Tela - domínio público: "Entardecer no cerrado" - de Carmem Fraga. |
Era densa a fumaça da existência, voava pra lá do além-mar,
parecia a “Rosa de Hiroshima”! Queimava-se tudo! E ainda o fogo seco desbrava a
natura de modo inconcebível. Os ventos trançavam as moitas da chapada e as palhas
das palmeiras, o mato fazia zig-zag e a neblina apresentava seu furor! Sobre um
véu de púrpura aconchegava a noite fria que se dizia mãe da boemia. No dia
seguinte, pela madrugada ainda escura, o orvalho caia sobre o sereno da
tempestade que azulava o céu cor de anil -, relembrava-se e voltava-se para a
fonte da juventude. Raios no horizonte e trovões no poente. A queimada
continuava lá! A terra preta na poeira dos sonhos frigidos de outrora, mesclava
um fenômeno sem igual. O campestre calado sofrendo as dores, não reclamava
nada, pois a chama crescia a cada hora e se estendia ao sopro do vento leste. Festa
se avista pelo espaço com a cinza que enfeita os ares. A queimada renascia
brotando novos frutos para uma nova safra. O alimento das mesas dos viventes,
humanos e animais da terra. Todos necessitam daquela área agora quase sem vida,
poucos sabem disso, mas muitos não tem a consciência de ajudar naquilo que é de
mais necessário. Acreditava-se que a chapada não se recuperaria nunca. Bom é
saber que o meio ambiente tem seu poder magnífico de se recuperar – explorado e
indefeso, consegue dá o troco nos mesmos que lhe agridem por falta de
consciência. São intolerantes! A ingenuidade de alguns trazem a malicia para
muitos, já o canto de alegria e o otimismo de poucos fazem brotar bons frutos e
retoma a vontade de viver. A água das fontes naturais já não existem mais,
roubaram da natureza o que ela tinha de mais valioso, furtaram a historia,
roubaram sua memória, roubaram quase tudo e ainda lhe assassinaram. “Dizem que
o coração ver o que os olhos não enxergam”. O riacho atravessa os campos, leva
sua beleza pelas florestas saudáveis. Esvai-se para o mar trilhando a areia do
tempo, não deixando as pegadas para despistar o inimigo – na mensagem pacifica
e na lembrança de heróis que tombaram mas deixaram o sangue tatuado no solo vermelho
da arena dos valentes e corajosos. A queimada estava “ali e acolá” em meio à
prosa no ensaio lírico e romântico que só o tempo consegue ler e entender
direito. E para sempre.
José Antonio Basto
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