sábado, 12 de outubro de 2019

Bacabal e Santa Rosa: a luta que gera frutos...

Casa camponesa em Santa Rosa - (Urbano Santos/MA).

Bacabal e Santa Rosa! Lugares no meio do baixo parnaíba maranhense, em pleno sertão. Lutamos incansavelmente por aquelas duas comunidades camponesas. Conhecemos lá, mas nunca vimos um pé de bacaba, a nomenclatura não atrapalhara o sentido do vocábulo, muito menos das pessoas que conhecem e desconhecem o verbo. Talvez há muito tempo atrás sobre as margens do “Rio dos Pretos” (Rio Preto) - tenha criado espécies de bacaba, por isso a comunidade que ali se formara, recebera o nome desse fruto ou dessa espécie de palmeira. As comunidades de Bacabal e Santa Rosa vivem um conflito que vem se arrastando ao longo dos anos. Os camponeses moram lá e são donos da terra desde 200 anos atrás. Moradores se sustentam na luta apoiada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais e pelos amigos militantes que os incentivam para a batalha em busca dos seus direitos. A luta se manifesta a cada momento, mas eles precisam daquela terra para poder viver e procriar suas famílias.
Cartografia em Bacabal  - (Urbano Santos/MA).
A luta em Bacabal se deu em Santa Rosa, duas comunidades em uma só. Bacabal é filho de Santa Rosa, nasceu através dos moradores que migraram em busca de melhores lugares para fazer suas roças e também por causa da geografia do rio que fica mais perto. Em 2009 e 2010, Santa Rosa sofria um conflito acirrado, em razão das famílias influentes daquela região se dizerem donas da grande área de florestas da chapadas até o Rio Preto. Já em Bacabal teve outra história: como pode, alguém que mora em São Paulo depois de 60 anos vir dizer que é dona de mais de 600 hectares de terra? Sendo elas devolutas do estado, onde Bacabal se localiza. E mais, querer expulsar moradores de mais de 80 anos que ali nasceram e foram criados? No início do conflito em Santa Rosa casas foram queimadas, moradores ameaçados de morte e psicologicamente, com armas de fogo chegando ao extremo até com bananas de dinamites. Resistiram, criaram a Associação dos Trabalhadores Rurais do Projeto de Assentamento Santa Rosa e Bacabal, assim unificando a luta entre os dois povoados, entraram com o pedido no Incra de desapropriação fundiária para fins de reforma agrária. Aqueles camponeses têm o apoio e orientação da Fetaema, STTR e Fórum Carajás. Os ditos proprietários rebateram a decisão jurídica e social da Comunidade e entraram na justiça contra a Associação dos Moradores, com o propósito de despejar os agricultores. O
Vilarejo de Bacabal  - (Urbano Santos/MA).
tempo fora passando e a ação tramitando nas varas judiciais, a comunidade já venceu em determinados momentos em muitas instâncias, mas sabe-se como funciona a justiça nesse país, principalmente se tratando de questões agrárias. Ano passado – 2017, eles receberam uma notificação de uma decisão judicial a qual contava nos autos que os moradores tinham trinta dias para serem despejados sem nenhum direito a nada. O medo de perder suas casas e terra, a tristeza invadira o pequeno vilarejo. O Sindicato, como procurador fora acionado e uma equipe se encarregou da questão. O advogado da causa preparou “embargos de declaração” / documento de apelação contradizendo a decisão da juíza na época. Juntou-se com outros registros de atividades ali realizadas: imagens do seminário agrário – 2016, fotos das casas, do rio, da chapada, das florestas, das roças, depoimentos de moradores, de crianças e idosos. Todo esse material foi protocolado com o documento de defesa do advogado, assim, servindo de provas concretas e contundentes de que lá mora gente; ao contrário da alegação feita pelos proprietários da fazenda.
Reunião com a Associação das duas comunidades.
Ultimamente o conflito acendeu a chama, tanto em Bacabal, quanto em Santa Rosa. No Bacabal os trabalhadores rurais foram induzidos de aceitar um tal acordo extrajudicial de ficar apenas com 300 hectares de terra, coisa que não dá certo. Como 35 famílias vão conseguir viver em trezentas hectares de terra? Conversa foram feitas, mas nada acordado, orientação dos que se preocupam com eles. Santa Rosa tinha acalmado, mas dia 07/10/2019, saira mais uma decisão da justiça, com um prazo mínimo para a Associação apresentar apelação. Voltamos lá e orientamos sobre o processo, tomando as providencias. Mas o que lhes fazem ficar na terra é a união e sobretudo a resistência. Entendendo que são cidadãos, trabalhadores que ajudam sustentar esse país desigual, onde a política serve de base para a influência sempre desprezando os mais fracos e humildes, esquecidos e desprovidos de direitos. Solidariedade ao povo de Santa Rosa e Bacabal.     

José Antonio Basto
e-mail: bastosandero65@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário