(Imagem: José Antonio Basto -, em algum lugar do Baixo Parnaíba-MA). |
A estrada era
paralela ao nível do Rio Mocambo. O Viajante se juntava a um grupo de amigos
sindicalistas e militantes voluntários do MSTTR que se dirigiam à comunidade
Sapucaia para uma ação social destinada à família do José. O lugar fica
exatamente no encontro do Rio Preto com o Rio Mocambo.
A velha toyota bandeirantes
daquelas que não se fabricam mais, cortava a areia alinhando geograficamente
nove léguas de distância, os babaçuais apareciam logo na frente – os entraves
dos caminhos também. Praticaria os trajetos pelos antigos caminhos dos Povoados
Porto Velho, Escuta e Pequi. Este último, a terra donde o Viajante nascera e
foi criado – tornara-se repórter por necessidade de escrever e registrar sua
saga pelo leste maranhense, pulando grotas, dirigindo, pilotando motocicleta,
cavalgando e até a pé; aventurando-se pelas matas, rios e
chapadões. Chegava-se no Boqueirão dos dois rios; a casa simples do Zé
relembrara outros artigos e o alto grau de desigualdade social presente em
nossa sociedade. O capitalismo abusa de tal forma que muitos nem conseguem
enxergar seus próprios erros. Deve-se entender o que é direita e esquerda; alguém
certa vez disse que quando a esquerda vai para o poder, as vezes deixa seus princípios.
O ato dos companheiros foi de pura caridade àquela família necessitada; não
tinham o mínimo para sobreviver: uma mãe de cinco filhos pequenos que sofre de
uma doença crônica e se encontra hospitalizada na capital sem recursos
financeiros; o pai doente não pode trabalhar para sustentar sua família, caia
em depressão, mas os suprimentos e as palavras de conforto chegaram na hora
certa. Recebia dali das mãos dos companheiros do Sindicato, arroz, biscoitos,
bananas - mercearia completa e uma pequena quantia em dinheiro para os gastos
básicos. Era o que tinham para oferecer. O Zé se emocionara, não esperava
tamanho ato dos amigos que reconheciam sua bondade. Com poucas palavras agradeceu
aos amigos com gesto de generosidade. A casa da família fica exatamente na
cacuruta de um morro – um lugar estratégico, próprio para a criação de animais,
donde a vista é formidável. De lá se enxerga as copas das árvores que guardam o
encontro dos dois rios. Segundo os mais antigos; funcionava naquele lugar um
antigo porto que recebia pequenas embarcações – canoas para o transporte de
materiais vindo do interior da região e também para o descarregamento de
suprimentos na época da Balaiada. Se percebe os vestígios e elevações do solo
na beira do rio (trincheiras). Voltava-se para casa por outras veredas. O
Viajante ficara por lá mesmo – com o intuito de atravessar para as outras bandas
do “Rio dos Pretos”; pisando e adentrando em lamas, lagoas e alagadiços rumando
para o oeste. Dever cumprido! Família agradecida; acenava com as mãos! Boas
lembranças.
A ótica corria sobre
a densa mata verde e as águas pretas e barrentas do Mocambo e Rio Preto. Era o
início de outra aventura, desta vez o Viajante seguia sozinho, com seu bornal e
surrão a tiracolo. Aceitara mais um desafio como andarilho e repórter das
comunidades tradicionais. O “Boqueirão” falava em metáfora – sob o silêncio do
vento, a pena escrevia.
José Antonio Basto
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