Ela chorava quando o vento
batia em seus bacurizeiros, quando o vento se ia e logo vinha a noite calma e
densa; ela chorava quando lembrara da fronteira da soja e do eucalipto selvagem
que através do veneno perigoso já secara todas as suas poucas nascentes. Ela
chorava quando de repente se lembrava que mora agora dentro do agronegócio. O vento
leste cortava o pedaço do mundo em direção aos portais do Parque dos Lençóis,
desembocando no horizonte do mar tenebroso. Ela estava ali cansada desde tempos
bem remotos – algumas décadas de pura solidão aparavam suas lágrimas; as épocas
românticas já não se falam mais; os tempos de fartura, tampouco. Ironia do
destino ou ignorância da raça humana? O dinheiro que talvez certos dias comprassem
tudo, hoje não compra nada... porque o bem mais precioso das chapadas que são as
cabeceiras dos rios e riachos elas desapareceram totalmente vítima do grande
impacto ecológico e social. Muitas coisas mudaram de curso, as águas mudaram seu
curso, o consumismo atingiu seu apogeu e os viventes pensantes não guardam
consigo se quer uma gota de consciência. O vento soprava para o Baixo Parnaíba
e anunciava uma era futura de sonhos com o revestimento das espécies vegetais e
o reaparecimento dos animais das matas. Aquele vento leste trazia sobre as
brumas e as nuvens as canções de comunidades que não se mais ouvia... os
batuques, os toques, os tiros no sertão e os tambores num gingado de história e
resistência armada. São nas chapadas que estão os restos mortais dos vultos
líderes que deram inicio a essa guerra em que todos estão envolvidos na
atualidade. Os tiros e morteiros que atravessaram séculos e séculos estão
adormecidos no mesmo barro amarelo... na mesma terra regada de sangue dos
mártires com sede e esperança de justiça.
José Antonio Basto
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