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CHAPADA DO SÃO RAIMUNDO |
O destino seria a Comunidade São Raimundo – município de
Urbano Santos, território do Baixo Parnaíba, leste maranhense; eles chegariam de
surpresa na sede do STTR, sexta-feira, 13/01/2017. Fariam uma matéria sobre a
produção de bacuri em nossa região. O Sidney Pereira, repórter da emissora já
era familiar com esse tipo de trabalho desde 2010, quando esteve por aqui
falando dos impactos ambientais causados pelos eucaliptos e a produção de
carvão vegetal – gravações essas que foram exibidas em rede nacional no
Programa Globo Rural da TV Globo. Sete anos depois a equipe voltaria novamente
a Urbano Santos para ver o que mudou para melhor ou para pior. Na conversa de
informações deixaram claro que gostariam de filmar uma comunidade que
desenvolve a cultura do extrativismo do bacuri e resiste conflitos fundiários em
defesa da terra. Daí pensamos logo de imediato no Povoado São Raimundo, pela
causa defendida há muitos anos e sobretudo ainda agora que se inicia o período
da safra do bacuri.
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DOMINGOS FALA DOS BACURIS |
Saímos da sede da cidade já quase meio dia, praticaríamos a
estrada das Comunidades Baixa do Cocal, Ingá, Santana, Mangabeira, Estiva, Boa
União até chegar ao São Raimundo pelos envios caminhos à beira do morro que
desce até o rio, eles nunca tinham ido ao São Raimundo, mas já tinham ouvido
falar... já tinham lido alguma coisa na internet a respeito daquela comunidade.
Os plantios de eucaliptos assombravam a todos, mas percebia-se também que a Suzano
já não tem tanta força assim em suas áreas de atuação, pois as ações das
comunidades tradicionais no Baixo Parnaíba fez com que a Justiça Federal
(Ministério Público) através de uma ação proibisse por lei o alargamento do
desmatamento do cerrado para novos plantios de eucaliptos. A militância do
Movimento Social já vinha se preocupando e agindo desde décadas passadas, daí
os frutos colhidos como resultado desta batalha renhida.
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FRANCISCA NA COLHEITA DO BACURI |
Na década de 80 quando
a monocultura do eucalipto chegava em Urbano Santos trazida pela Empresa
Florestal LTDA que depois se chamou “Comercial Agrícola Paineiras – hoje,
Suzano Papel e Celulose, as comunidade rurais naquela época confrontaram com a
empresa, começando no local onde foi implantado seu primeiro viveiro no Povoado
Santo Amaro. Orientados pela Igreja Católica, os trabalhadores rurais já
profetizavam o que de certo vem acontecendo nos dias de hoje: a destruição
incontrolável das nossas chapadas e o uso intensivo de técnicas adequadas e
aplicação de agrotóxicos gerou mudanças no clima, no meio ambiente e na saúde
das populações tradicionais.
Comunidades que resistiram os conflitos como foi o caso do
Bracinho e São Raimundo passaram a ser mal vistas pelos representantes da
empresa. A Associação de moradores da comunidade Bracinho enfrentou os tratores
da Suzano em 2011, com o fogo da luta e a união dos
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FILMAGEM: CAMPOS DE EUCALIPTO - POV. SANTANA |
camponeses na guerra pela
terra, o empreendimento capitalista ainda tentou enganar os trabalhadores
rurais com 400 hectares de terra - não aceitaram e foram pra cima conquistando
dias depois o título de 3.390 hectares para menos de 35 famílias camponesas. Se
trabalhavam na terra desde os seus avós muito antes da década de oitenta os
trabalhadores rurais do Bracinho tinham a certeza dessa vitória, pois o
território é de quem mora nele. Esses problemas são comuns no Baixo Parnaíba,
as chapadas foram vendidas por antigos políticos onde os camponeses nem sabem
de tal procedimento como aconteceu direito. Como todas as partes do Brasil, por
aqui sempre teve e sempre terá conflitos no campo. São Raimundo se tornou
modelo nessa luta porque seus moradores se uniram em defesa do bem comum: a
terra, o espaço onde praticam extrativismo. O
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CAMPONÊS CARREGANDO MANIVA - POV. B. UNIÃO |
bacuri, fruta especial das
comunidades chapadeiras é uma das fontes de renda destas populações, a espécie
já sofre com o problema da extinção em muitos povoados, principalmente nas
áreas em que a monocultura do eucalipto é presente. Para os lavradores a terra
é um espaço sagrado, os bacurizais e pequizeiros transformados em campos limpos
para o plantio de eucalipto e soja é o símbolo da intolerância e da ganancia
capitalista no campo. A espoliação e expropriação de terras não visam o
desenvolvimento das comunidades rurais e desrespeitam social e culturalmente os
modos de vida das comunidades. Os agricultores sempre levaram a sério o
processo de racionalidades por serem resistentes nos seus modos de reprodução
social e cultural, sempre mantiveram uma relação amorosa no que fazem no
extrativismo e nas práticas agrícolas. Os bacurizeiros e pequizeiros são
espécies mais conhecidas de nossa região e merecem o devido respeito.
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RIO PREGUIÇAS - POV. BOA UNIÃO |
A importância dessa matéria sobre a colheita do bacuri nas
chapadas das Comunidades São Raimundo e Bom Princípio nos fez refletir sobre o
Projeto de Iniciativa Popular que travamos em 2016, encabeçando pelo STTR. Uma
proposta de se criar uma lei junto ao legislativo para proibição do
desmatamento do cerrado para o plantio de monoculturas e uso de transgenia no
município de Urbano Santos, tomando como exemplo as leis de municípios vizinhos
que não aceitam a entrada do eucalipto e outras monoculturas agressivas. Com a
concretização dessa nova lei municipal, os camponeses só tem a ganhar - os
espaços de extrativismo, agricultura e cabeceiras de rios serão mais protegidos
longe das monoculturas que tanto destruíram e ainda ameaçam a biodiversidade no
Baixo Parnaíba. Se voltamos a sete anos atrás, veremos sem tapar o sol com uma
peneira e enxergamos que quase nada mudou para melhor em todas as comunidades
rurais. Para não ser pessimista, dizemos que talvez avancemos em alguns pontos.
José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com
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