terça-feira, 17 de março de 2015

A expropriação das terras, conflitos e lutas dos camponeses no Baixo Parnaíba


O livro “CONFLITOS E LUTAS DOS TRABALHADORES RURAIS NO MARANHÃO”, de Alfredo Wagner, publicado em 1982, mesmo ano do meu nascimento – quando na época o saudoso Pe. Xavier Gilles de Maupeou d`Ableiges coordenava a CPT – Maranhão, pois relendo pude perceber que a obra deixa bem claro em sua página 09 (nove) ao se tratar do subtítulo “CONFLITOS DE TERRAS” – onde refletia nessa direção sobre o impacto ambiental causado pelos desmatamentos em nosso estado; o texto diz: “Os correntões tão eficazes nos desmatamentos são conhecidos e semeiam pavor entre os lavradores porque além da destruição total e completa da flora eliminam indiscriminadamente a fauna”.
Esse mesmo livro voltando um pouquinho em sua página 04 (quatro) já profetizava nos levantamentos de abrangência nacional que o Maranhão naquele período era o estado que apresentava um dos maiores, senão o maior número de conflitos fundiários no Brasil; observava-se que nessas pesquisas da CPT – Secretaria Nacional, que cobriu o ano de 1979 e se estendendo até julho de 1981, os dados referentes ao Maranhão assinalavam 207 (duzentos e sete) conflitos de terras, envolvendo 67.184 (sessenta e sete mil cento e oitenta e quatro) famílias de camponeses ameaçadas, mas um dos índices mais assombrosos daqueles estudos foi as 7.706,075 (sete milhões setecentos e seis mil e setenta e cinco) hectares de terras em disputa, segundo a própria CPT. Refletimos então que naquele levantamento há mais de três décadas, o Maranhão já apresenta em Conflitos Agrários e Socioambientais, ou seja 22,5% do total de todo território nacional.
Com isso podemos voltar a entender ou subtender sobre a expropriação das terras e a questão das lutas dos movimentos sociais pela Reforma Agrária na Região do Baixo Parnaiba com suas transformações sociais e econômicas, estas lutas por direitos e acesso à terra deve-se à guerra profética dos trabalhadores rurais que nunca aceitaram e jamais aceitarão a problemática do Agronegócio que tanto maltrata as Comunidades Tradicionais. Entendemos que o sistema de produção na Agricultura Familiar é de verdade oposto ao da monocultura do eucalipto e soja com seus imensos lucros adquiridos pela exploração dos nossos bens naturais. O Agronegócio nada tem a oferecer para as comunidades a não ser seu processo devastador e selvagem das chapadas onde fica as nascentes dos rios e riachos da região, avassalando todo bioma. Infelizmente o Baixo Parnaíba foi modificado desde o final de 70 até os dias de hoje, quem vem sofrendo a míngua na verdade são as famílias camponesas que utilizam de suas práticas tradicionais assim sobrevivendo dos recursos minerais e vegetais com base nos manejos agrícolas e extrativistas, estas são vítimas de tão grande desacato aos Direitos Humanos e da Vida. Os Conflitos Fundiários no Baixo Parnaíba como por exemplos nos municípios de Urbano Santos e Santa Quitéria, merecem destaque em especial nesta página as lutas travadas em São Raimundo onde sua gente despertou que a batalha coletiva contra o agronegócio e em defesa das chapadas pode levar a grandes conquistas. As chapadas do São Raimundo são espaços de onde os moradores tiram parte de suas rendas do bacuri e as roças de subsistências que são localizadas nas redondezas. Pois a consciência de lutar partiu do entendimento das formações em que seus líderes vem participando, como a Francisca – atual Presidente da Associação. Ainda deve-se nesse aspecto o grande apoio em projetos sociais que entidades como o Fórum Carajás passou a desenvolver por lá, os galinheiros, Manejos do bacuri e frutos do cerrado e roças agroecológicas para suprir então as necessidades da comunidade. Em Santa Quitéria acentua-se a Lagoa das Caraíbas que recebeu seu titulo do ITERMA ainda pouco tempo e Baixão da Coceira que também pelejou contra a Suzano. É inaceitável que a Suzano e grupos de latifundiários vem usufruindo com vendas de áreas do Território Livre do Baixo Parnaíba Maranhense. Sabemos que muitos são os entraves e avalanches na região, pois as comunidades muito ainda tem que conquistar, em meio a essa luta: os trabalhadores de um lado e o agronegócio do outro as relações sociais são em nossos povoados bastante preocupantes. Infelizmente a corda sempre quebra do lado mais fraco – isso não querendo dizer, muito menos desanimar os camponeses e movimentos sociais, mas sobretudo alertá-los para uma questão mais do que real para NUNCA DESISTIR DE LUTAR PELOS SEUS DIREITOS SOCIAIS.
O Baixo Parnaíba é livre, nossas chapadas não aguentam mais tanto sofrer... o veneno devastador que mata todas as vidas da terra, das águas e do ar. Nossas reivindicações haverão de dá continuidade em todos os campos, em todos os lugares, na proteção do bioma e nas causas mais eficazes das famílias que moram nos assentamentos; ribeirinhos; quilombolas... todas as populações tradicionais que habitam o Território num grito coletivo... na corrente de mãos dadas reerguendo as lutas pela REFORMA AGRÁRIA, sem utopia, com realidade e realizações de direitos. 

José Antonio Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos
(98) 98890-4162
 

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