A história
do nosso país é marcada por um sistema de desenvolvimento conservador,
principalmente quando se trata do campo – onde as classes mais baixas sempre
foram exploradas pelo modelo capitalista e escravocrata durante séculos. O
processo excludente concentrador da terra e da renda usufruem do poderio
militar e de guarda para assim se apropriar dos territórios que resulta em
grandes problemas ambientais e sociais para o país. Podemos lembrar que na
década de 1990, o neoliberalismo provocou o surgimento de um parâmetro de
reestruturação produtiva, ainda hoje em curso no campo e na cidade, que fez
ampliar a exclusão e aprofundar as desigualdades sociais das famílias
camponesas.
Aqui no
Baixo Parnaiba Maranhense isso não é diferente. Relendo o livro “O eldorado dos gaúchos” de autoria do
Professor Rafael Gaspar entendi que o programa de sistematização dos
monocultivos da soja em nossa região traz um atraso enorme para as comunidades
tradicionais, primeiro porque é uma monocultura desconhecida do lugar e os
produtos tóxicos aplicados nos campos é super-destruidor, avassalando a
biodiversidade e os ecossistemas. Os chamados gaúchos que adentraram no Baixo Parnaíba
não respeitam as populações campesinas que moram nos povoados, matam seus
bichos sem motivos que desde séculos são acostumados a pastar nas beiras das
lagoas, brejos e chapadas, além disso, a ameaça de trabalhadores rurais é
constante –, esse pessoal sem compromisso com nossa região vieram do sul do
país para grilar as terras devolutas do estado, maltratar aqueles e aquelas que
são na verdade os verdadeiros donos da terra por direito ancestral, pois
precisam diretamente dela para sobreviver. Como pode tamanho desacato aos
direitos humanos e da vida? Como os lavradores vão entender essa política de
mudanças drásticas e bruscas que foi implantada em suas áreas de cultivos na
agricultura familiar e onde os mesmos praticam desde tempos remotos seus
manejos e práticas extrativistas dos bacuris, pequis e muitos outros frutos das
chapadas? As cabeceiras de rios foram dilaceradas, toda fauna e flora pede
socorro! Comparando o livro do Rafael com a cartilha “Sustentabilidade Socioambiental – publicação da CTB- Central dos
Trabalhadores (as) do Brasil” – reflete-se que as questões a respeito das
relações climáticas do Maranhão, do Brasil e do mundo estão englobadas em uma
só página: o agronegócio com suas tecnologias de ponta nunca se preocupou e
muito menos respeitou os povos tradicionais – quilombolas, gerais e indígenas,
vem destruindo o meio ambiente com a ganância de seus lucros estrangeiros. Já a
agricultura familiar representa o projeto do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR)
- que realiza-se no Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, responsável
pela soberania dos povos do campo garantindo então renda e segurança alimentar.
A agricultura familiar mesmo ocupando apenas 21% das terras agricultáveis e
acessando menos de 40% do volume de crédito rural disponível, responde por 39%
do Produto Interno Bruto - PIB, por mais de 80% - dos postos de trabalho
existentes no campo e por 51% da produção de alimentos de todos nós
brasileiros.
Nossa
Região do Leste Maranhense onde se encontra um significativo número de
comunidades tradicionais: quilombos, brejeiros e ribeirinhos é um território livre
– os camponeses precisam da terra mais uma vez e sempre dizendo; vivem da
floresta, das chapadas, das águas e de suas roças de subsistências. O
agronegócio da soja e eucalipto que foi implantado nessas áreas nada tem a nos
oferecer, o legado é a imensa destruição dos recursos naturais principalmente (terra,
fauna, flora e água). Que a resistência do movimento social no Baixo Parnaíba possa
ser um escudo para as comunidades realizar um sonho antigo, sendo este talvez o
lema do 9º Fórum Social Mundial acontecido
em Belém-PA, em 2009, onde participei que diz assim nas palavras de conforto: “UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL”.
José Antonio Basto
Militante em defesa dos Direitos Humanos
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