José Antonio Basto - (pesquisa em Mangabeira - Urbano Santos-MA) |
1839, em pleno apogeu da “Insurreição
dos Balaios” – (Guerra da Balaiada) – a região do Baixo Parnaíba maranhense
vivia sob intensos conflitos fundiários – e isso já vinha acontecendo desde
tempos remotos, causados pela insatisfação do povo pobre do sertão. No inicio o
movimento – que mais se parecia com uma guerrilha camponesa foi liderada pelo
vaqueiro Raimundo Gomes e o artesão Francisco Manuel dos Anjos, além de muitos
outros líderes de destacamentos que sustentavam as ideias da revolta popular, levando-as
para além das fronteiras do Maranhão. O ponto de glória da insurreição é
acentuado com ênfase na tomada da cidade de Caxias neste mesmo ano. A cidade de
Brejo tornara-se quartel general dos revoltosos. A área geográfica pertencente
ao município de Urbano Santos, naquela época era da Comarca de Brejo, como
também Chapadinha, Anapurus, Mata Roma e Santa Quitéria. As fazendas
importantes do território de Urbano Santos –, (ciclo das fazendas), que em sua
maioria eram estabelecidas nas margens do Rio Preguiças: Boa União, Palmira,
Bom Fim e São José das Mangabeiras, estas eram visadas tanto pelos insurretos,
quanto pelas ações das forças legalistas do Exército Imperial que pretendia
eliminar de qualquer jeito o movimento.
No ano seguinte em 1840, o governo solicitava anistia e a rendição de mais de dois
mil Balaios, infelizmente, assim inviabilizando o corajoso e valente exército
camponês. Poucos resistiram, a maioria foram derrotados – vítimas das táticas
militares de Lima e Silva. A sublevação estava quase chegando ao fim – é nesse momento
que o Negro Cosme entra na luta – 1840 - 41; o último líder rebelde que
comandava mais de três mil negros e tinha como quartel general o seu “Quilombo Lagoa
Amarela”, localizado na cabeceira do Rio Preto em Chapadinha.
Canhão da fazenda Boa União, peça da Balaiada - Urbano Santos-MA |
Mapa da campanha de Caxias contra os Balaios |
Dona Marly entrega fontes de pesquisa a José Antonio Basto |
DOC. Nº 30...
DO
PREFEITO DO BREJO
AO:
VIGÁRIO DA MESMA FREGUEZIA
Ilmo.
E Reverendíssimo Senhor Vigário
Jerônimo Antônio de Proença Ribeiro
Foi-me
denunciado que João Pereira Caldas,
pessoas da casa de V. S., está na fazenda de V. S., denominada São José das Mangabeiras “fabricando
pólvora”; e porque seja esta manufatura expressamente por lei proibida,
acrescendo, ainda mais nas atuais circunstancias o ser bastante perigoso, segundo a proximidade em que estão os
rebeldes da dita fazenda de V. S., e onde pretendem, segundo as
noticias que se tem obtido, estacionarem-se; assim o levo ao seu conhecimento,
para sua inteligência, a fim de que se inutilize semelhante fábrica,
desonerando-se assim da responsabilidade que, aliás, tem V. S. perante o
Governo legal do Senhor D. Pedro II.
De amor e zelo que V. S. tem pela tranquilidade pública, espero a mais
rápida providencia.
Deus
aguarde a V. S.
Prefeitura
da Comarca do Brejo, 30 de dezembro de 1839.
Severino
Alves de Carvalho
Prefeito
da Comarca.
Panelão de ferro do antigo engenho - Fazenda Mangabeira - Urbano Santos-MA |
Uma
possível fábrica de pólvora não é algo comum nesta região – é algo
extraordinário; um tão pouco difícil e quase que inédito; todavia demonstra que
nossa história ainda tem muita coisa pra ser descoberta, ainda desconhecida por
essas matas e lugarejos. A Balaiada na história de Urbano Santos está ligada
não apenas na formação da comunidade Mocambinho, no final da guerra e os
últimos acontecimentos em 1842, depois Mocambo e em seguida “Ponte Nova”, mas é
sustentada cientificamente sobretudo pela existência do canhão da fazenda
vizinha Boa União, a “Chapada dos Balaios” entre os povoados Bom Princípio e
Areias e a estrutura da antiga fábrica de pólvora caseira da Fazenda Mangabeira,
antes, São José das Mangabeiras.
Pontos importantes que merecem uma atenção
especial levando em conta e consideração a construção de levantamentos e fatos da
permanência histórica no município. Daí pode-se citar as linhas do cronograma (mapa),
da campanha de Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), contra dos Balaios
– quando este general foi promovido presidente da Província do Maranhão. As
linhas ligam Icatú a Miritiba; Tutóia a Brejo e a São Luís; Itapecuru a Vargem
Grande e Coroatá a Chapadinha e a Caxias, cortando então o território do atual
município de Urbano Santos, servindo como prova das trilhas e combates de uma
guerra que pode ser transformada em cartão turístico na região nordeste do
Estado do Maranhão.
Ladrilho da casa grande - Fazenda Mangabeira - Urbano Santos-MA. |
Texto e imagens: José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com
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