Sai convicto de que aquela
palestra para professores, alunos e membros da Comunidade Mangabeirinha seria
interessante em passar meu conhecimento e ao mesmo tempo aprender com os mais
jovens e também com os mais velhos a respeito de um tema que já venho militando
há algum tempo. Em nome do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
de Urbano Santos aceitei o modesto desafio da professora Lisa quando me
convidava para falar de meio ambiente em nosso município. Então pensei que não
tinha como explanar essas questões ambientais nesta região sem tocar no grande
e maior problema que é a do eucalipto - principalmente quando se tratava
daqueles polos comunitários: Mangabeirinha, Lagoa dos Costa e Bom Fim, povoados
esses que são atingidos diretamente pelo impacto ecológico da monocultura.
O Projeto Pedagógico “Água é vida” coordenado pelos
professores, alunos e alguns membros da comunidade, tende trabalhar na íntegra
a preservação e o salvamento do Riacho
Mangabeirinha que infelizmente já está quase no fim de sua vida. Mas para
isso precisavam de uma noção básica geral sobre a escassez da água em nossa
região, o porquê do desaparecimento desse recurso precioso. Foi daí então que
lancei as perguntas iniciais relacionadas à preservação das chapadas, sendo as
chapadas mães da cabeceiras dos rios, riachos e lagoas na Região do Baixo
Parnaíba. O que chapadas e cabeceiras têm incomum? Explicava-se que todas as
nascentes dos rios do Baixo Parnaíba estão localizadas nas chapadas onde parte
dessas chapadas foram invadidas pelo eucalipto da Empresa Suzano Papel e
Celulose, nesse sentido exemplificava-se portanto o caso do próprio Rio
Mangabeirinha - onde nas palavras do Zé Crispinho – aquele militante do
movimento social dizia que sua nascente está dilacerada, além do sugamento de
água pelos eucaliptos, houve uma época em que os caminhões-pipa do agronegócio extraiam
ilegalmente suas águas da cabeceira localizada numa região de buritizais ente o
brejal e a chapada. A prática da extração ilegal de água é comum em muitas
comunidades como também a extração de areia e piçarras. O Raimundo Preto,
também liderança da luta pela terra que ainda se encontra em questão, acentuava
que no tempo de seus pais ouvia historias da presença de muitos animais que
moravam e reproduziam nas chapadas como ema, anta, seriema e nambu fi-fiu... espécies
raras ameaçadas de extinção. Interviam com clareza e responsabilidade de falar
que alcançaram esses rios todos cheios no período do inverno... com muita
fartura de peixe e buriti pra colher no tempo da safra. Hoje o que restou disso
tudo? O legado da destruição ecológica desenfreada e sem controle do grande
capital que nada fazem para o meio ambiente, pensando sempre em mais lucros e
lucros. Aproveitando as imagens do slide comparando o agronegócio versus
PADRSS, observava-se a enorme diferença entre uma cultura e outra: os danos do
agronegócio e o bem da biodiversidade com produção agroecológica de forma
equilibrada. Dona Luzia colhedora de bacuri nas chapadas da Mangabeirinha
desabafava dizendo que um dos graves problemas de quem sabe um possível
desaparecimento dos bacurizais é os eucaliptos e a soja, mas que muitas pessoas
não têm consciência dos fatos e acabam cometendo infração como é o caso da
derrubada do fruto verde. Os olhares atentos dos alunos nas imagens do slide
que mostravam a devastação das chapadas e a importância dos recursos hídricos
no município de Urbano Santos, me deixaram a falar a vontade e sobretudo
desabafar a respeito dos desacatos e violações de direitos humanos. Comparações
entre os campos de eucalipto com a produção de farinha no Povoado Baixa Grade;
tratares com seus correntões e uma lavadeira de roupa da comunidade Santa Maria...
cerrado e agronegócio -, diferença entre o programa capitalista dos
monocultivos e o PADRSS... foram assuntos, provocações e desafios para os
ouvintes que talvez viram esse debate local pela primeira vez.
Os trabalhos foram
encerrados com os depoimentos de D. Maria -, uma antiga moradora, frisava que
na época em que era criança a região da Mangabeirinha era tudo diferente, tinha
muita água, terra, bacuris, chapadas, caça, peixe e o respeito uns com os outros
imperava entre as pessoas. O eucalipto veio para acabar com as matas, as água,
as cabeceiras e a vida; disse ela. Percebi que a palestra teve proveito e que
todos saíram com uma consciência formada a partir daquela atividade.
José Antonio Basto
Militante dos Direitos Humanos email: bastosandero65@gmail.com
(98) 98607-6807
Nenhum comentário:
Postar um comentário