José Antonio Basto e João Soares - (Brejo-MA). |
Ser amigo de uma personalidade histórica não é algo muito comum – é
algo que só o destino pode nos reservar. Há algum tempo atrás li um livro
infantil, onde nunca mais o esqueci, livro muito conhecido na educação
infantil, intitulado “O amigo do rei”- da escritora Roth Rocha. A história se
passa no tempo da escravidão aqui no Brasil;
onde brancos e negros não podiam ser amigos pelo preconceito da época. Mas na
imaginação das crianças quem manda é o coração, o sonho e a fantasia. O escravo
Matias era amigo do branco Ioiô – filho do seu patrão, os dois tinham a mesma
idade, por mera consciência do destino os dois nasceram no mesmo dia, só que um
na casa grande, o outro na senzala. Eles brincavam e brigavam assim como todas
as crianças, brigas indiferentes a qualquer lei sem saber que um dia um deles
ainda seria rei; o negro Matias que provinha de uma família real desde os
tempos de África – se tornou rei de um quilombo, Ioiô – era o amigo do rei.
Capa do livro de Alfredo Wagner. |
No encontro de comunidades rurais realizado durante
a Caravana de Direitos Humanos este ano em Brejo-MA. Tive a oportunidade de
bater um papo muito interessante sobre luta no campo e reforma agrária com o
companheiro João Luís Soares, conhecido também por Joãozinho e/ou pelo cognome
de guerra “João da DEFIA” – é um ativista dos direitos humanos, membro fundador
do STTR de Açailândia em 1981 e amigo pessoal do grande líder camponês Manoel
da Conceição e também de Pe. Josímo – que foi assassinado a mando de
fazendeiros em Imperatriz. Conceição é um homem que fez história na época da
ditadura militar na região da baixada maranhense – atuando principalmente no
território de seu Sindicato Rural em Pindaré-Mirim. Sobre Conceição: “O tempo de vida de um homem é o período histórico que reflete seu
papel na sociedade em que vive”. “Poucas pessoas resistiram viver por longos anos ameaçados de morte, na mira de uma arma muitas vezes
oculta, mas apontada para aqueles que incidiram contra o revés da história
política brasileira” – principalmente
no que diz respeito ao problema de acesso a terra. O livro: “Autonomia
e mobilização política dos camponeses do Maranhão” do escritor e pesquisador
Alfredo Wagner, acentua uma passagem de Manoel da Conceição quando o mesmo foi
baleado na perna – órgão do qual perdeu ficando deficiente para o resto da
vida. O estudante da MEB – “Movimento de Educação de Base” da Igreja Católica,
continua sendo respeitado até os dias de hoje, recebendo honrarias, prêmios e
saudações até mesmo de grandes chefes de estado como Luís Inácio Lula da Silva
– pela referencia e mito que és, pelo seu trabalho de organização dos
trabalhadores rurais, num período um tão pouco conturbado da historia de chumbo
em nosso país. Doente, vítima da violência policial que invadiu seu Sindicato,
quando se sentiu quase recuperado Conceição foi convidado por entidades da
esquerda nacional para uma viagem pela Europa, Oriente Médio e China, onde fez
cursos de aperfeiçoamento de guerrilha. Na volta, os milicos, insatisfeitos com o itinerário realizado pelo
camponês, o esperavam. Foi preso e torturado em diversas partes do país, por
onde perambulou por cadeias. Em São Paulo, foi brutalmente
espancado. Foi preso e solto na década de
setenta, nessa época vai para o exílio na Suíça, tendo lá como companheiro o Professor
e pedagogo Paulo Freire. Ambos organizavam refugiados políticos na Europa e
denunciavam as atrocidades do governo militar. Numa certa entrevista,
perguntaram a Mané da Conceição como também era conhecido: “Como o senhor conseguiu chegar aos 80 anos nesse contexto
violento? Ele responde: “Sempre disseram que eu era um matador a sangue-frio, mas nunca matei
ninguém, somente me defendi quando preciso. O que eu mais fiz na minha vida foi
destruir o latifúndio e fazer com que os pobres pudessem se apoderar da
terra”. “Entrego a minha
classe para que outros dêem continuidade a minha vida e minha obra”, conclui.
Não conheci Manoel da Conceição pessoalmente, leio livros a seu
respeito e sobre sua história. Como militante dos movimentos sociais mandei um
recado e alguns poucos e modestos trabalhos que escrevi a seu respeito por meu
amigo João da DEFIA que sempre lhe visita
em na chácara onde mora na zona rural de Santa Inês. Seria uma honra conhecê-lo
um dia. Conversei bastante durante horas com o companheiro João que contara de sua saga ao lado do
lendário líder camponês.
José Antonio Basto
Nenhum comentário:
Postar um comentário