governos.
A luta do Bacabal
tem se constituído para o reconhecimento de posse que tramita no INCRA,
acompanhado pela FETAEMA, “Fórum Carajás” e por outros órgãos competentes, a
associação aguarda respostas. As chapadas da região são grandes produtoras de
bacuris e outros frutos do cerrado, apesar dos problemas socioambientais da
capitação de madeira ilegal e de queimadas constantes na época do verão.
Jatobazeiro - Comunidade Bacabal |
O Viajante
concretizaria sua tarefa naquele dia, ele ficaria mais um tempo por lá, adentrava
na aldeia Bacabal, as casas de palha ao redor do campo, sob o fundo as margens
do rio, muitos animais: porcos, galinha, cabras e gado. Os moradores vivem
felizes em seu lugar de origem, muitos não sabem dos seus direitos sociais, nem
todos sabem ler... A maioria são analfabetos, mas são personagens de nossas
histórias e projetos na luta pelo desenvolvimento social. As crianças brincam
felizes debaixo do pé de jatobá – a árvore que chama a atenção de quem o visita,
as crianças sonham com um mundo melhor, sem exploradores e explorados –
precisam reconhecer a história de seu povo e da importância da terra. O
Viajante passara alguns dias sem voltar para a cidade. Pois era tempo de arroz
novo nas roças e ele foi convocado pelos camponeses para o trabalho coletivo da
colheita.
José Antonio Basto
bastosandero65@gmail.com
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