Era manhã cedo quando eu
adentrava por aqueles velhos caminhos com meu alforje de lado e um frito em
direção a comunidade Riacho Seco, nos extremos limites dos Povoados Guarimã e
Cocalinho. Atravessava-se grotiões, tabocais e avalanches. Avistava-se ao sair
da chapada do outro lado dos carrascos os bacurizeiros mesmo sem frutos, mas
com suas flores e belezas naturais como obra do criador, aquelas arvores já
quase em extinção em sua totalidade na chapada do meio. Os bacurizeiros ali
dividem seu espaço natural com a ótica dos campos devastados por gaúchos.
Aquela chapada que antes era um verdadeiro pomar natural com espécies diversificadas
tais como: mangaba, puçá, pitomba-de-leite, murici vermelho e muitas outras,
elas morreram; pássaros que ajudavam na distribuição das sementes já também não
se ouve seus cânticos e batido das asas; animais silvestres como paca, veado,
peba, tatu que ajudavam no equilíbrio da natureza já não se ver nem suas
batidas; tudo isso causado pelo impacto ambiental e devastação descontrolada.
Mas os bacurizeiros lá resistem tudo isso, mesmo sabendo que um dia poderão
expirar no sopro profundo da inexistência. Eu descia daquela chapada rumo aos
cocais pela grota da bicuiba trilhando as capoeiras das nossas antigas roças de
mandioca. As veredas fechadas com cipós e macambiras, o riacho da bicuíba que
alimenta os bacuris da chapada ainda resta em seu grau de pureza em meio à
impureza da intolerância humana, pois sua nascente felizmente por pouco não foi
atingida diretamente pela destruição. Descia pisando n`água levemente para não
espantar as piabas, até que sai no caminho e nas casas do Povoado Pequi. Ficara
então na lembrança a luta dos bacurizeiros da chapada do meio que enfrentam
desafios para sobreviverem -, vivem na resistência assim como quase todos os
bacurizeiros das belas chapadas do baixo parnaíba maranhense. Os bacuris são
frutos especiais para nossa alimentação e sustentação da saúde: o bacuri é rico em várias vitaminas, possui
alguns nutrientes em quantidades notáveis de fósforo, potássio, ferro, cálcio e vitamina C, e é
sobretudo consumido cru ou em forma de suco. Sua casca também é aproveitada na
culinária regional e o óleo extraído de suas sementes é usado como
anti-inflamatório e cicatrizante na medicina popular e na indústria de
cosméticos. Precisamos preservar os bacurizeiros de todas nossas chapadas, pois
se você não sabia o bacuri também traz muitos benefícios para nossa saúde: é
considerado um remédio eficaz para picadas de aranha, é também utilizado no
tratamento de problemas de pele e dor de ouvido, a manteiga de bacuri também é conhecida e ajuda na
remoção de manchas na pele e renova o tecido de cicatrizes, o óleo de amêndoas
do bacuri é utilizado para o
tratamento de eczema, é considerado um remédio natural contra reumatismos, além
disso o bacuri também é usado medicinalmente no tratamento de artrites. Esses
são alguns dos tantos outros itens que o bacuri nos oferece. Infelizmente muitas
pessoas não respeitam esses valores, destruindo os bacurizais, o bioma das
chapadas, a biodiversidade... a vida. Precisa-se de ações e consciência
ecológica! “Um outro mundo é possível”.
José Antonio Basto
Militante dos
Direitos Humanos email: bastosandero65@gmail.com
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