Quando eu
era menino caçava murici vermelho na “chapada do meio” -, próxima a sede de
Urbano Santos, no baixo Parnaíba. A chapada escorrega suas fronteiras e limita
com os povoados Porto Velho I e II, Escuta e Riacho Seco. Pássaros como
cacurutas, pipira-preta e bem-te-vis da mata alegravam o imenso campo repleto
ainda de bacuris, pequis e pitomba de leite. Por lá se encontra um cemitério
antigo que concentra os restos mortais de pessoas que moravam nas redondezas e
sobreviviam da caça e do extrativismo.
A chapada do
meio já está possivelmente visada por grupos de gaúchos que estão nas
proximidades plantando soja e assassinando animais nas comunidades. Os povoados
citados pertencem a pequenos lavradores que herdaram de seus familiares que não
venderam suas terras para o agronegócio destruir. O gado pasta livremente
comendo o capim e juquira dando vez para carcarás catar os carrapatos em suas
costas. Agora poucos dias atrás bateu uma saudade de visitar a chapada e fazer
algumas fotos da paisagem. Saí cedinho de casa neste domingo passado, 11/01,
para visitá-la, muita coisa mudou, percebe-se como em quase todas as chapadas o
problema do fogo que a vaqueirada ateia na pastagem para novos brotos. Sai
pelas veredas velhas que só restam rastros de porco e gado, “desci pela grota
que desemboca nos currais antigos dos tabocais” e voltei para casa novamente
pela mesma trilha. Os campos estão diferentes mas intactos como antes,
desconfiança, talvez! Parte da chapada do meio foi cercada ainda na década de
80 pela Empresa Florestal LTDA, no mesmo período em que sua sede foi instalada.
O campo grande de futebol que ficava no inicio, hoje já faz parte do Bairro São
José pelo avanço das mudanças estruturais das famílias que construíram suas
casas vindo do interior. A chapada do meio precisa de proteção, não apenas ela,
mas todo nosso bioma cerrado do Baixo Parnaíba Maranhense. A Suzano e os
gaúchos vieram para mudar nossas tradições e nosso modo de produção como
agricultores familiares, mas eles não são daqui e sabemos trabalhar com
consciência, essas terras já tem donos -, os camponeses que vivem há séculos
tiram seus sustentos, criando... recriando e protegendo com respeito. Nasce na
chapada do meio a cabeceira do “riacho braço do boa hora” -, que infelizmente já secou há muito tempo possivelmente causado
pela devastação do bioma e plantio de monocultivos. Precisa-se dá um basta
nessa questão, não nos alimentamos de soja nem de eucalipto, muito menos de
veneno e agrotóxicos; ingerimos alimentos da agricultura familiar para nossa
saúde como arroz, feijão, farinha, abóbora, melancia e fava. Os trabalhadores
rurais lutam ainda pelo tão sonhado “PROJETO ALTERNATIVO DE DESENVOLVIMENTO
RURAL SUSTENTÁVEL”, para assim poder desenvolver a Reforma Agrária e a nossa
luta em defesa dos direitos humanos e da vida no BAIXO PARNAIBA.
Os encontros
e desencontros da chapada do meio nos faz refletir sobre a carência de projetos
alternativos de proteção do meio ambiente em nossa região e a luta da natureza
em meio à grande problemática do impacto ambiental e transformações das
populações tradicionais. Muitos jovens no futuro talvez não verão as belezas de
nossas chapadas, isso não é baixo-astral, nem mesmo pessimismo... mas é a
realidade em que estamos vivendo no momento, no real. Queremos a chapada em pé
e não cortada de motor-serra e queimada pelo fogo do capitalismo neoliberal!
Que um outro mundo seja possível, se a humanidade conscientizar-se que ela
mesma está se destruindo. Viva a chapada do meio como todas as chapadas! Esse
pedaço do mundo em Urbano Santos, no leste maranhense.
(JOSÉ ANTONIO BASTO)
-Militante dos Direitos Humanos / Baixo
Parnaíba-MA.
(email: bastosandero65@gmailcom)
(98) 98890-4162
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