Foi naquela data de 2011, onde
os homens, mulheres, crianças e idosos juntos enfrentaram os tratores da Suzano
em defesa do território que há muito tempo já vinham lutando para conseguir
aquela área. A reforma agrária tão
sonhada em nosso país em seus pontos determinados, muitos daqueles que gritam
vendo a passagem do tempo às vezes deixa até de acreditar em meio a tantas
injustiças e desacato aos direitos humanos no campo. Falta de coragem não foi o
caso do Irmão Francisco com seu grupo de guerreiros destemidos que estavam
dispostos a brigar com a empresa que no inicio da questão até tentou enganar a
associação com 400 hectares de terra. Mas algo de errado existia ali, a chapada
era e continua sendo muito visada para as plantações de eucalipto e o brejo
para a famosa captação de água ilegal nos caminhões-pipa. O pensamento coletivo
da associação de requerer todas aquelas áreas não apenas as 400 hectares, mas
muito mais para que assim as famílias pudessem trabalhar em paz num espaço
suficiente produzindo seus sistemas agrícolas e coletando os frutos que a
chapada oferece. Tanto tempo esperando desde os primeiros sentimentos do líder
e patriarca da família o saudoso Gabriel Alves de Araújo que deixara seu legado
de respeito e dedicação para seus filhos e netos. Não foi por acaso que a
associação recebeu seu nome, diga-se de passagem, mas com certeza foi a
homenagem mais merecida para tão importante pessoa. Naquele tempo o movimento
social ainda estava com forças, as formações de trabalhadores rurais na diocese
e nas próprias comunidades... seminários por todo Baixo Parnaíba abriram os
olhos das lideranças em não desistir de lutar pelos seus sonhos. O Bracinho,
assim como o São Raimundo, Lagoa das Caraíbas e Baixão da Coceira - estes
povoados são exemplos na região de resistência contra o sistema agroexportador
que sempre destruiu as chapadas, olhos d`água, nascentes lagoas, capões
sagrados, bacurizais e florestas em geral. O modelo capitalista de expropriação
das terras no Baixo Parnaíba nunca fez nada por estas comunidades tradicionais,
além do legado de desrespeito ecológico e social. Em meio a tudo isso ainda há
quem diga que o agronegócio assegura mais de 40% da economia no país, ele pode
ter mesmo sua parcela de contribuição econômica, mas infelizmente não chega a
suprir as necessidades dos homens e mulheres do campo, onde estes camponeses e
camponesas das águas e das florestas conseguem através da agricultura familiar
sustentar os mais de 65% do alimento que vai para nossas mesas. O povo do
Bracinho vem fazendo parte dessa história de lutas: primeiro declararam guerra
contra quem queria tomar suas terras, depois conseguiram o título de mais de
três mil hectares, um assentamento que assim como tantos outros enfrentam agora
outras batalhas burocráticas como é o caso do pagamento do título ao estado no
valor de R$ 80.000 mil reais. A concretização da reforma agrária talvez seja a
peleja mais árdua que os trabalhadores enfrentam, pelo fato do processo burocrático
de atualização de dados nos órgãos competentes, uma vez que o estado nunca
perde na jogada, pois já não basta os enfrentamentos, o tempo e derramamentos
de sangue pela posse da terra - é neste caso que afirma-se em críticas que no
Brasil ainda não foi feito uma reforma agrária massiva como rege o PADRSS –
Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, existe
apenas uma rudimentar política de assentamentos fundiários que não consegue
atender as demandas – principalmente aqui no Maranhão, sendo o nosso estado um
dos campeões em conflitos agrários e socioambientais. Se ver alegria na face da
gente moradora do Bracinho que tanto se orgulha de terem lutado lado a lado e
concretizado parte de sua vitória: o título (documento) que garante o direito
de propriedade coletiva e social para o bem comum de todos e todas. Viva a luta
da comunidade Bracinho no território livre do Baixo Parnaíba Maranhense!
José Antonio Basto
Militante dos Direitos Humanos
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