O viajante passava a noite pela Comunidade Mata dos
Ferreiros, zona rural do município de Urbano Santos, Baixo Parnaíba maranhense.
Em cima da carroceria da caminhonete a vista pairava sobre as humildes casas
dos trabalhadores rurais em meio aos violentos campos de eucaliptos. O viajante
voltava da comunidade São Raimundo, onde participara duma missão festiva a
convite de alguns amigos de luta. Mata dos Ferreiros tem algo em comum com o
São Raimundo: a batalha pela terra e o combate ao agronegócio em defesa do meio
ambiente; uma pelo Iterma a outra pelo Incra, as duas comunidades reencontram-se
na linha de frente pela Reforma Agrária na região, elas estão localizadas no
meio do território e sofrem os mesmos impactos. Seus moradores vivem ameaçados
pelas grandes plantações de eucaliptos, pouco restou da terra que é de direito
dos posseiros, as matas estão poucas para fazerem suas roças, as chapadas que
alimentam suas famílias foram devastadas a correntões e substituídas por milhares
de pés dos “monstros verdes”. Muitos problemas essa espécie estranha natural da Austrália tem causado em
Matas dos Ferreiros, a caça desapareceu e o riacho morre aos poucos, todo
povoado é cercado pela monocultura, não há espaço para nada. Desde décadas, espera-se
do Iterma, uma vistoria para regularização fundiária, quem mora lá desde 50
anos atrás é a família “Ferreiros” – ela sabe dos entraves, jogada sem destino,
esquecida pelos órgãos -, mas viva e que merece ser respeitada. Ali a terra foi
adquirida pelo programa da silvicultura, mas de que forma? Eis a questão! Uma
comunidade que ficou restrita de colher seus próprios bens naturais, ao longo
das proximidades das fronteiras ficou privada de exercer
seus trabalhos culturais na agricultura e no extrativismo. Isso se alia à
extensão dos impactos ambientais locais e regionais naqueles meados dos caminhos
aplainados da Suzano. É de se perguntar sempre, qual é a parcela positiva de
desenvolvimento que o agronegócio deixa para as comunidades rurais? O que as pesquisas
acadêmicas trazem a tona é uma realidade totalmente diferente da que estar
sendo pregado ao longo do tempo, desde quando o eucalipto se expandiu além das
fronteiras do município na década de 80, tomando terras camponesas, alterando o
clima e todo meio ambiente, desacatando os direitos das populações
tradicionais. A terra para o grande latifúndio é elemento de poder e capital, o
capitalismo nunca supriu as necessidades dos menos favorecidos, dos povos
tradicionais, que até os dias de hoje são desprovidos de direitos sociais,
infelizmente o capitalismo se renova com sua queda. A comunidade Mata dos
Ferreiros, assim como tantas outras, ainda resistem à opressão, ela não é opaca,
ela vive na esperança, tal qual suas relações de vida e vivência, guardando em
sua memória os papeis de outrora, no sentimento de tempos melhores. Leonardo
Boff – teólogo, ativista e escritor, dizia que a causa da terra é justa e humanitária e que acima de tudo “A
luta pela Reforma Agrária é uma luta por vida”.
José Antonio Basto
e-mail: bastosandero65@gmail.com
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