Ela sempre vende
merenda pelas ruas da cidade de Urbano Santos, mulher mãe de família muito
trabalhadora, passa de casa em casa com sua bacia na cabeça. É de praxe vir na
sede do nosso Sindicato (STTR) na sala onde trabalho e oferecer suas vendas,
vende de tudo: bolos, canjica, beiju de tapioca, suco natural e outras iguarias
provindas da agricultura familiar; a gente sempre lhe ajuda comprando seus
produtos naturais -, ela mora na comunidade Baixa D`Água há poucos quilômetros
da sede. Sua casa fica próximo ao riacho que lhe fornece água para beber, lavar
e irrigar sua pequena horta no quintal.
A Irmão Maria
utiliza de outras rendas para sustentar sua família, cria animais de pequeno
porte -, eu só não sabia da grande criação de capotes que tinha. Os animais
vivem soltos numa área de chapada e brejal, disse que às vezes os capotes
embrabecem e não voltam mais... Adentram para as chapadas afora. Certo dia ela
passava no Sindicato para vender seus capotes; oferecera dois para a diretoria
do Sindicato, R$ 30,00 reais cada ave. A Francisca do São Raimundo que hoje
ocupa a Secretaria de Finanças do Sindicato os comprou para um almoço parecido
com aqueles das reuniões em São Raimundo que o pessoal do Fórum Carajás bem
conhece. Irmã Maria faturou R$ 60,00 reais que ajudará na renda de sua família.
Os capotes foram preparados para o almoço com leite de coco babaçú – lembrando
muito bem os almoços do São Raimundo, Bracinho e outras comunidades da Região
do Baixo Parnaíba maranhense. A Francisca não perde seu talento de fazer um bom
almoço, ultimamente ela tem se dedicado aos trabalhos burocráticos do
Sindicato, mas os capotes só podiam ser preparados por ela.
Irmão Maria, agora
quase não mais vende lanches, prefere se dedicar a criação de seus capotes para
vender na feira e pra quem interessar compra-los, seus clientes, assim como o
Sindicato, já lhe procura quando sente falta. Os manejos de criações de galinha
caipira, capotes e cabras tem sido um negócio sustentável muito bom para as comunidades
tradicionais no Baixo Parnaíba. Esse sistema muito tem ajudado as comunidades
se manter em seus territórios, valendo acentuar os projetos agroextrativistas
do Fórum Carajás em várias comunidades de diversos municípios do Baixo Parnaíba.
Maria é parte desse trabalho e dessa consciência ecológica-social com suas aves
debaixo do braço já é bastante conhecida pelos consumidores.
A vendedora de
capote da Baixa D`Água gosta do ofício que faz, sua posse de terra precisa ser
regularizada pelo estado. Ela é mais uma das posseiras que aguarda a vinda do
ITERMA. Urbano Santos e Beláguas tem muitas áreas de terras devolutas do
estado, terrenos ainda não mapeados, terras de associações que precisam ser
arrecadadas para fins de Reforma Agrária. Os capotes para se reproduzir e por
ser um animal arisco, precisam de uma
grande área. Ela também vende porções de “cozinhado de capote” já preparado, diga-se
de passagem, uma iguaria sem igual dos vários e diversificados pratos
regionais.
José Antonio Basto
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