da esquerda pra direita: Eu, Dona Raimunda, Selma e Domingos |
Estive a
convite em São Raimundo, zona rural de Urbano Santo para saborear um leitão ao
molho pardo na residência dos amigos: Domingos e Selma. Eu estava no Povoado Boa
União a serviço do Colégio Múltiplo da minha querida turma do Magistério à
distância, pessoas que além de alunos e alunas são amigos e amigas que
compartilhamos conhecimentos juntos. Mas como é quase impossível viajar para a
Boa União e não poder ir ao São Raimundo, Selma por mera coincidência me fez um
irrecusável convite para almoçar em sua casa um leitão a pururuca, sendo este
prato, uma de suas especialidades.
A aula
terminou por volta do meio dia, dona Raimunda da Boa União estava consciente
que eu iria almoçar em sua casa, mandei um recado pra ela por minha aluna
Erenice que não precisava se preocupar comigo. Peguei minha velha moto e
enfrentei as avalanches entre os dois povoados, atravessando as encostas dos
morros e ultrapassando riachos e ladeiras. Passei por uma plantação de
batata-doce já na entrada de São Raimundo, fiquei impressionado, visitei a casa
de Dona Maria logo no inicio, uma das moradoras beneficiárias do programa do
governo federal “Brasil sem Miséria”, conversei um pouco com ela e tomei um
cafezinho enquanto a mesma debulhava feijão. Segui viagem até que cheguei na
casa do Domingos. Um tempo de chuva estava se formando para o lado do nascente,
mas a fome era maior que o medo da futura chuva que caiu com vontade sem cessar,
cheiro de terra molhada, uma benção -, talvez! O certo é que Selma serviu o
almoço “leitão a molho pardo com arroz branquinho acompanhado de salada dos
legumes de sua horta do quintal” tudo estava suculento, quando começamos a
almoçar a chuva ficou mais forte, uma carne saborosa com pimenta malagueta e
farofa de farinha de puba, repeti duas vezes, quase passo mal. Quando terminamos
de almoçar, Selma trouxe um suco de bacuri bem geladinho -, pois a safra desse
fruto das chapadas foi boa e significativa esse ano, tanto no São Raimundo, quanto
no Bom Princípio, Bracinho e região. A chuva não parava e a cada momento ficava
mais potente, os pingos pareciam pedras no teto da casa. O horário já era mais
ou menos umas treze e meia, como eu não voltaria mais para aula na Boa União,
baixei uma rede e tirei uma boa soneca para descansar. Percebi que tudo ficou
calmo, a carne de porco parece que deu sono em todo mundo, todos adormeceram e
sentiram grande preguiça. Mas era ora de voltar para Urbano Santos, deixar o
São Raimundo e a lembrança de uma boa
refeição natural de nossa região. Despedi-me de todos e sai no sereno. Passei de
volta na casa da Francisca, mas ela não estava lá, tudo fechado – apenas os
bichos no terreiro, talvez estivesse em alguma atividade em defesa dos direitos
humanos e da vida, ou mesmos para a cidade. Quando eu voltava as pessoas acenavam da
janela com as mãos, muitos curtindo fumaça de casca de babaçú para espantar os
mosquitos (maroins) que assentam principalmente em crianças após um sereno. Parei
mais uma vez no comércio da casa azul, comprei algumas balinhas e tomei um
refrigerante para ajudar na digestão, bati um papo com a mulher dono do
estabelecimento, mas pouco tempo, o sol virava-se rápido. Parece que o São Raimundo
está mudado e ainda bem que é pra melhor, mudou mesmo, o tempo passa e ninguém
percebe. Aquela amada comunidade humilde e hospitaleira, defensora das causas
ambientais que espera por um projeto de assentamento. O leitão a molho pardo na
casa de Domingos me fez recordar as tantas vezes que fui recebido com carinho por
aquela gente, amigos de batalha que não se cansam jamais na luta por Reforma
Agrária.
A fartura de
animais cresceu no São Raimundo nesses últimos tempos, alguns moradores fizeram
projetos do agro-amigo pelo Banco do Nordeste do Brasil para a criação de
animais, porcos, galinhas e roças; como foi caso do Domingos que fez um crédito
no banco para criação de suíno onde foi bem sucedida sua produção, pois foi de
lá que saiu o nosso almoço tratado nesse texto. Voltei para minha casa, com a consciência
de dever cumprido por ter participado de mais uma excelente ocasião na casa de
amigos. “O leitãozinho a molho pardo na
comunidade São Raimundo” vai ficar
em minha mente por muitos tempos, assim que me lembrar da comunidade e das
pessoas que conheço. Pois sempre que recordo dá água na boca e bate uma saudade
de voltar novamente.
(José
Antonio Basto)
Utbano Santos-MA
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