segunda-feira, 3 de julho de 2017

A AREIA DO TEMPO

Mais uma vez a saga do Viajante do leste. Por alguns dias ele desaparecera do Território mas não se esquecera de e seus rastros que estavam fincados na “Areia do tempo” e nas veredas da justiça dos direitos humanos. Contava cem anos de luta e há poucos dias os conflitos se arrastaram de lá pra cá passando às outras bandas. As mesmas pelejas de tempos remotos.
Ele atravessa o Parnaíba rumando para as chapadas do Maranhão – visitava casa a casa, tomou cafezinho com seus irmãos de batalhas e almoçara galinha caipira numa palhoça humilde junto aos companheiros. Da ultima vez que visitava as mesmas comunidades, as águas inundaram naquela época, porque a chuva corria sobre o chão do cerrado, o inverno tinha sido rígido, os fenômenos da natureza acordava a biodiversidade, pássaros e outros animais. Nas quebradas do sertão se ouvia muitas coisas, se ouvia falar, se ouvia cantar. Se ouve desde tiros a gritos de vaqueiros. Muitos sonhos rondavam os campos cheios de mistérios.
O Viajante prosseguiu falando dos muitos problemas sociais que as comunidades talvez não saibam que são vítimas dos sistemas – mas pra que falar disso? De problemas? O povo ficou por muito tempo paralisado esperando seus direitos! Esperando a reforma agrária. E nada! Quinhentos anos se passaram e as estruturas fundiárias que foram herdadas do branco europeu continuam nas mãos dos mesmos indivíduos. E os verdadeiros donos da terra, do espaço sagrado? Estes são os desprovidos de direitos que morrem a míngua a procura de saída e não acham...Vivem engaiolados e encarcerados pela violência dos desmandos do  veneno ateados em suas roças e casas, seus filhos morrem de fome porque o tatu e  a cotia que os alimentavam já não existem nas florestas. Os rios secaram e se transformaram em areia... As chapadas deram lugar à soja e eucalipto, direitos foram lesados... Alguém chorava, alguém sorria. Tudo isso aconteceu num espaço de tempo, pouco menos que meio século. Tudo foi falado, mas pouco entendido. Talvez.
O Viajante perguntava se eles acreditavam em um outro mundo possível; se tinha “esperanças de novos tempos” – responderam então se este mundo é aquele pregado e lido no cântico de comunidades que diz:

“Irá chegar um novo dia
Um novo céu, uma nova terra, um novo mar
E nesse dia os oprimidos
A uma só voz, a liberdade, irão cantar”.

Na nova terra o negro não vai ter corrente
E o nosso índio vai ser visto como gente
Na nova terra o negro, o índio e o mulato
O branco e todos vão comer no mesmo prato
[...]

Na nova terra o fraco, o pobre e o injustiçado
Serão juízes deste mundo de pecado
Na nova terra o forte, o grande e o prepotente
Irão chorar até ranger os dentes.

Irá chegar um novo dia
Um novo céu, uma nova terra, um novo mar
E nesse dia os oprimidos
A uma só voz, a liberdade, irão cantar.
[...]

O Viajante se emocionara com a letra da música “Irá chegar”, sonhava que um dia este dia vai chegar e conseguia energia para lutar com muitas forças nas longas batalhas da vida.


José Antonio Basto

Nenhum comentário:

Postar um comentário