COLETORAS DE BACURI, PEQUI
E OUTROS FRUTOS DO CERRADO – COMUNIDADE SÃO RAIMUNDO – URBANO SANTOS-MA.
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D. Maria e seus bacuris |
Este ofício tem por
tradição a mão de obra das mulheres camponesas que na temporada do bacuri,
pequi e outros frutos do cerrado que vai de janeiro a março, elas saem cedinho
com seus cofos, mulas e jacás para a colheita dos frutos especiais das chapadas
do município de Urbano Santos e toda região do Baixo Parnaíba maranhense. O
bacuri é o mais desejado e importante dos frutos, rico em vitaminas, nativo da
floresta tropical amazônica, essa fruta pouco maior que uma laranja, com pele mais
espessa de uma cor amarelo-limão pertence à família (Guttiferae), oferece
muitos benefícios para a saúde e é usado em cremes, geleias, doces, bolos, purê
e licores. O bacurizeiro, conhecido cientificamente como (Platonia insignis)
pode atingir mais de 30 metros de altura, com tronco de até 2 metros de
diâmetro nas árvores mais desenvolvidas. Sua madeira considerada nobre também
tem variadas aplicações, mas é proibida a derrubada, apesar dos crimes de
capitação ilegal. É encontrada naturalmente desde o Piauí seguindo a costa do
Pará até o Maranhão. A massa possui alguns nutrientes em quantidades notáveis
de fósforo, potássio, ferro, cálcio e vitamina C; a casca também é
aproveitada na culinária regional e o óleo extraído de suas sementes é usado
como anti-inflamatório e cicatrizante na medicina popular e na indústria de
cosméticos. Comunidades tradicionais de Urbano Santos como São Raimundo, Boa
União, Bom Princípio e Bracinho praticam o extrativismo do bacuri servindo como
fonte de renda para as famílias camponesas, além de uma alimentação saudável.
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Francisca colhendo os bacuris |
Um dos problemas nesse período de safra é a derrubada do fruto ainda verde, mas
as associações destas comunidades citadas se juntaram para defender o
território (chapadas) e criaram autonomamente uma lei (norma conjunta) que
proíbe a derrubada do bacuri verde, pois o bacuri para ser colhido deve-se
esperar o fruto cair de maduro – assim colaborando para a reprodução da espécie
- quando se joga rebolo e bagunça seus galhos, no ano seguinte aquele pé não
brota mais, atrasa de 1 a 2 anos para voltar ao normal. Com leis severas, o conselho de fiscalização
formado pelos presidentes das associações acordado na norma conjunta desde
algum tempo já fazem a fiscalização rondando as variantes das áreas, punindo
aqueles que desobedecerem as leis do Estatuto Social das entidades e o
documento oficial que foi discutido coletivamente deliberado e aprovado para o
bem do território. Os moradores do São Raimundo, Boa União, Bom Princípio e
Bracinho lutam pela terra, batalham pela sobrevivência em convivência com a
natureza. Chegando agora o período do inverno os frutos desabam no chão, homens
e mulheres sobem o carrasco para a colheita, uma enorme alegria. Os catadores
(as) devem ter a consciência de colher o bacuri no tempo certo, essa prática faz
parte de sua cultura. Problemas fundiários que se arrastam há décadas
envolvendo empresas do agronegócio e latifundiários vem atrapalhando os modos
de vida destas comunidades tradicionais.
PRODUÇÃO DE FARINHA –
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SANTA MARIA E COMUNIDADE BOM PRINCÍPIO – URBANO
SANTOS-MA.
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Roda de descascar mandioca |
A puba é a mandioca
amolecida em cima do giral (base de madeira coberto de palha), pronta para ser
levada ao banco do caititú para a trituração. A massa é extraída da
mandioca fermentada e
largamente utilizada na produção de (farinha de puba), além de bolos, biscoitos e diversas
outras receitas típicas do norte e nordeste. O processo
de obtenção da puba consiste em deixar a mandioca de molho num recipiente com
água, antigamente se utilizava os chamados “pubeiros” - um espaço no rio
oulagoas, cercado de madeira ou palhas, atualmente os tradicionais pubeiros
foram substituidos por tanques de cimento. Depois de tres dias a mandioca
deverá estar mole. Deve-se então escorrer a água e lavar abundantemente a
mandioca ralando-a em seguida. Depois de ralada, deve-se escorrer completamente
o líquido nos tapitis, a massa seca é peneirada e jogada no forno aquecido para
se transformar em farinha. Dois forneiros fazem o serviço: um passa a massa, o
outro seca a farinha, este é o momento do “apuramento”.
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Enxugando a massa |
A farinha antigamente
era empaneirada nos côfos, agora se embala o produto em sacas, com medidas de
75 litros em cada saca. O município de Urbano Santo já foi campenão na produção
de farinha no
estado do Maranhão. A
farinha de mandioca, farinha de puba ou farinha d`água e farinha seca é um
derivado da matéria prima da mandioca, conhecida cientificamente por “Manihot
esculenta.” A arte de fazer farinha é uma atividade centenária herdada dos
nossos ancestrais indígenas da América Latina. Há estudos afirmativos que a
fabricação de farinha no Brasil tenha também a contribuição cultural dos africanos
que aqui trabalharam como escravos nos séculos XVI, XVII, XVII e XIX. As
mulheres tem uma grande contribuição no processo da farinhada – conhecimentos
que passam de geração para geração; desde a
chamada “arranca”, ao ponto final. As rodas de descacar mandioca são
animadas nas casas de forno. Os lavradores e lavradoras tem o costume de
fabricar os cofos artesanalmente (cestos de palha de babaçu ou palmeira najá) e
colher folhas de axixá, guarimã ou bananeiras para o forro. Os paneiros são
forrados com as folhas para o alojamento da farinha pronta para a alimentação.
Portanto chega-se ao fim da farinhada – de julho a outubro. Os agricultores
vendem a farinha para resolver seus negócios, uma fonte de renda muito forte
que precisa ser ajustada seu preço e mais atenção do comércio. Nos anos
oitenta e noventa em Urbano Santos era muito comum os camponeses se preparar
para a farinhada com o intuito de vendê-la para conseguir algum dinheiro e
passar o “FESTEJO DA NATIVIDADE” de 1º a 7 de Setembro. Essa tradição é mantida
até os dias de hoje em nossa cultura. O município já foi grande campeão na
fabricação de farinha. Isso deve ser reconhecido, pois as gerações
contemporâneas e futuras podem tomar conhecimento desse maravilhoso processo
que contribui para o avanço do nosso município na questão socioeconômica,
cultural e social, perpetuando-se de gerações para gerações. “Farinhada é
motivo de alegria, força de trabalho rural, cultura e desenvolvimento
sustentável e solidário.
QUEBRADEIRAS DE
COCO BABAÇÚ – COMUNIDADE CAJAZEIRAS E BEBEDOURO – URBANO SANTOS-MA.
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Roda das quebradeiras de coco babaçú |
Elas forma uma roda com seus
machados e cofos, antes disso as mulheres preparam os montes de coco (juntam as
cargas e amontuam em baixo dos pés), para dá-se início a quebra do coco. Começa
ali o som dos cassetes nos machados soando pela densa mata fechada. Durante o
trabalho os assuntos e conversas envolvem tradicionalmente o dia-a-dia das
comunidades, os afazeres domésticos, pescarias e os serviços da roça, donde os
maridos estão também a trabalho. As mulheres mais jovens aprendem as técnicas e
experiências com as mais velhas e esse conhecimento vai se perpetuando de
geração para geração. O MIQCB – Movimento Interestadual das Quebradeiras de
Coco Babaçú tem sido o principal alicerce da luta por direito e defesa dos
territórios das extrativistas quebradeiras de coco que se organizam em associações
comunitárias. O Maranhão é o estado de maior concentração dos índices de
produção de amêndoa de babaçú comercializada para o resto do país.
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D. Raimundinha juntando seus cocos babaçú |
Em
Cajazeiras e Bebedouro – zona rural de Urbano Santos o babaçú é extraído
oficialmente para a produção de azeite, que chega hoje um valor de 15 reais por
litro. Mas além disso ainda existem compradores que passam pelas comunidades
rurais, outrora este tipo de comércio era mais forte – teve uma baixa por
causas dos programas sociais que elevou a situação social de muita gente da
zona rural – pois há algum tempo atrás, as famílias camponesas que moravam em
áreas de cocais usufruíam desse sistema extrativista para o aumento da renda
familiar. Tudo se aproveita da palmeira de
babaçu – uma espécie de mil utilidades: cocos, folhas e talos são utilizados na
confecção de diferentes tipos de artesanatos, produzidos pelas mulheres. A
partir da riqueza das possibilidades de utilização, essas partes do babaçú se
transformam em matéria-prima para a confecção de diversas peças e também em
alguns casos o coco estragado (coco velho) também é utilizado para a fabricação
de carvão usados em indústrias.
Texto e imagens: José Antonio
Basto (98) 98607-6807 / 98 98494-0123.
Urbano Santos-MA, Dezembro – 2017.
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