É de se
pensar com clareza que os plantios de soja na Região do Baixo Parnaíba
Maranhense são talvez até muito mais devastadores do que o eucalipto. A entrada
dos gaúchos e a ocupação das chapadas em Brejo, Anapurus e Buriti - todos
municípios onde o Cerrado é mais robusto, são casos sérios; Anapurus, por
exemplo é de cima a baixo, os galpões e usinas são erguidos por imensas
quantidades de grãos. Para as comunidades tradicionais o termo gaúcho designa
todo e qualquer estrangeiro aloirado com a tez albina nem sempre do Rio Grande
do Sul e que desembarca incorporando pequenas e grandes propriedades para
plantar soja e outros monocultivos.
As terras
das chapadas do Baixo Parnaíba foram compradas por esses gaúchos a preço de banana;
a preço de um quilo de carne... em muitos os casos elas foram griladas e
invadidas. É possível que um hectare tenha valido tão pouco comparado com agora
em que custa R$ 800,00. Os campos de soja não trazem nenhum benefício para as
comunidades rurais, em São João dos Pilões (Brejo) teve um caso comprovado em
que os aviões pulverizadores jogaram veneno nos campos de soja -, o produto químico
adentrou nas matas poluindo a nascente do riacho da comunidade, sendo este,
fonte de sobrevivência dos animais e da própria população, alguns patos e o
gado beberam a água e acabaram morrendo. A água foi coletada para averiguação
em laboratório e foi realmente constatada com provas de contaminação. A
gauchada é um problema muito sério, aproveitaram a fronteira da soja para se
instalar no Baixo Parnaíba. Eles não respeitam as culturas e tradições das
comunidades, ameaçam trabalhadores rurais e praticam verdadeiros desacatos aos
direitos humanos e da vida. Na comunidade Marçal dos Onças - em Urbano Santos,
eles já mataram mais de 60 animais dos camponeses como jumento e cavalos,
bichos esses que os trabalhadores utilizam em seus ofícios na roça e no dia a
dia. Certa vez o camponês Mané Onça, muito indignado, veio até a sede de Urbano
Santos pedir ajuda aos órgãos competentes e denunciar tamanha violência que
acontece em seu lugar. A cabeceira do Rio Boa Hora também é mais uma vítima
dessa desastrosa violência, um rio importante para as comunidades e sede de
Urbano Santos, seu coração foi transformado em um campo de soja. Em 2011,
Daniel - estudante de Geografia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), realizou
suas pesquisas para monografia sobre a bacia do Boa Hora, detectando com fotos
comprobatórias os efeitos e impactos ambientais causados pelos gaúchos em áreas intocáveis como é o caso das
cabeceiras e encostas. Muitos latifundiários já estão plantando soja, assim
como a Suzano Papel e Celulose. Os gaúchos que invadiram o Baixo Parnaíba são
pessoas mal encaradas que não respeitam os lavradores que moram há séculos nos
povoados. As populações tradicionais precisam diretamente da floresta, das
chapadas, vivem em comunhão com a natureza e modo de vida pacata no
extrativismo, na pesca e na agricultura familiar, com solidariedades acima de
tudo. Já a gauchada representam o capitalismo selvagem com seus plantios de
soja – destruindo incontrolavelmente as chapadas, a fauna e flora. Os gaúchos
colocam em suas fazendas homens de guardas (jagunços) armados para intimidação,
criam cães ferozes para assim manter a hierarquia de dominação do território.
As comunidades do Baixo Parnaíba que sofrem com esses danos não tem culpa dessa
problemática que se deu através das questões fundiárias locais. Como entender a
substituição das chapadas pelos monocultivos da soja?
Infelizmente existem políticas altas por traz de muita coisa: órgãos que
emitem documentos favorecendo quem tem mais dinheiro – a corda sempre quebra do
lado mais fraco, de quem não tem tanto a oferecer. Os conflitos agrários e socioambientais
no Baixo Parnaíba não é coisa dos dias atuais, seja algo bem remoto e que parecem
não ter fim, a cada dia a soja e o eucalipto avançam sobre espaços de terras
devolutas do estado, leva no empurrão áreas que estão em processo de titulação
para fins de reforma agrária. As associações esperam respostas já quase
desacreditadas mas com a esperança de dias melhores.
José Antonio Basto
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