terça-feira, 12 de maio de 2015

O PROBLEMA DA GAUCHADA E A DESGRAÇA DA SOJA NO BAIXO PARNAÍBA


É de se pensar com clareza que os plantios de soja na Região do Baixo Parnaíba Maranhense são talvez até muito mais devastadores do que o eucalipto. A entrada dos gaúchos e a ocupação das chapadas em Brejo, Anapurus e Buriti - todos municípios onde o Cerrado é mais robusto, são casos sérios; Anapurus, por exemplo é de cima a baixo, os galpões e usinas são erguidos por imensas quantidades de grãos. Para as comunidades tradicionais o termo gaúcho designa todo e qualquer estrangeiro aloirado com a tez albina nem sempre do Rio Grande do Sul e que desembarca incorporando pequenas e grandes propriedades para plantar soja e outros monocultivos.
As terras das chapadas do Baixo Parnaíba foram compradas por esses gaúchos a preço de banana; a preço de um quilo de carne... em muitos os casos elas foram griladas e invadidas. É possível que um hectare tenha valido tão pouco comparado com agora em que custa R$ 800,00. Os campos de soja não trazem nenhum benefício para as comunidades rurais, em São João dos Pilões (Brejo) teve um caso comprovado em que os aviões pulverizadores jogaram veneno nos campos de soja -, o produto químico adentrou nas matas poluindo a nascente do riacho da comunidade, sendo este, fonte de sobrevivência dos animais e da própria população, alguns patos e o gado beberam a água e acabaram morrendo. A água foi coletada para averiguação em laboratório e foi realmente constatada com provas de contaminação. A gauchada é um problema muito sério, aproveitaram a fronteira da soja para se instalar no Baixo Parnaíba. Eles não respeitam as culturas e tradições das comunidades, ameaçam trabalhadores rurais e praticam verdadeiros desacatos aos direitos humanos e da vida. Na comunidade Marçal dos Onças - em Urbano Santos, eles já mataram mais de 60 animais dos camponeses como jumento e cavalos, bichos esses que os trabalhadores utilizam em seus ofícios na roça e no dia a dia. Certa vez o camponês Mané Onça, muito indignado, veio até a sede de Urbano Santos pedir ajuda aos órgãos competentes e denunciar tamanha violência que acontece em seu lugar. A cabeceira do Rio Boa Hora também é mais uma vítima dessa desastrosa violência, um rio importante para as comunidades e sede de Urbano Santos, seu coração foi transformado em um campo de soja. Em 2011, Daniel - estudante de Geografia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), realizou suas pesquisas para monografia sobre a bacia do Boa Hora, detectando com fotos comprobatórias os efeitos e impactos ambientais causados pelos  gaúchos em áreas intocáveis como é o caso das cabeceiras e encostas. Muitos latifundiários já estão plantando soja, assim como a Suzano Papel e Celulose. Os gaúchos que invadiram o Baixo Parnaíba são pessoas mal encaradas que não respeitam os lavradores que moram há séculos nos povoados. As populações tradicionais precisam diretamente da floresta, das chapadas, vivem em comunhão com a natureza e modo de vida pacata no extrativismo, na pesca e na agricultura familiar, com solidariedades acima de tudo. Já a gauchada representam o capitalismo selvagem com seus plantios de soja – destruindo incontrolavelmente as chapadas, a fauna e flora. Os gaúchos colocam em suas fazendas homens de guardas (jagunços) armados para intimidação, criam cães ferozes para assim manter a hierarquia de dominação do território. As comunidades do Baixo Parnaíba que sofrem com esses danos não tem culpa dessa problemática que se deu através das questões fundiárias locais. Como entender a substituição das chapadas pelos monocultivos da soja?
Infelizmente existem políticas altas por traz de muita coisa: órgãos que emitem documentos favorecendo quem tem mais dinheiro – a corda sempre quebra do lado mais fraco, de quem não tem tanto a oferecer. Os conflitos agrários e socioambientais no Baixo Parnaíba não é coisa dos dias atuais, seja algo bem remoto e que parecem não ter fim, a cada dia a soja e o eucalipto avançam sobre espaços de terras devolutas do estado, leva no empurrão áreas que estão em processo de titulação para fins de reforma agrária. As associações esperam respostas já quase desacreditadas mas com a esperança de dias melhores.

José Antonio Basto

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