quinta-feira, 10 de julho de 2014

SÃO RAIMUNDO, BAIXO PARNAIBA MARANHENSE: UM PEDAÇO DO MUNDO


Mayron do Fórum Carajás, eu e Dona Francisca - degustando pato ao molho pardo: iguaria tradicional.
Visitar a comunidade tradicional do Povoado São Raimundo – zona rural do município de Urbano Santos é muito gratificante, as pessoas de São Raimundo nos prendem toda a atenção, pessoas estas humildes, honestas e trabalhadoras. Sábado passado cinco de julho, fui visitar a comunidade porque bateu uma saudade de degustar as comidas típicas da região e rever velhos amigos de lutas como Francisca -, a presidente da associação do povoado. Para minha sorte é tempo de peixe no rio que passa no povoado, assim que cheguei soube que o Zé, esposo da Francisca estava pescando e conseguiu alguns peixinhos que Francisca fez moqueca para o jantar. Após a janta fomos conversar sobre as questões referentes à luta pela terra, os projetos do Povoado levados pelo Fórum Carajás e a militância da comunidade em defesa das chapadas e preservação das espécies vegetais do bioma. Por mera consciência o Irmão Francisco corajoso presidente da Associação do Povoado Bracinho foi passando no momento e parou para a conversa. Irmão Francisco me perguntou como tinha sido a viagem e o evento do Encontro e Feira dos Povos do Cerrado que aconteceu em Brasília-DF, de 05 a 06 de junho desse ano, do qual eles eram para participar também, mas por algum motivo maior não puderam se deslocar de suas comunidades para a viagem do dia 03/06. Em fim, expliquei o que aconteceu durante o evento que para mim foi uma grande experiência e aprendizado, no entanto. Surgiu uma ideia de fazermos um seminário sobre a luta das comunidades tradicionais em defesa das chapadas incluindo então moradores representantes dos dois povoados (Bracinho e São Raimundo), ficando a principio a hipótese do seminário acontecer na comunidade Bracinho. Vamos alimentar esse ponto para dar subsídios e encorajar cada vez mais a luta pela reforma agrária na região em especial São Raimundo, Bom Princípio e Bracinho. Ficou algumas coisas acertadas e outras para concluir com o tempo, mas a data deste futuro seminário deve acontecer em agosto deste ano. Irmão Francisco se despediu e pegou a estrada, já era por volta das vinte horas. Eu estava bastante cansado e com a janta deliciosa bateu um sono adormecedor. Dormi no silêncio da noite e com o cantar dos caburés para o lado de cima da mata, tudo quieto e diferentemente da cidade, pude relaxar a noite inteira. Acordei acho que duas vezes pela madrugada frienta. Pela manhã cedo levantei da rede com uma preguiça para tomar café, Francisca acordou cedo, pois mãe de família sempre acorda cedinho para passar o café. Ovos de galinha caipira e moquequinha de peixes que ficou foi a iguaria do café da manhã, muito bom... tudo caipira e preparado com gosto. Fiquei mais algumas horas da manhã de domingo 06, mas tinha que voltar para Urbano Santos e a estrada não estava muito boa. Despedi-me de Francisca e do Zé... peguei a estrada de volta. Ficou na lembrança os momentos que passei em São Raimundo aquele pedaço de mundo que tem ponto importante na história de hospitalidade e generosidade para com as pessoas. Conscientes de um mundo melhor para todos, a coletividade desta gente vem superando desafios internos e contra latifundiários. Sempre batalharam e através de formações descobriram que são importantes numa região de conflitos fundiários: o Território Livre do Baixo Parnaiba Maranhense, que já foi palco de lutas desde tempos remotos nos reflexos dos combates dos índios tremembés e a insurreição dos balaios no século XIX. Esse pedaço de chão apesar da grande diferença social é uma terra que quem a conhece não esquece jamais.  
  
(JOSÉ ANTONIO BASTO)
Julho de 2014

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