Conscientes de uma luta em defesa
da vida, somando-se terra, água e toda biodiversidade disponível nas florestas,
chapadas, brejais lagoas e rios... a comunidade tradicional de São Raimundo, localizada
no meio da Região do Baixo Parnaíba é uma prova de autenticidade do território
livre dos povos tradicionais. Devemos entender que nossas comunidades rurais
assim como o São Raimundo, precisam de seus espaços naturais para manter suas sobrevivências, com paz e harmonia, uma vez
que estes espaços infelizmente foram invadidos e vendidos outrora para o agronegócio
violento e selvagem que tanto destrói o meio ambiente e o modo de vida destas
pessoas. A cabeceira do Rio Preguiças que fica para o lado daquelas regiões da
Lagoa da Campineira vem sofrendo com vários problemas de devastação de suas
matas ciliares, causando assim o desaparecimento total da nascente. As comunidades
tradicionais que vivem há séculos naqueles lugares desenvolvendo-se e reproduzindo-se,
de forma cultural, não precisam ser subestimadas por ninguém, por nenhuma
esfera de poder, as associações são livres para trabalhar e produzir alimentos
e renda familiar, suas “tradições e modos de vida” merece respeito. Pois desde
séculos as comunidades já plantavam, colhiam, pescavam, caçavam e coletavam em
seus manejos e práticas tradicionais repassadas de pais para filhos, de geração
para geração. Quando a ganancia do capitalismo chegou aqui no Baixo Parnaíba,
adentrando por essas terras de Urbano Santos, principalmente no inicio da
década de 80, representado então por empresas multinacionais como a antiga
Florestal LTDA – hoje Suzano Papel e Celulose e órgãos terceirizados, foi a
partir desse momento que gerou-se uma grande transformação social, resultando
no envenenamento das áreas produtivas e tradicionais das comunidades, além do
conflito fundiário que se arrasta até os dias de hoje. As terras que eram
utilizadas para a agricultura e coletas de frutos foram tomadas a força através
de grilagem, as chapadas de onde caçavam e colhiam bacuris e pequis foram
substituídas por campos de eucalipto e soja, os rios e brejos onde pescavam,
colhiam buritis, lavavam e banhavam... estão desaparecendo de forma rápida e
feroz seja pelo impacto ambiental direto do agronegócio ou construção de açudes
nos leitos, muitos desses rios já desapareceram completamente, estes casos são verdadeiros desacatos aos
direitos humanos e da vida. São Raimundo é um exemplo de luta por direitos, da
organização comum e coletiva na pessoa de seus líderes que incansavelmente
batalham por um mundo novo. Trabalhos importantes como o que foi apresentado
pelos alunos e toda comunidade no dia 02 de dezembro de 2015, “ENCONTRO DE COMUNIDADES DAS CHAPADAS PARA O
MANEJO SUSTENTÁVEL DO BACURI”, foi mais do que positivo, um show de
conhecimentos sustentáveis e produção agroecológica, foram pautas das
atividades dos alunos que apresentaram o projeto pedagógico “ÁGUA, SEU FUTURO EM NOSSAS MÃOS”. A
peça “Encontro do cerrado com o Rio
Preguiças” emocionou a todos e todas que prestigiavam aquele importante
momento. O cuidado com a natureza sempre foi debatido pelos moradores do São
Raimundo, desde quando barraram a extração do linho do buriti que era comercializado
em Barreirinhas; proibiram por lei da associação a derrubada do bacuri verde e ajudam
na construção de um plano maior que é a proibição da devastação das florestas,
principalmente as chapadas para o plantio de monocultivos e fabricação de
carvão em todo município –, uma vez que lá já existe uma lei – a proposta agora
é ir além-mar. O problema da escassez de água é a maior preocupação não apenas
no São Raimundo – mas em todo mundo, por isso as ações construtivas de
conscientização. Outras comunidades do Baixo Parnaíba deveriam seguir o exemplo
ímpar do São Raimundo, assim portanto tomando conhecimento de sua independência
e força com o sentimento e sonhos de um outro mundo possível.
José Antonio Basto
Dezembro de 2015
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