Descíamos a grota da bicuíba (riacho)
que corta as comunidades de Riacho Seco, Guarimã e Pequi, no município de
Urbano Santos, Baixo Parnaíba. A ideia de voltar àquelas velhas trilhas que há
muito tempo não os visitara, foi na verdade um convite de caçada do compadre Nego
Veio e Tio Donato - os dois são trabalhadores rurais da comunidade Pequi e
antigos conhecidos dos meus pais e avós, eles caçam de vez em quando para o
sustento de suas famílias, mas também não abusam do que a chapada lhes oferecem
como a casa os frutos naturais. Os cachorros enveredavam-se com seus grunhidos
meio que esquisitos... eu por não ter experiência de caça, apenas o
acompanhavam para poder descrever a aventura. Vida de caçador não é tão fácil
como se pensa; sabe-se que a caça predatória é proibida, disso todos sabem, mas
as atividades de subsistência em seus manejos tradicionais, as práticas seculares
passadas de pai para filhos não são proibidas, no entanto que seja de forma equilibrada.
Os caminhos eram estreitos e a água da chuva respondia violentamente nas
barreiras dos grotiões batendo nas ladeiras e descidas de pedras. Os trovões
naquela tarde eram como tiros de canhões e os relâmpagos assombravam para o
lado leste. Não demorou muito, os cachorros “trabalharam acuados”, ou seja os
cães cercaram um bicho, uma caça: era uma cotia que adentrara num buraco. Os
latidos eram fortes e ecoavam sobre as barreiras da grota, os caçadores
conseguiram a cotia que virava almoço com leite de côco babaçú no dia seguinte.
Já era tardinha, quando o Tio Donato perguntou se podíamos passar pela chapada
para pegar alguns pequis e bacuris. Fomos então, pois a chapada estava
estralada de pequi no chão, bacuri bem pouco, mas restava alguns poucos frutos debaixo
dos pés. Ajuntamos o que podemos e colocamos no côfos - avistava-se dali, na
parte mais inclinada da chapada os últimos raios de sol ao morrer da tarde; tiros
de espingarda zuniam, era caçadores em suas esperas para os lados da Comunidade
São José. Descemos para casa e quando chegamos já era noite. As experiências de
voltar aqueles lugares foi mais uma forma de descrever a cultura camponesa, que
em sua grande parte está ameaçada por grileiros, latifundiários e empresas que
invadiram a Região do Baixo Parnaíba Maranhense. Muitas são as comunidades que
precisam de proteção em seus territórios de caça, pesca e extrativismo; essas
comunidades vivem dos recursos naturais que a terra e as águas lhes dão, mas
esses recursos estão pouco a pouco desaparecendo. Os camponeses sabem
sobreviver do seu modo, não agredindo a natureza em harmonia com o meio
ambiente. A caçada pelas chapadas e grotas da bicuíba foi mais uma escola de
vida e aprendizado, um capítulo particular da história desses povos junto à
cultura tradicional daquela importante gente trabalhadora e humilde de coração.
José Antonio Basto
(98) 98607-6807
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