segunda-feira, 6 de julho de 2015

POVOADO SÃO RAIMUNDO: UM ESPELHO DE LUTAS PELOS DIREITOS HUMANOS


O dia pairava como uma túnica bege, a data era 04/07/2015. Aquela manhã nublada estava bonita de se ver, os ventos do leste já anunciavam as chuvas da tarde, mas mesmo assim a ideia seguiu avante de enfrentarmos mais de 42km de chão até o destino planejado. A viagem não foi muito confortável em cima da carroceria da caminhonete, pois o sol batia forte na pele, atravessavam-se lugarejos e assentamentos – lagoas e pontes rudimentares. Por fim cruzamos as colinas da Estiva da Mangabeira - já podia se avistar as mangueiras da Boa União ao lado do São Raimundo. E então após 12km, por fim adentramos na comunidade que fica na encosta do morro entre o brejal e a chapada. As crianças acenavam mostrando a humildade daquela gente, os olhos esperançosos de futuros guerreiros de combate pela preservação do meio ambiente e pela Reforma Agrária, meninos e meninas das chapadas que sabem manejar o extrativismo do bacuri.

A Francisca tinha marcado aquela reunião com antecedência por intermédio do STTR para explicação e tira-dúvidas do processo de recadastramento sindical dos moradores da comunidade. Não demorou muito para a população se reunir na sede da escola. Antes de começar, tomamos café com farinha d` água e peixe assado –, peixinhos do Rio Preguiças que passa no São Raimundo. Os peixes e camarões que serve também como fonte de sobrevivência da comunidade ainda são encontrados com fartura nessa época do ano, motivo esse comprovado pelo grau de consciência ecológica da comunidade na preservação dos igarapés, junqueiras e buritizeiros. As mulheres, muitas delas com seus bebes de colo, outras grávidas com seus barrigões, atentas nas palavras da Noemia – atual presidente do STTR, que falava do recadastramento (acordo firmado entre a CONTAG e o Governo Federal e também o apoio da causa na luta pela terra em processo de titulação). Quando me passaram a palavra fiz questão de acrescentar um pouco respeito do processo de recadastramento, mas não podia esquecer de relembrar em voz alta a BATALHA DO POVOADO SÃO RAIMUNDO NO QUE SE DIZ RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS. Uma comunidade modelo que tomou consciência de lutar pela posse da terra, de proteger a chapada e toda biodiversidade, sendo este o espaço cultural de onde produz seus alimentos. A associação travou e continua travando diversas lutas contra os latifundiários e a Suzano, em quase todas as instancias os camponeses e camponesas tem vencido com o apoio dos companheiros e alguns órgãos de defesa que abraçaram esta causa nobre. Outras comunidades do Baixo Parnaíba Maranhense se espelham na garra que o São Raimundo tem de pensar diferente, em defender seus direitos sociais e sobretudo a vida. As chapadas do São Raimundo, Bom Princípio e Bracinho são as mais belas da região.

A reunião não durou muito tempo, mas o recado foi passado. Ficou na lembrança aquela atividade importante e as palavras de conforto e de incentivo para a luta em defesa dos direitos. Já era quase meio dia e tínhamos que fazer mais três reuniões, duas na Boa União e outra na Santa Filomena. Poderíamos ter almoçado no São Raimundo, nos avisaram que seria galinha caipira com arroz novo que a Francisca preparara, infelizmente não deu certo para almoçarmos lá. Voltamos para outros compromissos com saudade daquele povo, cortando velhos caminhos de pedras e barrocas com uma vista exuberante dos baixões e a mata que caia no horizonte sobre o canto dos pássaros jandaias.

José Antonio Basto
(98)98890-4162

 

 

 

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