O destino do
viajante que coordenara os representantes das comunidades do município de
Urbano Santos era a cidade de Brejo. A velha cidade que no tempo de vila se
tornara “quartel-general” dos corajosos rebeldes da insurreição dos balaios,
ainda em 1839. Mas agora os tempos são outros. A reunião em 07/11/2016 seria
uma audiência pública com os representantes do ITERMA – “Instituto de Terras do
Maranhão” – em nome do Governo do Estado, com as comunidades que necessitam das
regularizações fundiárias na Região do Baixo Parnaíba maranhense. Essas
comunidades que já não aguentam mais esperar pelas vontades de quaisquer
governos, desde os que passaram, o atual e os que hão de vir. Leonardo Boff,
escritor, ativista ambiental e pai da Teologia da Libertação, dizia que “A luta
pela Reforma Agrária é uma luta pela vida”. “Quando se trata da luta pela
terra, pela água, pela segurança, por uma sociedade justa, igualitária e
fraterna, estamos tratando da luta pela vida”, acrescentava Pe. Chagas, Pároco
do município de Buriti de Inácia Vaz e coordenador do Fórum em defesa da vida
do Baixo Parnaíba.
A audiência começou com as várias e velhas
denúncias dos representantes das comunidades dos municípios de Urbano Santos,
Beláguas, São Benedito do Rio Preto, Chapadinha, Brejo, Milagres, Santa
Quitéria, São Bernardo e Anapurus. Muitos problemas em todos os aspectos no que
diz respeito às terras devolutas do Estado, terras soltas que esperam ser
arrecadadas desde décadas passadas, são os trabalhadores e trabalhadoras rurais
que moram nelas, por isso merecem respostas concretas do governo. O Território
do Baixo Parnaíba, suas chapadas foram engolidas pelo agronegócio da soja e do
eucalipto, basta olhar os grandes campos na estrada que liga Chapadinha à
Anapurus e Brejo, o que antes era chapada, hoje só se ver deserto, aquelas
áreas das comunidades tradicionais foram griladas por gaúchos e por outras
empresas. A comunidade São João dos Pilões em Brejo que vive do artesanato do
da fabricação de pilões, cumbucas e outros utensílios da madeira de pequi
expostos na beira da estrada para a venda, não encontra mais a árvore em suas
chapadas, suas áreas foram desmatadas pelos gaúchos, por isso compram troncos
de pequi de outras regiões para a demanda dos pilões. O processo burocrático da
conquista da terra pelos camponeses não é uma questão fácil, pois a luta não
depende somente da vontade e da coragem dos lavradores, o Estado é o
responsável pelo processo técnico e pela garantia da segurança e proteção dos homens
e mulheres do campo.
Os antecedentes de nossa história não
marcam uma página bonita de se ver na luta pela terra no Estado do Maranhão –
principalmente quando se fala dos camponeses pobres das comunidades rurais e
quilombolas. Esse sentimento não é coisas de nossos dias atuais. Quando olhava
o sertão da janela do carro que nos levou a Brejo, lembrava de quando o grupo
do vaqueiro Raimundo Gomes e de Francisco dos Anjos (líderes da Balaiada (1838-1842),
já se deslocavam de um lugar para outro combatendo naquela época com os grandes
proprietários de terra, coronéis, latifundiários e o governo que oprimia os
menos favorecidos e desprovidos de direitos. Os balaios lutavam por respeito,
dignidade, pela vida, contra a escravidão... pela liberdade. Desafiaram o
Império Regencial, mas como sempre, nosso estado repressor utilizou da força militar
para massacrá-los. Restou em nosso meio a história de coragem dos caboclos
rebeldes que deram os primeiros passos dessa batalha que se trava até os dias
de hoje. A reunião foi proveitosa, no espaço de muitos encontros e eventos
organizado pelas entidades de apoio ao movimento social, local esse que me
refiro é o “Salão do Centro Diocesano de Brejo” – Seminário Santo Antonio. Em
suas paredes estão mensagens de eventos e frases de solidariedade à nossa luta,
a que mais me chamou a atenção foi o cartaz da Campanha da Fraternidade 2017,
com o tema: “Biomas brasileiros em defesa da vida”. O evento terminava com as
frases ecumênicas e românticas do Bispo D. Valdeci, que apelava para a
organização dos trabalhadores, dos menos favorecidos, sustentando teses que lia
na bíblia e contextualizando nas vivencias do dia-a-dia. Suas palavras e a
experiência da coletividade nesta luta renhida travada desde séculos remotos é
“O que enche nossos sonhos de esperanças
no chão de luta em que vivemos”.
José Antonio Basto
Militante em defesa dos direitos
humanos pela Reforma Agrária
E-mail: bastosandero65@gmail.com
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