Famílias camponesas descascam a mandioca para fazer farinha |
Quantos já foram os
problemas enfrentados em São Raimundo, um vilarejo no coração do Baixo Parnaíba!
Quantos já foram os entraves em que a Associação travara durante tempos, no contratempo!
Quanto lhe custaram viagens, formações, participações em encontros e seminários
para aprender defender seus direitos garantidos por lei. Esperam que o INCRA
compre a terra do Loeff, mas pra isso esse proprietário tem que sentar para
negociação com a instituição do Governo Federal. Ele quer vender a terra a
preço de mercado, não vale o valor que pede, vale menos que isso – pede milhões
numa área que nem ele mesmo a conhece -, se diz proprietário, mas não tem nada
por lá, não tem sítio nem fazenda -, não quer abrir mão do imóvel, que apenas o
poder. Quem realmente conhece a chapada do São Raimundo são seus moradores que usufruem
e tiram dela parte de sua subsistência alimentar.
Em certa reunião do
STTR para renovação da delegacia sindical que acontecera no dia 02 de junho deste,
na casa da Francisca, o Zé Banga - atual Presidente da Associação contara ainda
assustado de um acontecimento estranho; dizia que alguns poucos dias atrás ele
terminava os serviços de sua roça à tardinha, mais ou menos umas cinco horas,
descia fiscalizando os variantes (picos do terreno) que divide a área da Associação
com outros confrontantes – como sempre ele mesmo diz que constantemente faz
esse serviço de fiscalização. Percebeu um barulho esquisito nas nuvens: um helicóptero
rondava o céu do São Raimundo, fazia um giro nas extremidades do Rio Preguiças
e subia até a chapada - para os lados do Bom Princípio e Boa União. Alguém averiguava
algo!
Quem deveria ser? Os moradores acostumados numa vida pacata e ouvir
somente o som dos pássaros e grilos se perguntavam: “Quem está nos filmando?” –
“De onde veio esse bicho”? Em meio a essa dúvida, quem realmente teria
interesse em sondar de cima pra baixa num helicóptero a situação do São
Raimundo? Depois da matéria da TV Mirante sobre a safra do fruto do bacuri no
São Raimundo e a resistência da comunidade na luta pela terra e pela
preservação ambiental muitas coisas entraram em jogo: um povoado isolado, há mais
de cinquenta quilômetros da cidade, que se transformara em exemplo de consciência
e forma do trabalho coletivo para outras comunidades do Território do Baixo
Parnaíba, essa comunidade a cada momento cresce seu valor existencial. A terra
serve como alicerce da vontade de transformação social – os moradores que
aguardam melhorias se mantém na área e usam como resistência as práticas agrícolas
e extrativistas. A lei de proibição da “não derrubada do bacuri verde” –
reforma o sentimento de liberdade e comunhão que eles oferecem a natureza. Precisam
conquistar a posse da terra, pois o projeto continua tramitando no INCRA, as
1.136 hectares de terra deve ser desapropriada para as famílias que lá moram e
trabalham. São Raimundo está sendo vistoriado não apenas pelos camponeses, mas
pela ganancia do capital no campo representado por personagens que não tem o
mínimo de respeito pelos movimentos sociais, pela Associação de Moradores...
Por nenhum lavrador. “A terra bacurizada das chapadas do São Raimundo vale ouro”.
Morador da Comunidade São Raimundo |
O Zé Banga, convicto
e zangado afirmava no final de sua denuncia que a Comunidade São Raimundo é
livre e não será invadida jamais enquanto os caboclos valentes estiverem vivos,
a terra é de todos, será defendida com unhas e dentes e não será invadido nem
por grileiros, nem por empresas... Nem por latifundiários. A terra será livre.
José Antonio Basto
Nenhum comentário:
Postar um comentário