Quanto tempo sem te
ver/ Hoje eu quero recordar/ Os seus beijos seus carinhos/ Que eu não consigo
esquecer/ Eu não sei por onde andas / Talvez nem lembre o que passou / Mas eu
não esqueci ainda / Serás sempre o meu amor. Refrão: “Vou
vivendo/ E só te encontro nos meus sonhos / E cada dia mais distante / Dos
olhos que não posso ver”. Assim é a
música de Bartô Galeno, um dos maiores ícones do brega romântico brasileiro. O
“Eu” lírico adentra no mais profundo sofrimento amoroso, numa intensa saudade
da mulher amada tentando recordar momentos vividos e não vividos quando juntos
eram felizes. Os afagos do coração dilacerado pela saudade incontrolável deixa
no ar as chamas do pranto derramado pela dor de não ter lutado em busca da
felicidade junto a pessoa amada. A encarnação de não conseguir esquecer o único
amor fica abismado e indeciso de acreditar se o seu amor ainda lembra de alguma
coisa, pois o ser que clama e sonha com mais uma chance reafirma com pura convicção
e sem medo de recordar que ainda ama de todo coração. Melancolicamente o “Eu”
lírico tenta viver mesmo sabendo que há tempo foi condenado a penar por amor, a
fantasia então nesse instante entra em cena na proporção em que o mesmo diz que
só encontra a pessoa amada em seus sonhos, fazendo morada um ar de platonismo
sobrenatural que aquela alma até então imaginada gêmea está a cada momento mais
distante da ótica que o amante não pode ver. Para acentuar é importante saber
que a coisa que se diz “amor” desde os primórdios da humanidade que é cantado
por poetas e cantores, pois atire a primeira pedra quem nunca passou por essa
experiência no que se diz respeito algum relacionamento. Temas como saudade,
sofrimento, sonho, distancia... em fim são tijolos que compuseram e compõe a
construção de uma boa poesia. Sabe-se de práxis que a tristeza amorosa se torna
bonita em música. Quando se estuda o ensino médio, os alunos são obrigados a
passar por vários períodos literários (escolas literárias e movimentos de
épocas), são muitos no currículo, mas o curioso é que apesar de tantos períodos
o mais marcante foi o “Romantismo” - com a melancolia de sempre, pode até ser
chato ainda nos dias de hoje se falar em pessoas românticas que escrevam
cartinhas de amor decoradas. Chegou um tempo em que os cavaleiros tratavam suas
damas com respeito... era o tempo do tradicionalismo das serenatas nas calçadas
e janelas, o tempo em que as músicas tinham letras, tempos estes que não voltam
mais. Isso ainda se pode perceber na lírica de Bartô Galeno e de muitos nomes
da MPB. A música romântica tem suas grandes diferenciações dos outros estilos e
gêneros é um martelo que bate e zine no eco que o mundo inteiro ouve sua
pancada. Em “Os olhos que não posso ver”
esses conjuntos de virtudes estão interligados sobre um fio condutor que leva
as personagens junto a um mundo de ilusão que pode ser tornar real dependendo
da força de vontade para a realização desejada. Castro Alves -, poeta da
terceira fase do romantismo no Brasil completa a temática dessa explicação em
seus versos: “O coração é o colibri dourado / Das veigas puras do jardim do céu.
/ Um - tem o mel da granadilha agreste, / Bebe os perfumes, que a bonina deu. /
O outro - voa em mais virentes balças, / Pousa de um riso na rubente flor. /
Vive do mel - a que se chama – crença -, / Vive do Aroma - que se diz – amor”. Esse é o
poder da canção e das palavras amorosas que apesar da época em que nasceram
atravessaram as barreiras do tempo. E aí
Camões estava certo quando escreveu: “Ah o amor... que nasce não sei onde, vem
não sei como, e dói não sei por quê?
JOSÉ ANTONIO BASTO
Poeta
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