Quantas desavenças, quantos conflitos na insistência pela terra –
ela foi formada há muito tempo atrás, mas não foi distribuída e nem atestada
pra ninguém. Quem pratica seu bem social deve merecê-la por direito! De um lado
a defesa para o bem comum do uso social, do outro a expropriação e espoliação
de quem reside, devastam para lucrar com seus bens naturais. Quem mora, defende
para o cultivo salvando o que ainda resta de natural. Quem morou lá há um
século? Quem trabalhava lá no sustento da família? Quem catava coco, bacuri,
pequi? Quem sempre viveu da chapada? O território tem como donos os que dizem
ser seus próprios papeis vivos – quanto tempo já se passou! As capitanias
hereditárias não mais existem e rudimentalizaram sua política da estrutura
agrária! Quem usa e ocupa a terra são seus donos... Os verdadeiros documentos. Que
a ciência, a topografia, os mapas forjados e o dinheiro tentem desmentir o
sentimento cultural – não prevalece! Os sonhos estão lá plantados e regados de
sangue, suor e luta. Estão lá as tumbas, os saberes, as roças, a água e a sobrevivência
dos filhos e netos. Ouve-se um tempo em que tudo era diferente, a coletividade,
o desapego, mutirões e solidariedade imperava no meio das comunidades. Todos faziam
seus ofícios num código de bom censo. Muita fartura de tudo. De repente chega o
chamado progresso na promessa de modernização do meio social e do campo –
aconteceu de outro modo, na enganação inicial para o uso do espaço. Entra no
jogo a grilagem com o nascimento de documentos nunca encontrados, os viventes
ficaram sem entender o que se passava. Suas terras foram colonizadas por espécies
estranhas daquelas que eram acostumados verem – a dinâmica do consumismo
permitira todo esse retrocesso de dor e transformação no meio ambiente. O que
diziam ser um pequeno espaço para uma experiência que achavam não dá certo se
alargava as florestas por toda região, tomaram conta de quase tudo e substituíram
o cerrado – levando consigo a violência e a intimidação dos verdadeiros defensores.
O Pessoa ensinou que “Tudo vale a pena / quando a alma não é pequena”. Todos defendem
sua casa, isso é mais do que justo e normal. A mãe sempre defende sua cria
porque sabe que ela é indefesa. O sonho se renova em meio ao conflito. A
esperança é o alicerce de alimentação do ideal. Planta-se uma nova semente na
esperança de germinar e brotar novos bons frutos não apenas para os de hoje,
mas em memória dos de ontem e apostando nos de amanhã.
José Antonio Basto
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