O
viajante atravessaria o Baixo Parnaíba rumando para o Piauí, parava em Milagres
do Maranhão nas margens do rio. Antes disso atravessaria campos e campos de
soja dos chamados gaúchos nos municípios de Anapurus e Brejo. Sem falar na
grande problemática dos eucaliptos de Urbano Santos e Santa Quitéria. Sozinho
de moto, lembrava do filme “Diário de motocicleta”, o drama biográfico sob direção de Walter
Salles – que traça a viagem dos aventureiros Che Guevara e Alberto Granados que
fizeram pela América Latina. Os dois jovens conheceriam ali os problemas de
saúde e descaso social das várias comunidades rurais de nossa América, razão
essa pela qual Che se tornaria o maior revolucionário do século XX, admirado
até os dias de hoje em todo o mundo.
O
programa do agronegócio no Baixo Parnaíba nunca supriu as necessidades das
comunidades rurais. O capitalismo no campo utiliza da violência e muitos outros desacatos sociais e morais
dirigido às populações tradicionais. A derrubada de amplas áreas do cerrado, a
extinção de nascentes e o desaparecimento de nossos recursos hídricos
caracteriza um quadro de injustiças criando portando uma situação de
vulnerabilidade das famílias camponesas que tanto sofrem com essa problemática.
As grandes extensões de terras dessa região devastadas pela Empresa Suzano que
planta eucalipto e as fazendas de gaúchos que cultivam soja são na verdade as
responsáveis por um processo de mudanças socioambientais. A expropriação de
terras rurais marcara o início dos vários conflitos agrários numa divisa do
pensamento ideológico, tanto dos representantes dos investimentos do capital no
campo, quanto de alguns segmentos do sistema de posse e latifundiários. Devemos
entender que “o Estado por meio de seus diferentes aparatos burocráticos,
assume um papel de mediador fundamental no controle de acesso à terra”.
Enfatizando, portanto, situações nas quais são executadas políticas
legitimadoras do conjunto de açambarcamento de grandes áreas de terras - antes
públicas ocupadas há séculos por segmentos camponeses praticantes verdadeiros
da agricultura familiar e extrativismo. O agronegócio passou a integrar
patrimônios particulares, grilando essas terras de cobertura florestal nativa
que são nossas chapadas.
O
viajante voltava ouvindo os cânticos de comunidades numa marcha de São Bernardo
à Santa Quitéria, os companheiros lutavam em defesa dos direitos humanos na
temática do controle social. O agronegócio da soja muito tem transformado os
modos de vida das populações tradicionais e urbanas dos municípios do Baixo
Parnaíba. A exportação da soja para os mercados europeu e chinês diz que gera
desenvolvimento para o estado e gera mesmo. Mas as comunidades rurais nada sabem disso e não
desfrutam de nada, elas provam do legado de destruição de suas áreas. São João
dos Pilões em Brejo é um exemplo: o pequizeiro, matéria prima para a fabricação
dos pilões, cuias e outros utensílios já não são encontrados mais, a soja tomou
de conta de tudo. Os artesãos tem que importar toras de pequi de outros
municípios, a forma sustentável que eles aparam o pequizeiro não agride o meio
ambiente... cortam um e plantam outro no lugar, fabricam os pilões para vender
na beira da estrada.
De
volta, o viajante parava em algumas comunidades, quilombos e assentamentos para
conversar sobre os movimentos sociais no Baixo Parnaíba maranhense. As ações
ainda vem sendo feitas, não como há dez anos atrás onde o fogo da luta animava nossos
encontros de comunidades em defesa da vida, onde dinamizava os congressos de
trabalhadores e formações de lideranças. Ainda resta fumava e o fogo não
apagou. O Viajante voltava para casa depois de alguns dias cansativos, trilhando
pelo território livre, formando e informando o povo sobre direitos e deveres, sobre a problemática que enfrentam, com uma solução pregada no cartaz de esperanças
de novos tempos.
José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com
Muito bom.
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