terça-feira, 1 de setembro de 2015

A chapada corre com medo do agronegócio


Chapada da comunidade Bebedouro - Baixo Parnaíba - MA
No momento ela estava ali parada, inconformada com as mazelas que o agronegócio lhe causara, danos irrecuperáveis de muitos anos atrás... frutos da desgraça e ignorância das plantações de eucaliptos, soja e outros monocultivos. Ela chorava se lamentando num grito que ecoou céus e mares! Seus bacurizais foram cortados, seus animais expulsados da floresta para outros lugares distantes... foi por causa disso que ela disparou correndo veloz como se fosse um vento leste, fugia da intolerância humana e procurava sonhar com uma outra realidade. As arvores caminhavam carregando seus frutos como mães carregam seus filhos a tiracolo, atravessavam rios que também se reclamavam da poluição. Anoitecia e amanhecia... ala continuava correndo... correndo... correndo com medo da devastação implacável. Muitos dias se passaram - passaram-se meses, décadas e séculos – mil anos correu o calendário, a chapada relembrara sua forma natural quando tudo era diferente, quando não existia ganancia, quando naquela época tinha muita fartura de pequis, mangabas, candeias, favas e outras espécies já não mais encontradas hoje em dia. Mas um mal alastrou-se a região donde ela vivia, a terra foi afetada por agrotóxicos e outros produtos... aviões ensombreiavam os capins, cuspindo veneno forte, estes venenos não fica apenas nas chapadas mas escorrem para outros capões de mato: dos cocais aos carrascos. A chapada parou em um lugar desabitado para descansar de sua viagem sem rumo, viu o céu nublado que parecia chover mas não choveu, não caiu água do céu porque a chuva vem desta e de outras chapadas, pois se as árvores foram transformadas em carvão nos fornos e baterias é claro que não vai chover mais. A chapada chama a chuva no cerrado –, este cerrado que agora é só eucalipto, soja e carvão. As nuvens carregadas de água desceram a procura de refugio seguro para despejar sua matéria. A chapada apressou seu passo e seguiu caminho com suas pernas tortas cambaleando pelas veredas do destino... esperando justiça e um outro mundo possível.

José Antonio Basto
bastosandero65@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário