segunda-feira, 4 de junho de 2018

Fazenda Mangabeira e a história perdida dos Balaios em Urbano Santos, Baixo Parnaíba maranhense

José Antonio Basto - (pesquisa em Mangabeira - Urbano Santos-MA)

1839, em pleno apogeu da “Insurreição dos Balaios” – (Guerra da Balaiada) – a região do Baixo Parnaíba maranhense vivia sob intensos conflitos fundiários – e isso já vinha acontecendo desde tempos remotos, causados pela insatisfação do povo pobre do sertão. No inicio o movimento – que mais se parecia com uma guerrilha camponesa foi liderada pelo vaqueiro Raimundo Gomes e o artesão Francisco Manuel dos Anjos, além de muitos outros líderes de destacamentos que sustentavam as ideias da revolta popular, levando-as para além das fronteiras do Maranhão. O ponto de glória da insurreição é acentuado com ênfase na tomada da cidade de Caxias neste mesmo ano. A cidade de Brejo tornara-se quartel general dos revoltosos. A área geográfica pertencente ao município de Urbano Santos, naquela época era da Comarca de Brejo, como também Chapadinha, Anapurus, Mata Roma e Santa Quitéria. As fazendas importantes do território de Urbano Santos –, (ciclo das fazendas), que em sua maioria eram estabelecidas nas margens do Rio Preguiças: Boa União, Palmira, Bom Fim e São José das Mangabeiras, estas eram visadas tanto pelos insurretos, quanto pelas ações das forças legalistas do Exército Imperial que pretendia eliminar de qualquer jeito o movimento.
Canhão da fazenda Boa União, peça da Balaiada - Urbano Santos-MA
No ano seguinte e
m 1840, o governo solicitava anistia e a rendição de mais de dois mil Balaios, infelizmente, assim inviabilizando o corajoso e valente exército camponês. Poucos resistiram, a maioria foram derrotados – vítimas das táticas militares de Lima e Silva. A sublevação estava quase chegando ao fim – é nesse momento que o Negro Cosme entra na luta – 1840 - 41; o último líder rebelde que comandava mais de três mil negros e tinha como quartel general o seu “Quilombo Lagoa Amarela”, localizado na cabeceira do Rio Preto em Chapadinha.
Mapa da campanha de Caxias contra os Balaios
A Fazenda Mangabeira, em Urbano Santos – hoje um assentamento do Incra – naquele tempo era chamada de São José das Mangabeiras, de propriedade da “Família Bacelar”- que muito antes pertenceu a um Padre – sendo uma faixa de terra doada através da “Carta de Sesmarias” – com o nome “São Felipe das Mangabeiras”, por isso - São Felipe – nome dado ao Povoado Vizinho. Um casarão antigo que remonta a história perdida de mais de duzentos anos atrás.
Dona Marly entrega fontes de pesquisa a José Antonio Basto
A estrutura arquitetônica da casa é de origem portuguesa como o piso de ladrilhos, a varanda da recepção e as paredes revestidas de pedras. Relíquias são encontradas em decomposição dentro do mato no quintal da casa grande –, como um tacho de ferro do centenário engenho; sendo a prova viva da produção de açúcar, cachaça e melaço de cana fabricados em Mangabeira. Um fato curioso que tem como prova a existência da memória é um ofício do Prefeito do Brejo ao Vigário da freguesia Mangabeira, datado de 1839 – que se trata da denúncia da fabricação de pólvora caseira no lugar São José das Mangabeiras. É sem dúvida uma grande prova dos acontecimentos que por ali passaram. Segue na íntegra o referido ofício:                
DOC. Nº 30...
DO PREFEITO DO BREJO
AO: VIGÁRIO DA MESMA FREGUEZIA
Ilmo. E Reverendíssimo Senhor Vigário
Jerônimo Antônio de Proença Ribeiro
Foi-me denunciado que João Pereira Caldas, pessoas da casa de V. S., está na fazenda de V. S., denominada São José das Mangabeiras “fabricando pólvora”; e porque seja esta manufatura expressamente por lei proibida, acrescendo, ainda mais nas atuais circunstancias o ser bastante perigoso, segundo a proximidade em que estão os rebeldes da dita fazenda de V. S., e onde pretendem, segundo as noticias que se tem obtido, estacionarem-se; assim o levo ao seu conhecimento, para sua inteligência, a fim de que se inutilize semelhante fábrica, desonerando-se assim da responsabilidade que, aliás, tem V. S. perante o Governo legal do Senhor D. Pedro II.
De amor e zelo que V. S. tem pela tranquilidade pública, espero a mais rápida providencia.

Deus aguarde a V. S.
Prefeitura da Comarca do Brejo, 30 de dezembro de 1839.
Severino Alves de Carvalho
Prefeito da Comarca.
Panelão de ferro do antigo engenho - Fazenda Mangabeira - Urbano Santos-MA
Uma possível fábrica de pólvora não é algo comum nesta região – é algo extraordinário; um tão pouco difícil e quase que inédito; todavia demonstra que nossa história ainda tem muita coisa pra ser descoberta, ainda desconhecida por essas matas e lugarejos. A Balaiada na história de Urbano Santos está ligada não apenas na formação da comunidade Mocambinho, no final da guerra e os últimos acontecimentos em 1842, depois Mocambo e em seguida “Ponte Nova”, mas é sustentada cientificamente sobretudo pela existência do canhão da fazenda vizinha Boa União, a “Chapada dos Balaios” entre os povoados Bom Princípio e Areias e a estrutura da antiga fábrica de pólvora caseira da Fazenda Mangabeira, antes, São José das Mangabeiras.
Ladrilho da casa grande - Fazenda Mangabeira - Urbano Santos-MA.
Pontos importantes que merecem uma atenção especial levando em conta e consideração a construção de levantamentos e fatos da permanência histórica no município. Daí pode-se citar as linhas do cronograma (mapa), da campanha de Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), contra dos Balaios – quando este general foi promovido presidente da Província do Maranhão. As linhas ligam Icatú a Miritiba; Tutóia a Brejo e a São Luís; Itapecuru a Vargem Grande e Coroatá a Chapadinha e a Caxias, cortando então o território do atual município de Urbano Santos, servindo como prova das trilhas e combates de uma guerra que pode ser transformada em cartão turístico na região nordeste do Estado do Maranhão.    

Texto e imagens: José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com


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