terça-feira, 26 de agosto de 2014

A lírica infanto-juvenil de Castro Alves


Castro Alves - aos 15 anos
Por que Castro Alves foi um poeta sempre jovem? Porque não envelheceu jamais. Morreu muito novo aos vinte e quatro anos de idade, nascido em 1847, na Fazenda Cabaceiras distrito de Curralinho na caatinga baiana,  foi marcado pelo romantismo e pelos cacoetes do romantismo, dono de uma poesia jovem, quase juvenil -, liricamente juvenil e entusiasticamente jovem, é o que se ver em “Espumas Flutuantes”,  sua única obra publicada em vida.
O adolescente Castro Alves começou sua primeira experiência poética ainda quando estudava no antigo Ginásio Baiano em Salvador, um poema que retrata bem esse entusiasmo juvenil da época é “O laço de fita”-, escrito quando ele tinha apenas quinze anos: “Não sabes, criança? Stou louco de amores.../ Prendi meus afetos, formosa pepita./ Mas onde? No tempo, no espaço, nas névoas? / Não rias, prendi-me num laço de fita”. Os devaneios precoces estão intimamente ligados ao sentimento amoroso e aventureiro, o amor que invade o pensamento é maior do que qualquer coisa, podendo até então usufruir de exageros explícitos, como a simples loucura e a morte. A poesia infanto-juvenil de Castro Alves diferencia-se de outras produções pelo fato de que sua juventude foi grifada por fatos que marcaram sua vida: a morte da mãe vítima de tuberculose, a loucura do irmão, a mudança da família do sertão baiano para a capital Salvador foram fatos que fizeram reviravoltas no álbum do artista. Castro Alves talvez não descendesse de uma linhagem de poetas, mas a vocação falou mais alto quando era ainda pré-adolescente. O jovem trovador se revelava um romântico por vocação, ao mesmo tempo, aquele que seria o futuro poeta dos escravos se dedicou e trabalhou extraordinariamente a favor da raça escravizada, tendo como experiência os tempos que passara na fazenda do pai e do avô materno. Seu primeiro poema publicado na imprensa “Canção do Africano” -, demonstra a capacidade de um adolescente que dedicaria toda sua vida contra a escravidão negra no Brasil. Castro Alves não viu a libertação dos escravos em 13 de Maio de 1888, mas, diga-se de passagem, que foi o abolicionista de maior valor nessa militância que se concretizou na liberdade dos negros e o anúncio da república que veio logo mais em 1889. Castro Alves quando viajou para São Paulo realizou-se com aquilo que queria fazer de verdade: a boemia com os colegas de universidade, Rui Borbosa, Joaquim Nabuco e o professor José Bonifácio; num tempo quando ninguém falava de abolição da escravatura no Brasil, Castro Alves em seus poemas já tratava disso ou pelo menos nesta direção. Uma luta que começou na Bahia e foi para o Rio de Janeiro e também para São Paulo, a lírica de um revolucionário hoje patrono da UJS – União da Juventude Socialista, passou,  a partir daquele momento ser uma arma de luta contra todo tipo de opressão dirigida aos escravos. O Jovem poeta Baiano deixou sua marca incomparável no panteon da história por ter sido um poeta românico que pretendia tratar não apenas da escravidão no Brasil, mas também em algumas partes do mundo, como na própria África. A insatisfação do poeta se refletiu por toda sua existência, sua vida na verdade foi de pura militância, isso ficou retratado quando ele desafiou a classe escravocrata e conservadora recitando seu mais célebre e famoso poema “Navio Negreiro” –, um ato histórico que marcou as paginas da militância abolicionista no século XIX.
Um romântico que cantou as flores, as mulheres e principalmente a liberdade, foi este quem escreveu poemas belíssimos que atravessaram as barreiras do tempo, a lírica amorosa e revolucionária de Castro Alves nos faz voltar a um tempo importante em que as tiragens dos livros eram extremamente resumidas. Ler várias vezes seus versos consagrados não é cansativo. Uma poesia difícil de interpretar, repleta de pontos de acentuações gramaticais, ninguém jamais escreveu com tanta perfeição e com tantos pontos de exclamações, reticencias, interrogações, travessões, ponto e vírgula e assim sucessivamente. Castro Alves talvez não tenha sido um bom aluno no curso de direito, mas agitações e literatura eram com ele mesmo. Atingiu seu apogeu como vate imortal da LITERATURA BRASILEIRA. Hoje é patrono de uma das cadeiras da ABL – Academia Brasileira de Letras, é um vulto fundamental de nossa cultura literária -, o poeta da juventude, do amor, da liberdade, da luta por direitos iguais este é Castro Alves é, sobretudo um cantador das dores da humanidade, por isso sua grande diferenciação dos outros poetas do seu tempo. A poesia infanto-juvenil de Castro Alves é ainda uma voz que clama por justiça social na reflexão do preconceito social que ainda não foi abolido de nosso meio, nessa mesma vertente, diga-se de passagem, que foi o poeta que retratou a mulher amada de carne e osso na sombra de uma musa sensual, verdadeira e original e não apenas ficcionista.

(José Antonio Basto)
*Poeta e crítico
                                                                            

Nenhum comentário:

Postar um comentário