Gelson Ferreira - liderança de Gonçalo dos Mouras |
Como imaginar o
documento de uma terra? Se esta terra não tem dono. A terra nunca teve dono – a
terra é de todos que trabalham nela. O bem comum produzido e desenvolvido no
espaço é usufruído por todos.
Relembrando as
aulas de história sobre “Comunismo Primitivo”, Engels em sua importante obra “A
origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” – utilizou métodos
materialistas retomando o assunto desde o início da civilização humana, com uma
abordagem sobre o trabalho primitivo que era feito para suprir as necessidades
básicas e imediatas dos grupos familiares, não havendo, portanto preocupação
com o acúmulo de riquezas (sobras). A “TERRA PERTENCIA A TODOS E NÃO HAVIA
ESCRAVIDÃO”.
Em Gonçalo dos
Mouras – município de Urbano Santos, povoado às margens da MA-225, terra de
posse da família “Mouras” -, área da comunidade atingida pelas plantações de
eucaliptos e que vem enfrentando um conflito pela posse da terra desde décadas
remotas. O velho Gelson Ferreira, que não é “Mouras”, apenas sua esposa,
recebeu esse sobrenome porque seu pai exercia a profissão de “Ferreiro”. Os problemas
de Gonçalo acentua no calendário dos vários conflitos no campo nas décadas de
60, 70 e 80. A CPT naquela época acompanhava as comunidades coletando dados
desses fenômenos que se perpetuaram até os dias de hoje. A CEB era a de
Tabocas, que até agora está de pé.
Reunião com a Associação de Moradores |
A comunidade
atravessou gerações e a terra de modificou, as chapadas da frente das casas
foram substituídas por eucalipto, o rio baixou seu nível d` água e os chamados gaúchos
compraram e/ou grilaram o restante das matas e chapadas. Pouco restou para a
agricultura familiar, para os camponeses fazerem suas roças e botarem seus
animais para pastar. Ficaram encurralados entre o rio e as plantações de
eucaliptos. Sentiram a necessidade de criar uma Associação de Moradores para
assim, fortalecer a luta, sendo que a única área que eles têm alguém já está de
olho nela há muito tempo; eis a questão! Pois a terra hoje em dia -
principalmente no Baixo Parnaíba maranhense é sinônimo de capital e poder.
Os
programas de expropriação e expulsão de homens e mulheres do campo representado
pelo MATOPIBA -, a única fronteira agrícola do cerrado brasileiro do qual o
Território do Baixo Parnaíba está incluso.
Animais pastando na chapada - ao fundo plantação de eucaliptos |
A comunidade tem
resistido às demandas. Os netos de Gelson assumiram a luta, como sua esposa,
Dona Antonia, que disse: “Se nós perdemos essa terra onde meus filhos e netos
vão trabalhar”? “Esse pedaço de terra é tudo que nós temos”, acrescentava. Gelson
o maior líder dos posseiros desde cinco décadas atrás é um homem de
conhecimentos gerais, teve sua formação nas escolas das CEBs e da vida –
viajando com amigos advogados e religiosos, deficiente de cegueira, não enxerga
nada, anda pela casa com sua bengala, aconselhando e encorajando seus filhos e
netos na luta pelos seus direitos. Durante sua vida passou por muitas
adversidades
e pelejas que lhe marcaram momentos de perdas e conquistas na existência dos
dias. Durante a reunião de criação da Associação, em sua fala disse que certa vez
uma pessoa lhe perguntara sobre o documento dessa terra. E ele sabiamente lhe
respondeu: “Eu sou o próprio documento de minha terra! Meu bisavó, avô e pai
nascerem e se criaram aqui e aqui estou com meus filhos e netos! Existe documento
e prova maior”?
A direita plantação de eucalipto - a esquerda chapada devastada |
José Antonio Basto
Comunidade
Gonçalo dos Mouras - Urbano Santos,
Baixo Parnaíba maranhense
Agosto
de 2017.
Ele é realmente o documento dessa terra. Desde que me entendi por gente eu conheci o Sr. GELSON Dino e morador fixo daquela terra. Meu pai também trabalhou nas terras junto com Ele, eram compadres meu pai Padrinho do filho dele o "Chaqlguinhas".
ResponderExcluirCorrigindo a palavra Dino por DONO.
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