Quando se viaja pelas comunidades rurais do município de Urbano Santos,
Baixo Parnaíba maranhense, se percebe diferenças nos caminhos que dantes eram
estradas tradicionais; caminhos e veredas donde os camponeses trafegavam com
suas cargas de palha, mandioca, materiais da lavoura... Enfim, coisas que só as
comunidades tradicionais sabem fazer. Estes mesmos caminhos e veredas foram
transformados e aplainados pelos plantios de eucaliptos e soja das empresas que
por estas bandas estão implantados seus negócios. O agronegócio que nada
representa para os homens e mulheres do campo – um programa capitalista que usa
e abusa da terra gerando lucros individuais – deixando, portanto, um legado de
destruição da natureza, com a expulsão das espécies animais e naturais da
região... Transformando os modos de vida dos povos tradicionais.
A terra das comunidades de Baixa do Cocal I e II – são terras devolutas
do estado – uma média de 800 hectares, áreas que foram ocupadas por retirantes
do Ceará e Piauí nas primeiras décadas
do século XX, assim como muitos outros povoados da Região do Baixo Parnaíba. A convite
de amigos companheiros de luta, participei de uma reunião de criação da
Associação de Trabalhadores Rurais –, sabe-se que a organização é o passo
fundamental de uma entidade e mais ainda quando se trata da terra. As comunidades
vizinhas da Baixa do Cocal como a Mangabeirinha, Santana e Ingá também são
impactadas pela monocultura – essas e outras comunidades aguardam a vinda do
ITERMA para o sistema de arrecadação. Mas além desse problema os moradores têm
intrigas entre si – coisas que não deveria acontecer, apesar de ser normal.
Lutar pela terra e por direitos requer união das pessoas, uma vez que os frutos
da terra são distribuídos para todos e todas. A compreensão no meio camponês é
algo desafiador – resolver e /ou pelo menos aquietar ânimos entre vizinhos não
é uma tarefa fácil para um militante ou Sindicato, mas fácil é jogar seus ideais
com respeito e provas contra os sistemas no desejo de uma vida melhor para os
menos favorecidos e desprovidos de direitos.
Passava-se o dia todo por lá, voltaria a tarde – mas o almoço de galinha
caipira não deixara vir cedo. O sol ardente, em meio a chapada – começava-se a
reunião de demarcação e catalogação das áreas ditadas pelos posseiros.
Documentos foram apresentados, mas as verdadeiras certidões estavam ali
presentes. “Os próprios camponeses”. Que ali moram, trabalham, se reproduzem
socialmente e culturalmente há décadas... Séculos. Eles sabem onde pisam, onde
fazem suas roças, conhecem muito bem as áreas de caça e boladas de bacuris que
colhem no tempo certo. Se mantém na resistência de seus afazeres tradicionais.
A tarde vinha e a preocupação de trilhar as chapadas crescia, pois, os envios
caminhos se perderiam a não ser pela velha estrada de sempre. Os assuntos que
só interessam a eles foram resolvidos e acordados com o intuito de manter o
desenvolvimento e sobretudo o crescimento coletivo de produção e organização.
Raramente se encontra comunidade hoje em dia sem energia elétrica,
graças ao “Programa Luz para Todos”, mas por mera consciência do destino a
energia faltava naquele final de tarde e aí era a vez das velhas lamparinas. O
Viajante foi convencido de ficar mais tempo – pois ali, após a finalização de
um longo dia de trabalho saia muitas histórias dos mais antigos, como era a
região há 50 anos atrás – as farturas de alimentos e de água que não se ver
mais agora. O cheiro das panelas que cozinhava o restante da galinha para o
jantar adentrava pela sala onde estava a roda de conversa sob a luz das lamparinas.
Passava-se o tempo sem ninguém perceber, quando “Anoiteceu em Baixa do Cocal”.
Restava então o fim da conversa, o jantar e a apreciação da lua com seu
espetáculo no coração do Baixo Parnaíba.
José Antonio
Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com
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