Moçambique África! Moçambique Primeira Cruz, estado do Maranhão. Dois Moçambiques divididos pelo Atlântico e pelo Índico. Quem conhece o país Moçambique na África? Quem conhece o povoado Moçambique - zona rural de Primeira Cruz-MA? São dois lugares, um maior e outro menor com o mesmo nome. Mas o porquê do nome "Moçambique?" O nome de um lugarejo localizado em plenos campos arenosos na região dos lençóis maranhenses? Poucos se sabe dessas histórias, nem os próprios moradores do Moçambique maranhense sabe a história ancestral do nome do lugar onde vivem. O Viajante saia da sede da cidade de Urbano Santos, caminhava rumo ao Moçambique de Primeira Cruz. Era este, o ponto final de sua expedição. Viajar por aquelas bandas ele ainda não tinha feito. Mas naquele momento precisava conhecer o Moçambique dos lenções maranhenses, pois tinha curiosidade tanto pelo lugar, quanto pelo nome. O Viajante praticava sua rota pelas antigas estradas em que há mais de um século os negociantes vinham do Brejo e Campo Maior-PI para as regiões praieiras fazer seus negócios de trocas e vendas, isso no final do século XIX até meados do século XX. Ainda em 1849, foi construído uma ponte de madeira no lugarejo Mocambo I, onde hoje é a sede de Urbano Santos, ponte essa para facilitar a travessia das tropas de animais que transportavam mercadorias para as regiões praieiras como farinha, fumo, cachaça, rapadura e outros gêneros agrícolas. O Viajante seguia pela Vertente de Baixo – comunidade essa que já tem mais de cem anos. A Vertente tem característica de comunidade quilombola, assim, como quase todas as comunidades que se desenvolveram às margens do rio mocambo. Dali se atravessava o rio e chegava ao Lugarejo São Braz, que também é quilombola. Parava um pouco para descansar e beber um doce caldo de cana-de-açúcar no pé do engenho. Após algumas horas, seguiu viagem. Já era um final de tarde e ainda naquelas veredas quase fechadas, o sol já quase se pondo, as nuvens avermelhadas pairavam no horizonte como um quadro celeste... era hora de se preparar para passar a noite. Fizera uma fogueira e um abrigo; pegou seu frito que estava no Surrão que carregava e fez seu modesto banquete de jantar. Após uns goles de água de sua cabaça que carregava a tiracolo, descansou e dormiu ao som das cantigas dos grilos e dos pássaros noturnos. O sono foi longo e as cinco horas da manhã do dia seguinte acordara para continuar o trajeto até o Moçambique. Seguira contornando umas velhas fazendas, chegara na comunidade Cascudo, mas não parou para conversa, apressado, pois estava a pé, se deparou com cavaleiros e camponeses com suas cargas de mandioca carregadas por jumentos e burros, era tempo de farinhada. Passou por Prata dos Basílios, Santana dos Quirinos e Mosquito, mas não por dentro das vilas, mas ao redor contornando antigos caminhos dantes conhecidos. Entrou no povoado “As Galegas”, nos limites de Primeira Cruz e Belágua e também não muito longe da famosa Lagoa do Cassó. As Galegas tem esse nome em homenagem ao pássaro tradicional dessa região com o mesmo nome. Quase não se ver mais galega, quase em extinção, ninguém sabe o porquê, ou se sabe: impactos ambientais na região, talvez, elas migraram para longe. Conversou com velhos amigos, ali almoçou uma galinha caipira com arroz sucado no pilão. Após o almoço, o Viajante seguiu viagem pelos campos de areia. Atravessava lagos e lagoas passando pelos lugarejos Vargem Comprida, Tucuns e Faveira... desembarcara no último povoado antes do Moçambique, era o Brandura. Era já início da noite, se hospedou na casa de forno de um conhecido. Armou sua rede de tucum, jantou, bateu papo antes de dormir. A conversa variava de roças, caçadas, pescarias e chuvas. Chuvas essas que faz transbordar os rios, lagos e lagoas após as enchentes, quando começa a vazar as águas, vem a fartura de peixes, conhecidos como “peixe dos campos”. Já era tarde da noite, apagou a lamparina e dormiu sossegado. Pela manhã tomou um café com beijú de goma, se despediu e seguiu rumo ao Moçambique. A distância é considerável. Por fim chegara em no tal lugarejo Moçambique. Não conhecia ninguém, mas fez amizade. A comunidade Moçambique tem todas características de quilombola, pelas aparências dos seus moradores e pelos seus costumes e tradições. O Viajante presenciou manifestações culturais afro-brasileiras como o boi, capoeira, tambor e ciranda. Seu objetivo era checar e comparar o Moçambique de Primeira Cruz com o país africano de nome igual. Lá passara três dias, conversou, brincou, ensinou e aprendeu histórias do presente e do passado. Após sua missão cumprida, voltou para Urbano Santos pelos caminhos de acesso ao município de Belágua.
José Antonio Basto
(heterônimo – o Viajante
do leste
Julho - 2025