Rio Preguiças - Comunidade Santa Filomena, Baixo Parnaíba |
Imaginemos como
ficaria a situação das pessoas se a água deixasse de existir um dia. A sobrevivência
humana estaria comprometida, assim como as das plantas e animais e outros seres.
Não podemos pensar na ideia de vida com a ausência da água. É de costume
tradicional os camponeses acordarem cedinho para começar seu dia de lutas em
suas lavouras, em suas pescas... afazeres. Antes de seguir para sua roça,
normalmente o camponês vai olhar suas caçoeiras, seus jiquis, bóias e aproveita
para tomar um banho. As comunidades rurais precisam dos recursos hídricos para
manter suas sobrevivências: bebem, pescam, lavam e desenvolvem sua agricultura
nos baixões e brejos, além do extrativismo de espécies vegetais que brotam
próximas aos rios, chapadas e igarapés.... palmeiras, juçara e buriti são fonte
de alimentação e em alguns casos até renda familiar. No Território do Baixo
Parnaíba as populações tradicionais vivem ameaçadas pela falta de água, rios e
riachos estão secando a cada momento, as cabeceiras dilaceradas pelo avanço da
silvicultura. Os modos de vida estão passando por um processo lento de
transformação social. No município de Urbano Santos por exemplo, a água dos
rios e riachos que abastecem as comunidades rurais é sugada pelos mais de 50
mil hectares de eucalipto plantado no território, este projeto além dos
problemas de impactos ecológicos, agrava-se ainda mais os conflitos fundiárias que já se
arrastam em nossa região desde décadas passadas, de um lado os camponeses e do
outro a Empresa Suzano Papel e Celulose.
As
plantações de eucalipto acabam com as nascentes dos rios, a espécie não traz
nenhum benefício para as comunidades. A reforma agrária parada no tempo,
titulações e regularizações de terras, processos tramitando no INCRA e no
ITERMA desde décadas e nada resolvido, entra governo e sai governo. Rios
importantes do Território do Baixo Parnaíba como o Preguiças, Parnaíba e outros,
lagoas, Rio Mocambo e Boa Hora há 20
anos atrás eram muito diferentes –, volumosos, enchiam no período do inverno,
com fartura de peixes e água a vontade, transbordavam além de suas margens, irrigando a terra para o florescimento e
desenvolvimento dos produtos da agricultura familiar nas roças camponesas. Todos
esses rios e fontes naturais estão em situações lamentáveis hoje em dia. As
nascentes ameaçadas por empreendimentos que só destroem a natureza. Os
trabalhadores rurais nascidos e criados nestas comunidades aprendem na prática
como valorizar seu espaço de sobrevivência, aprendem a nadar desde criança. Os modos
de vida de um camponês não pode ser comparado com o de uma pessoa que mora na
grande metrópole, são culturas diferenciadas... um lavrador precisa da terra,
da água para se manter. As populações urbanas também necessitam e muito da água
que vem do interior... esta água a cada momento fica mais rara, cara e aos
poucos desaparece. As bandeiras de lutas dos movimentos em defesa das
comunidades tradicionais devem ser hasteadas novamente neste chão, regado de
sangue e suor de muitos companheiros e companheiras que tombaram nessa guerra. As
velhas organizações do Baixo Parnaíba que conseguiram muitas conquistas há
alguns anos, tem que se reerguer e juntas darem as mãos em novas batalhas no
enfrentamento de velhos problemas, numa visão coletiva de que uma outra
história será possível. As comunidades querem paz, segurança alimentar e
desenvolvimento sustentável e solidário... água para crescer, para beber...
para viver!
Rio Preguiças - Comunidade Santa Filomena, Baixo Parnaíba |
José Antonio Basto
(98) 98607-6807
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