segunda-feira, 21 de março de 2016

A caçada, a chapada e a grota da bicuíba

Descíamos a grota da bicuíba (riacho) que corta as comunidades de Riacho Seco, Guarimã e Pequi, no município de Urbano Santos, Baixo Parnaíba. A ideia de voltar àquelas velhas trilhas que há muito tempo não os visitara, foi na verdade um convite de caçada do compadre Nego Veio e Tio Donato - os dois são trabalhadores rurais da comunidade Pequi e antigos conhecidos dos meus pais e avós, eles caçam de vez em quando para o sustento de suas famílias, mas também não abusam do que a chapada lhes oferecem como a casa os frutos naturais. Os cachorros enveredavam-se com seus grunhidos meio que esquisitos... eu por não ter experiência de caça, apenas o acompanhavam para poder descrever a aventura. Vida de caçador não é tão fácil como se pensa; sabe-se que a caça predatória é proibida, disso todos sabem, mas as atividades de subsistência em seus manejos tradicionais, as práticas seculares passadas de pai para filhos não são proibidas, no entanto que seja de forma equilibrada. Os caminhos eram estreitos e a água da chuva respondia violentamente nas barreiras dos grotiões batendo nas ladeiras e descidas de pedras. Os trovões naquela tarde eram como tiros de canhões e os relâmpagos assombravam para o lado leste. Não demorou muito, os cachorros “trabalharam acuados”, ou seja os cães cercaram um bicho, uma caça: era uma cotia que adentrara num buraco. Os latidos eram fortes e ecoavam sobre as barreiras da grota, os caçadores conseguiram a cotia que virava almoço com leite de côco babaçú no dia seguinte. Já era tardinha, quando o Tio Donato perguntou se podíamos passar pela chapada para pegar alguns pequis e bacuris. Fomos então, pois a chapada estava estralada de pequi no chão, bacuri bem pouco, mas restava alguns poucos frutos debaixo dos pés. Ajuntamos o que podemos e colocamos no côfos - avistava-se dali, na parte mais inclinada da chapada os últimos raios de sol ao morrer da tarde; tiros de espingarda zuniam, era caçadores em suas esperas para os lados da Comunidade São José. Descemos para casa e quando chegamos já era noite. As experiências de voltar aqueles lugares foi mais uma forma de descrever a cultura camponesa, que em sua grande parte está ameaçada por grileiros, latifundiários e empresas que invadiram a Região do Baixo Parnaíba Maranhense. Muitas são as comunidades que precisam de proteção em seus territórios de caça, pesca e extrativismo; essas comunidades vivem dos recursos naturais que a terra e as águas lhes dão, mas esses recursos estão pouco a pouco desaparecendo. Os camponeses sabem sobreviver do seu modo, não agredindo a natureza em harmonia com o meio ambiente. A caçada pelas chapadas e grotas da bicuíba foi mais uma escola de vida e aprendizado, um capítulo particular da história desses povos junto à cultura tradicional daquela importante gente trabalhadora e humilde de coração.
                                                                          
José Antonio Basto
(98) 98607-6807


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