Mais uma vez a saga do Viajante
do leste. Por alguns dias ele desaparecera do Território mas não se esquecera
de e seus rastros que estavam fincados na “Areia do tempo” e nas veredas da
justiça dos direitos humanos. Contava cem anos de luta e há poucos dias os
conflitos se arrastaram de lá pra cá passando às outras bandas. As mesmas
pelejas de tempos remotos.
Ele atravessa o Parnaíba rumando
para as chapadas do Maranhão – visitava casa a casa, tomou cafezinho com seus
irmãos de batalhas e almoçara galinha caipira numa palhoça humilde junto aos
companheiros. Da ultima vez que visitava as mesmas comunidades, as águas
inundaram naquela época, porque a chuva corria sobre o chão do cerrado, o
inverno tinha sido rígido, os fenômenos da natureza acordava a biodiversidade,
pássaros e outros animais. Nas quebradas do sertão se ouvia muitas coisas, se
ouvia falar, se ouvia cantar. Se ouve desde tiros a gritos de vaqueiros. Muitos
sonhos rondavam os campos cheios de mistérios.
O Viajante prosseguiu falando dos
muitos problemas sociais que as comunidades talvez não saibam que são vítimas
dos sistemas – mas pra que falar disso? De problemas? O povo ficou por muito
tempo paralisado esperando seus direitos! Esperando a reforma agrária. E nada!
Quinhentos anos se passaram e as estruturas fundiárias que foram herdadas do
branco europeu continuam nas mãos dos mesmos indivíduos. E os verdadeiros donos
da terra, do espaço sagrado? Estes são os desprovidos de direitos que morrem a
míngua a procura de saída e não acham...Vivem engaiolados e encarcerados pela
violência dos desmandos do veneno
ateados em suas roças e casas, seus filhos morrem de fome porque o tatu e a cotia que os alimentavam já não existem nas
florestas. Os rios secaram e se transformaram em areia... As chapadas deram
lugar à soja e eucalipto, direitos foram lesados... Alguém chorava, alguém
sorria. Tudo isso aconteceu num espaço de tempo, pouco menos que meio século.
Tudo foi falado, mas pouco entendido. Talvez.
O Viajante perguntava se eles
acreditavam em um outro mundo possível; se tinha “esperanças de novos tempos” –
responderam então se este mundo é aquele pregado e lido no cântico de
comunidades que diz:
“Irá chegar um novo dia
Um novo céu, uma nova terra, um novo mar
E nesse dia os oprimidos
A uma só voz, a liberdade, irão cantar”.
Na nova terra o negro não vai ter corrente
E o nosso índio vai ser visto como gente
Na nova terra o negro, o índio e o mulato
O branco e todos vão comer no mesmo prato
[...]
Na nova terra o fraco, o pobre e o injustiçado
Serão juízes deste mundo de pecado
Na nova terra o forte, o grande e o prepotente
Irão chorar até ranger os dentes.
Irá chegar um novo dia
Um novo céu, uma nova terra, um novo mar
E nesse dia os oprimidos
A uma só voz, a liberdade, irão cantar.
Um novo céu, uma nova terra, um novo mar
E nesse dia os oprimidos
A uma só voz, a liberdade, irão cantar”.
Na nova terra o negro não vai ter corrente
E o nosso índio vai ser visto como gente
Na nova terra o negro, o índio e o mulato
O branco e todos vão comer no mesmo prato
[...]
Na nova terra o fraco, o pobre e o injustiçado
Serão juízes deste mundo de pecado
Na nova terra o forte, o grande e o prepotente
Irão chorar até ranger os dentes.
Irá chegar um novo dia
Um novo céu, uma nova terra, um novo mar
E nesse dia os oprimidos
A uma só voz, a liberdade, irão cantar.
[...]
O Viajante se emocionara com a letra da música
“Irá chegar”, sonhava que um dia este dia vai chegar e conseguia energia para
lutar com muitas forças nas longas batalhas da vida.
José
Antonio Basto
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