O dia
pairava como uma túnica bege, a data era 04/07/2015. Aquela manhã nublada
estava bonita de se ver, os ventos do leste já anunciavam as chuvas da tarde, mas
mesmo assim a ideia seguiu avante de enfrentarmos mais de 42km de chão até o
destino planejado. A viagem não foi muito confortável em cima da carroceria da
caminhonete, pois o sol batia forte na pele, atravessavam-se lugarejos e
assentamentos – lagoas e pontes rudimentares. Por fim cruzamos as colinas da Estiva
da Mangabeira - já podia se avistar as mangueiras da Boa União ao lado do São
Raimundo. E então após 12km, por fim adentramos na comunidade que fica na
encosta do morro entre o brejal e a chapada. As crianças acenavam mostrando a
humildade daquela gente, os olhos esperançosos de futuros guerreiros de combate
pela preservação do meio ambiente e pela Reforma Agrária, meninos e meninas das
chapadas que sabem manejar o extrativismo do bacuri.
A Francisca
tinha marcado aquela reunião com antecedência por intermédio do STTR para
explicação e tira-dúvidas do processo de recadastramento sindical dos moradores
da comunidade. Não demorou muito para a população se reunir na sede da escola.
Antes de começar, tomamos café com farinha d` água e peixe assado –, peixinhos do
Rio Preguiças que passa no São Raimundo. Os peixes e camarões que serve também
como fonte de sobrevivência da comunidade ainda são encontrados com fartura
nessa época do ano, motivo esse comprovado pelo grau de consciência ecológica
da comunidade na preservação dos igarapés, junqueiras e buritizeiros. As
mulheres, muitas delas com seus bebes de colo, outras grávidas com seus
barrigões, atentas nas palavras da Noemia – atual presidente do STTR, que
falava do recadastramento (acordo firmado entre a CONTAG e o Governo Federal e
também o apoio da causa na luta pela terra em processo de titulação). Quando me
passaram a palavra fiz questão de acrescentar um pouco respeito do processo de
recadastramento, mas não podia esquecer de relembrar em voz alta a BATALHA DO
POVOADO SÃO RAIMUNDO NO QUE SE DIZ RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS. Uma comunidade
modelo que tomou consciência de lutar pela posse da terra, de proteger a
chapada e toda biodiversidade, sendo este o espaço cultural de onde produz seus
alimentos. A associação travou e continua travando diversas lutas contra os
latifundiários e a Suzano, em quase todas as instancias os camponeses e
camponesas tem vencido com o apoio dos companheiros e alguns órgãos de defesa
que abraçaram esta causa nobre. Outras comunidades do Baixo Parnaíba Maranhense
se espelham na garra que o São Raimundo tem de pensar diferente, em defender
seus direitos sociais e sobretudo a vida. As chapadas do São Raimundo, Bom
Princípio e Bracinho são as mais belas da região.
A reunião
não durou muito tempo, mas o recado foi passado. Ficou na lembrança aquela
atividade importante e as palavras de conforto e de incentivo para a luta em
defesa dos direitos. Já era quase meio dia e tínhamos que fazer mais três
reuniões, duas na Boa União e outra na Santa Filomena. Poderíamos ter almoçado
no São Raimundo, nos avisaram que seria galinha caipira com arroz novo que a Francisca
preparara, infelizmente não deu certo para almoçarmos lá. Voltamos para outros
compromissos com saudade daquele povo, cortando velhos caminhos de pedras e
barrocas com uma vista exuberante dos baixões e a mata que caia no horizonte
sobre o canto dos pássaros jandaias.
José Antonio Basto
(98)98890-4162
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