Eles diziam com
sábias palavras que o roncador tinha outros tempos, mas quais seriam os velhos
e bons tempos? Tempos de fartura e de paz na terra? Talvez! O conflito se
arrastara em meio aos moradores de lá. Antes eles viviam em santa comunhão com a
natureza e com os seus irmãos. A CEB local foi criada ainda na década de 60
quando a área pertencia a outras fronteiras geográficas.
Um Sábio dizia que o
Roncador passa por um cenário problemático, são questões históricas com essas
que se arrastam durante décadas e séculos Brasil a fora, que nada passa da
grilagem de terras camponesas por pessoas e por empresas do grande capital.
Isso sempre aconteceu. Para entendimento, sabemos que o “Território Roncador” –
(do lado leste) é um espaço de terras públicas que estão sendo tomadas dos seus
verdadeiros donos: os posseiros. Os modos de vida da comunidade estão sendo
ameaçados por forasteiros que não respeitam a tradição -, uma moradora certa
vez disse que são “gente branca mal-encarada” que não dá nem bom dia quando
passam no caminho. O Sábio voltava a falar outra vez, pausadamente com a voz
tremula ele contava suas histórias de vida, a Senhora sua esposa me oferecera
uma xícara de café, aceitei, claro. Daí em diante ele acendeu um cigarro de fumo
caipora na luz da lamparina, prosseguiu narrando o que vivera há 50 anos atrás,
desde os primeiros ofícios que o pai lhe ensinara na lavoura e como sobreviver
no dia a dia das matas. Nasceu e pretende morrer naquele seu lugar. Falou da
Associação que luta pelo bem comum do povo – brigar por terra é um grande
desafio. Contava das caças, das pescarias e dos cocais – sua família descendentes
de piauienses eram extrativistas, sua avó quebrava coco babaçú para o sustento
da família, seu avó era colhedor de bacuri. Voltamos no tempo e imaginemos que
há 70 anos atrás as chapadas e os cocais eram totalmente diferentes, não
existia monocultura, nem a ganância, a floresta era a mãe de todos, para todos.
Preocupava-se com o
futuro de seus filhos e netos, lembrava da liderança de Moisés e Josué, personagens
da Bíblia que lutavam pela “Terra Prometida”. Escutei com atenção as palavras
dos amigos camponeses, pensei em narrar transcrevendo-as para compartilhamento,
aqui estão elas transformadas nessa modesta crônica, mesmo que esse tipo de
literatura não receba tanta atenção da crítica. “Escrevo talvez para aqueles e
aquelas que não sabem ler”. Um paradoxo cultural! Memórias ricas em vários
tipos de conhecimentos orais eram aquelas. Refletimos que a educação dos povos
antigos vinha de berço, passava de geração para geração, os créditos perduravam-se
nas brumas do tempo. Com a modernidade e globalização os valores familiares se
perderam... ninguém quer mais contar histórias! Absurdo! Eles foram exemplos da
luta, da sabedoria e da humildade... tudo pode passar com as transformações dos
tempos, menos o conhecimento guardado na memória de vida.
José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com
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