Chapada da comunidade Bebedouro - Baixo Parnaíba - MA |
No
momento ela estava ali parada, inconformada com as mazelas que o agronegócio
lhe causara, danos irrecuperáveis de muitos anos atrás... frutos da desgraça e ignorância
das plantações de eucaliptos, soja e outros monocultivos. Ela chorava se
lamentando num grito que ecoou céus e mares! Seus bacurizais foram cortados,
seus animais expulsados da floresta para outros lugares distantes... foi por
causa disso que ela disparou correndo veloz como se fosse um vento leste, fugia
da intolerância humana e procurava sonhar com uma outra realidade. As arvores
caminhavam carregando seus frutos como mães carregam seus filhos a tiracolo,
atravessavam rios que também se reclamavam da poluição. Anoitecia e
amanhecia... ala continuava correndo... correndo... correndo com medo da
devastação implacável. Muitos dias se passaram - passaram-se meses, décadas e
séculos – mil anos correu o calendário, a chapada relembrara sua forma natural
quando tudo era diferente, quando não existia ganancia, quando naquela época
tinha muita fartura de pequis, mangabas, candeias, favas e outras espécies já
não mais encontradas hoje em dia. Mas um mal alastrou-se a região donde ela
vivia, a terra foi afetada por agrotóxicos e outros produtos... aviões ensombreiavam
os capins, cuspindo veneno forte, estes venenos não fica apenas nas chapadas
mas escorrem para outros capões de mato: dos cocais aos carrascos. A chapada
parou em um lugar desabitado para descansar de sua viagem sem rumo, viu o céu
nublado que parecia chover mas não choveu, não caiu água do céu porque a chuva
vem desta e de outras chapadas, pois se as árvores foram transformadas em
carvão nos fornos e baterias é claro que não vai chover mais. A chapada chama a
chuva no cerrado –, este cerrado que agora é só eucalipto, soja e carvão. As nuvens
carregadas de água desceram a procura de refugio seguro para despejar sua
matéria. A chapada apressou seu passo e seguiu caminho com suas pernas tortas
cambaleando pelas veredas do destino... esperando justiça e um outro mundo
possível.
José Antonio Basto
bastosandero65@gmail.com
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