Campo de soja na Comunidade Baixa Grande - Baixo Parnaíba maranhense |
Como entender a história e as
fronteiras da soja no Brasil? Longe daqui a soja era descoberta e transitada
nos sistemas de navegações pelo mundo desde o nordeste da China há milhares de
anos atrás. Segundo pesquisas recentes da Embrapa em 2015 e 2016, a produção em
nosso país foi de 95 milhões e 400 mil toneladas, as estimativas para a safra
de 2017, podem variar de 101 a 104 toneladas do grão o que vai depender da
produtividade. Um programa lucrativo apoiado
pelos setores capitalista que nada mais e nada menos representa a exploração e
expropriação de terras e sobretudo a expulsão dos camponeses e povos
tradicionais de suas áreas. A soja chegava ao cerrado brasileiro, saindo
do sul do país até o Mato Grosso, vindo pelo Tocantins à Balsas e subindo até o
leste do Maranhão; há pesquisas que afirmam que uma das primeiras referências sobre o aparecimento de soja no Brasil
data de 1882, na Bahia - mas só foi introduzida oficialmente em nosso país no
início do século XX, mais ou menos em 1914.
A Comunidade Baixa Grande – zona
rural do município de Urbano Santos, no leste do estado foi invadida por essa
espécie sem que os próprios moradores entendessem o fenômeno e o perigo da
monocultura. Os camponeses nem sabem o que é soja – ouve-se falar apenas, mas
não sabe do verdadeiro problema que ela representa para o meio ambiente, eles
sabem somente de alguns derivados. Aquela terra, antes devoluta do estado,
agora pertence a um dito proprietário. Colonizaram a área para os investimentos
do agronegócio; o veneno atravessa além de suas fronteiras, atingindo tanto os
moradores quanto ao meio ambiente que outrora nem sonhava com isso.
Uma área de matas e babaçuais foi
desmatada para se transformar em campos de soja, fica entre Urbano Santos e São
Benedito do Rio Preto. Os camponeses vivem ameaçados pelos chamados gaúchos que
matam seus animais como gado, cavalo, jumento e burro que circulam os rodapés
das cercas. As plantações de soja se alargaram para o outro lado da estrada,
local que fica próximo do Rio Mocambo – com certeza quando chove o veneno dos
campos escoa para rio atingindo as espécies de peixes e todo ecossistema.
Antigamente a região de Baixa Grande era produtora de farinha, arroz, milho e
amêndoa de coco babaçu, hoje em dia a comunidade está cercada de fazendeiros e
sem terra para plantar. Um processo de “Usucapião” tramita nos órgãos
fundiários e aguarda respostas. Os trabalhadores rurais descobriram técnicas de
produção de legumes em sistemas de hortas, trabalham com a pouca terra que tem
em seus quintais, produzem de tudo: pimenta de cheiro, cebolinha, cheiro verde,
quiabo e outros tipos de verduras – os produtos são levados para o mercado de
Urbano Santos; o dinheiro arrecada das
vendas ajuda na economia das famílias camponesas que lá vivem –, maneiras essas
de resistência pela posse da terra.
Mais uma vez para acentuar, o Rio
Mocambo é importante para a vida, reprodução cultural e ancestral das
comunidades da região, quando chove infelizmente o agrotóxico é levado para o
rio, pois os campos estão bem próximos de suas margens. As comunidades vizinhas
reclamam pelo mau cheiro do veneno que os aviões pulverizadores ateiam sobre os
campos, correndo risco de se adquirir doenças como já se tem visto muitos casos
na Região do Baixo Parnaíba, um problema sério que precisa ser combatido.
Quanto se lucra na produção dessa soja? Pra
onde ela vai? Esse capital adquirido com a força de nossa terra? A terra que
deveria ser distribuída para os agricultores familiares. A soja atravessara as
fronteiras do leste, ela talvez não seja de boa qualidade, talvez não seja
transformada em óleo e carne para os supermercados, mas se transformará em
“farelo” para alimentar porcos na África e na Ásia. Isso gera lucros
extraordinários para o sojicultor. E as comunidades sabem disso? Alguns acham
até bonito os grandes campos todo verde... Mas não sabem do tamanho do perigo
que eles causam pra saúde dos seres humanos, insetos polinizadores e tantos
outros animais das florestas e das águas.
José Antonio Basto
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