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Pov. Gonçal dos Mouras |
A Pequena comunidade
Gonçal dos Mouras fica entre Urbano Santos e Barreirinhas. Saímos de Urbano
Santos para fazer uma reunião com os moradores, reunião essa que alimentaria a
ideia de criação da Associação dos moradores. Por que eles se interessariam em
criar uma associação, se já moram lá há décadas? Saberiam da história de luta e
conflitos em defesa da terra? Entenderiam a própria história – realidade essa
de muitas outras comunidades rurais do Baixo Parnaíba que passaram por essa
mesma experiência. Gelson Rodrigues da Silva, mais conhecido como Gelson
Ferreira – herdara esse sobrenome porque seu pai exercia a profissão de ferreiro,
homem de baixa estatura e fala ligeira e de boa memória – contara com detalhes
a tradição de sua família desde o seu bisavó que nascera em Gonçal. Gelson tem
77 anos de idade e cresceu ouvindo as historias da questão da terra onde mora.
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Gelson Ferreira - Pov. Gonçal dos Mouras |
Seu pai já defendia o território, pois sabia que sua família crescia no lugar.
Se seu bisavó nascera em Gonçal, os antecedentes de luta e ocupação da área
data ainda do século XIX. Gelson cresceu na fartura de tudo, contava
emocionadamente que naquele tempo existiam muitas matas para fazer roça, muito
bacuri nas chapadas; peixe no rio era com abundancia – quase nada disso existe
mais. A terra era pública, de todos, para todos... Ninguém cobrava nada de
ninguém. As disputas já vinham desde a primeira geração ainda na época de seu
avó. Seu pai cresceu na questão. A terra foi conquistada pelas famílias do pai
e da mãe de Gelson Ferreira. Trabalhavam em conjunto para sobrevivência.
Se
passou um tempo, nos anos 60 e 70 a fumaça da questão voltou a pegar fogo
novamente, um determinado sujeito chegava lá para tomar posse da érea onde as
famílias moravam e trabalhavam; a pessoa que dizia ser proprietário tentou
utilizar da violência para intimidar os lavradores, resistiram de várias formas
e continuaram na área. Casas foram queimadas e reconstruídas, os camponeses
foram expulsos e voltaram. Uma guerra foi travada, de um lado o latifundiário, do
outro as famílias agricultoras. A comunidade sem saber do que estava
acontecendo, se mantinha dentro do território, mas as articulações iam além dos
órgãos jurídicos da época. Com isso os camponeses começaram a se organizar na
CEB (Comunidade Eclesial de Base), mas próxima,
CEB da Tabocas. Entenderam ali que eram cidadãos de direito, pois a
terra, seu bem maior precisava ser defendida com unhas e dentes, os
coordenadores anunciavam nas leituras um mundo novo. Se mantiveram no lugar por
muito tempo, plantando e colhendo até
dos dias de hoje.
José Antonio Basto
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