segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

MENSAGEM DO SÃO RAIMUNDO AO MUNDO


Conscientes de uma luta em defesa da vida, somando-se terra, água e toda biodiversidade disponível nas florestas, chapadas, brejais lagoas e rios... a comunidade tradicional de São Raimundo, localizada no meio da Região do Baixo Parnaíba é uma prova de autenticidade do território livre dos povos tradicionais. Devemos entender que nossas comunidades rurais assim como o São Raimundo, precisam de seus espaços naturais para manter suas  sobrevivências, com paz e harmonia, uma vez que estes espaços infelizmente foram invadidos e vendidos outrora para o agronegócio violento e selvagem que tanto destrói o meio ambiente e o modo de vida destas pessoas. A cabeceira do Rio Preguiças que fica para o lado daquelas regiões da Lagoa da Campineira vem sofrendo com vários problemas de devastação de suas matas ciliares, causando assim o desaparecimento total da nascente. As comunidades tradicionais que vivem há séculos naqueles lugares desenvolvendo-se e reproduzindo-se, de forma cultural, não precisam ser subestimadas por ninguém, por nenhuma esfera de poder, as associações são livres para trabalhar e produzir alimentos e renda familiar, suas “tradições e modos de vida” merece respeito. Pois desde séculos as comunidades já plantavam, colhiam, pescavam, caçavam e coletavam em seus manejos e práticas tradicionais repassadas de pais para filhos, de geração para geração. Quando a ganancia do capitalismo chegou aqui no Baixo Parnaíba, adentrando por essas terras de Urbano Santos, principalmente no inicio da década de 80, representado então por empresas multinacionais como a antiga Florestal LTDA – hoje Suzano Papel e Celulose e órgãos terceirizados, foi a partir desse momento que gerou-se uma grande transformação social, resultando no envenenamento das áreas produtivas e tradicionais das comunidades, além do conflito fundiário que se arrasta até os dias de hoje. As terras que eram utilizadas para a agricultura e coletas de frutos foram tomadas a força através de grilagem, as chapadas de onde caçavam e colhiam bacuris e pequis foram substituídas por campos de eucalipto e soja, os rios e brejos onde pescavam, colhiam buritis, lavavam e banhavam... estão desaparecendo de forma rápida e feroz seja pelo impacto ambiental direto do agronegócio ou construção de açudes nos leitos, muitos desses rios já desapareceram completamente,  estes casos são verdadeiros desacatos aos direitos humanos e da vida. São Raimundo é um exemplo de luta por direitos, da organização comum e coletiva na pessoa de seus líderes que incansavelmente batalham por um mundo novo. Trabalhos importantes como o que foi apresentado pelos alunos e toda comunidade no dia 02 de dezembro de 2015, “ENCONTRO DE COMUNIDADES DAS CHAPADAS PARA O MANEJO SUSTENTÁVEL DO BACURI”, foi mais do que positivo, um show de conhecimentos sustentáveis e produção agroecológica, foram pautas das atividades dos alunos que apresentaram o projeto pedagógico “ÁGUA, SEU FUTURO EM NOSSAS MÃOS”. A peça “Encontro do cerrado com o Rio Preguiças” emocionou a todos e todas que prestigiavam aquele importante momento. O cuidado com a natureza sempre foi debatido pelos moradores do São Raimundo, desde quando barraram a extração do linho do buriti que era comercializado em Barreirinhas; proibiram por lei da associação a derrubada do bacuri verde e ajudam na construção de um plano maior que é a proibição da devastação das florestas, principalmente as chapadas para o plantio de monocultivos e fabricação de carvão em todo município –, uma vez que lá já existe uma lei – a proposta agora é ir além-mar. O problema da escassez de água é a maior preocupação não apenas no São Raimundo – mas em todo mundo, por isso as ações construtivas de conscientização. Outras comunidades do Baixo Parnaíba deveriam seguir o exemplo ímpar do São Raimundo, assim portanto tomando conhecimento de sua independência e força com o sentimento e sonhos de um outro mundo possível.

José Antonio Basto
Dezembro de 2015

 

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