terça-feira, 29 de dezembro de 2015

CHAPADAS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DA REGIÃO DO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE TRANSCRITAS EM 2015.

Quebradeiras de coco babaçú - Povoado Cajazeiras - U. Santos

Escrever dedicadamente todo início de semana para manter autualizado uma página na web não é uma tarefa muito fácil, mas uma questão de compromisso e determinação. Assim aconteceu este ano de 2015 que se findará depois de amanhã. Partindo de uma auto-determinação pessoal, resolvi narrar fatos do dia-a-dia das comunidades rurais de nossa região agrária; a realidade das chapadas e conflitos fundiários e socioambientais. Creio que esses artigos (crônicas - ensaios), talvez, não sei... contribuíram sobre algum tipo de informações para os resumidos leitores e leitoras visitantes especiais dos blogs: bastopoetaemilitante.blogspot.com, moderado por mim e territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com, do Fórum Carajás.  É normal e todos sabem que esse tipo de literatura de militância social não interessa muita gente, mas vale apena ressaltar que aqueles e aquelas que esperavam um novo artigo de minha simples e modesta pena a cada segunda-feira, merece meus aplausos. Porque leriam por puro prazer? Porque necessitavam de pontos para suas pesquisas? Não sei. Leriam... passavam lá. As 4.236 visualizações de 151 postagens com essa agora 152 - no meu blog bastopoetaemilitante.blogspot.com, pode-se avaliar que não é um record como muitos outros veículos que tratam de outros assuntos, mas esse é um número razoável. O desafio de escrever alguma coisa às segundas-feiras foi para não ficar muito tempo distante das informações que variavam desde conflitos de terra, culinária regional, luta pela preservação ambiental, extrativismo, narrações de viagens, passeios, almoços de galinha caipira, visitas e etc, portanto se tinha e se tem motivos diversos de escrever sobre os povos tradicionais do Baixo Parnaíba e outras regiões do Maranhão por onde também estive nessa luta. O ano de 2015 foi bastante produtivo, aprendi a conhecer mais meu povo rural que em suas vivencias diárias nos dá aulas para toda vida. Nossas comunidades rurais, homens, mulheres... crianças e idosos... são estes e estas os verdadeiros donos da terra, que possam serem dignos e dignas de direitos. Aproveito o momento para lhes dedicar mesmo sem saberem, estes textos que um dia chegarão em vossas mãos em forma de livro. Saibam e relembram que um dia me disseram que podemos até não mudar este mundo violento de desrespeito e ganancia, mas podemos fazer algo da forma que sabemos para melhorá-lo. Podemos rever o que perdemos e o que ganhamos em 2015, ganhamos mais do que perdemos. Afiaremos nossas idéias para 2016, os entraves enfrentados... seguiremos em marcha pelas chapadas e estradas, as comunidades unidades na busca por dias melhores em seus territórios. Como já dizia Gandhi: “Nossas lutas e mensagens são as nossas próprias vidas”. VIVA TODAS AS COMUNIDADES TRADICIONAIS DA REGIÃO DO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE! O lema do Fórum Social 2009 em Belém do Pará ainda soa em suas terras: “UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL”.

José Antonio Basto
- Militante pela Reforma Agrária
- moderador do blog: bastopoetaemilitante.blogspot.com
Urbano Santos-MA, 29/12/2015.

Dedicadamente a todas as comunidades rurais da Região do Baixo Parnaíba Maranhense e outras regiões do Maranhão como o território do Auto-Turi “terra dos índios Awá-Guajás” donde tive a oportunidade de conhecer e escrever sobre este povo das florestas. Vai aos Trabalhadores e trabalhadoras rurais que lutam pela posse de suas terras, pela preservação das chapadas, das cabeceiras dos rios, dos brejos... da biodiversidade. Pois vivem dos recursos naturais que a terra e as águas lhe oferecem. Que tenham um 2016 de muitas lutas e vitórias. Vocês sempre foram e são independentes... livres.

Grande abraço aqui do companheiro de batalhas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Era aquele tempo de rastros e tiros nas chapadas do Baixo Parnaíba


Foi um certo tempo, uma época de guerras pelo sertão – levantes e insurreições dos balaios que no Baixo Paraíba ainda não viam a febre do eucalipto, exceto os tiros dos fuzis legalistas imperiais que disparavam contra os quilombolas e caboclos. Até então eles eram negros irmãos dos Quilombos de Bom Sucesso e Saco das Almas. Naquele tempo os monocultivos não atrapalhavam a vida das comunidades – mas entrelaçavam-se pelo futuro, atrapalhava-se no dia-a-dia  e no medo de morrer furado de balas pelo simples fato de lutar por direitos e pela já então debatida Reforma Agrária. Neste território já existia comunidades tradicionais desde de séculos atrás que adentravam pelas matas de bacuris deixando seus rastros pelos envios caminhos dos barros vermelhos das chapadas do Baixo Parnaíba, território de disputas fundiárias, de outrora aos dias de hoje. Essas disputas que continuam. Ainda ouve-se aos nossos dias os velhos tiros, os caçadores que procuram a cotia, a paca, o veado, o jacú e a nambu indgnam-se porque não encontram mais –, não acham água nas cabeceiras porque o eucalipto e a soja engoliu tudo. Que desgraça essa meu Deus! Esta infâmia do agronegócio... do capitalismo selvagem e violento, aqueles correntões devastaram tudo... não sobrou pedra sobre pedra. Como pode tamanho desacato! Meus avós e tios-avôs contavam-me que ontem tudo era muito diferente: existia muitos animais, água, rios, lagoas, brejos, frutos nas matas... as pessoas viviam em paz sem arrogância e sem ganância. Os campos e chapadas eram livres para o mundo, paras as pessoas morarem e reproduzirem-se. Um tempo romântico que não volta mais no Território do Baixo Parnaíba Maranhense -, um pedaço do mundo que precisa ser reformado sobre a pena de alguém ou por ações governamentais. As comunidades que habitam aqui devem entender que são libertas de tudo... das algemas que os prende na política de compra e venda. Essas comunidades trabalham e vivem desde de tempos bem remotos na resistência praticando seus ofícios extrativistas e trabalhando na lavoura. Os esconderijos do mocambo são quarteis de hoje que clamam por justiça social e concretização de direitos humanos. Precisamos das chapadas para manter a chuva, para assegurar os rios na piracema. Os buritis dos brejos estão lá solitários aguardando visitas nem que seja dos papagaios do “furo dos espinhos” -, um final de tarde cansativo e decisivo para aqueles momentos de dores e desprezos em suas gargalhadas sarcásticas. Ouvia-se um cântico de araras e jandaias que circulavam as beiras das chapadas avisando algo de errado maliciando um novo tempo de fumaças ferozes. A região agrária agora fala mais alto do que nunca, do que os mais velhos na sabedoria da vida em coletividade. A pistolagem, a ameaça... o verbo e a coragem de escrever toma conta dos ouvidos que não querem escutar. Era aquele tempo de rastros e tiros nas chapadas do Baixo Parnaíba.

 José Antonio Basto

 

 

 

 

 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

"BACURI': A RIQUEZA NATURAL DO SÃO RAIMUNDO, BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE



Dona Maria de Paula com seus bacuris - Pov. São Raimundo

Esse fruto importante das chapadas do Baixo Parnaíba Maranhense – riqueza incontestável de comunidades tradicionais como o São Raimundo - há mais de 50 quilômetros de Urbano Santos. A colheita do bacuri que vai de janeiro a abril, muito ajuda na economia familiar dos moradores desses povoados, são práticas e manejos que se perpetuam de pais para filhos. A polpa do bacuri que é tirada através de tesouras pelas mãos das mulheres e homens num circulo coletivo, esse ano a matéria prima atingiu um preço significativo talvez pela falta dos bacurizeiros no cerrado: problema esse causado por motivo da derrubada do fruto verde e em alguns casos o corte ilegal da madeira para cerrarias. O Povoado São Raimundo é uma das comunidades modelo quando se fala de preservação ambiental das chapadas e do território, pois seus moradores trabalhadores e trabalhadoras rurais sabem da grande importância para a vida que essas chapadas lhes oferecem. O bacuri possuir alguns nutrientes em ​​quantidades notáveis de Fósforo, Potássio, Ferro, Cálcio e vitamina C... é sobretudo consumido cru ou misturado com suco. Sua casca também é aproveitada na culinária regional e o óleo extraído de suas sementes é usado como anti-inflamatório e cicatrizante na medicina popular e na indústria de cosméticos. Encontrado em todo território do Baixo Parnaíba - região que infelizmente sofre com a invasão do agronegócio do eucalipto e soja. Muitas áreas de bacuris já foram devastadas para o plantio de monocultivos em mais de 16 municípios - esse impacto social e ecológico gerou muitos conflitos entre a Empresa Suzano e famílias camponeses que defendem e lutam pela concretização de direitos humanos. Pois essas famílias já viviam e reproduziam há séculos nesses espaços culturais. O São Raimundo luta pela terra, luta pela sobrevivência em harmonia com a natureza. Quando chega o período do inverno e da safra os frutos desabam no chão, as mulheres sobe a chapada com seus côfos e jacás para a colheita. Aquela comunidade trabalhadora tem consciência de colher o bacuri no tempo certo porque o bacuri faz parte de suas vidas, sendo que a comunidade precisa diretamente da chapada para sobreviver.
José Antonio Basto
Novembro de 2015

 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

MENSAGEM DO SÃO RAIMUNDO AO MUNDO


Conscientes de uma luta em defesa da vida, somando-se terra, água e toda biodiversidade disponível nas florestas, chapadas, brejais lagoas e rios... a comunidade tradicional de São Raimundo, localizada no meio da Região do Baixo Parnaíba é uma prova de autenticidade do território livre dos povos tradicionais. Devemos entender que nossas comunidades rurais assim como o São Raimundo, precisam de seus espaços naturais para manter suas  sobrevivências, com paz e harmonia, uma vez que estes espaços infelizmente foram invadidos e vendidos outrora para o agronegócio violento e selvagem que tanto destrói o meio ambiente e o modo de vida destas pessoas. A cabeceira do Rio Preguiças que fica para o lado daquelas regiões da Lagoa da Campineira vem sofrendo com vários problemas de devastação de suas matas ciliares, causando assim o desaparecimento total da nascente. As comunidades tradicionais que vivem há séculos naqueles lugares desenvolvendo-se e reproduzindo-se, de forma cultural, não precisam ser subestimadas por ninguém, por nenhuma esfera de poder, as associações são livres para trabalhar e produzir alimentos e renda familiar, suas “tradições e modos de vida” merece respeito. Pois desde séculos as comunidades já plantavam, colhiam, pescavam, caçavam e coletavam em seus manejos e práticas tradicionais repassadas de pais para filhos, de geração para geração. Quando a ganancia do capitalismo chegou aqui no Baixo Parnaíba, adentrando por essas terras de Urbano Santos, principalmente no inicio da década de 80, representado então por empresas multinacionais como a antiga Florestal LTDA – hoje Suzano Papel e Celulose e órgãos terceirizados, foi a partir desse momento que gerou-se uma grande transformação social, resultando no envenenamento das áreas produtivas e tradicionais das comunidades, além do conflito fundiário que se arrasta até os dias de hoje. As terras que eram utilizadas para a agricultura e coletas de frutos foram tomadas a força através de grilagem, as chapadas de onde caçavam e colhiam bacuris e pequis foram substituídas por campos de eucalipto e soja, os rios e brejos onde pescavam, colhiam buritis, lavavam e banhavam... estão desaparecendo de forma rápida e feroz seja pelo impacto ambiental direto do agronegócio ou construção de açudes nos leitos, muitos desses rios já desapareceram completamente,  estes casos são verdadeiros desacatos aos direitos humanos e da vida. São Raimundo é um exemplo de luta por direitos, da organização comum e coletiva na pessoa de seus líderes que incansavelmente batalham por um mundo novo. Trabalhos importantes como o que foi apresentado pelos alunos e toda comunidade no dia 02 de dezembro de 2015, “ENCONTRO DE COMUNIDADES DAS CHAPADAS PARA O MANEJO SUSTENTÁVEL DO BACURI”, foi mais do que positivo, um show de conhecimentos sustentáveis e produção agroecológica, foram pautas das atividades dos alunos que apresentaram o projeto pedagógico “ÁGUA, SEU FUTURO EM NOSSAS MÃOS”. A peça “Encontro do cerrado com o Rio Preguiças” emocionou a todos e todas que prestigiavam aquele importante momento. O cuidado com a natureza sempre foi debatido pelos moradores do São Raimundo, desde quando barraram a extração do linho do buriti que era comercializado em Barreirinhas; proibiram por lei da associação a derrubada do bacuri verde e ajudam na construção de um plano maior que é a proibição da devastação das florestas, principalmente as chapadas para o plantio de monocultivos e fabricação de carvão em todo município –, uma vez que lá já existe uma lei – a proposta agora é ir além-mar. O problema da escassez de água é a maior preocupação não apenas no São Raimundo – mas em todo mundo, por isso as ações construtivas de conscientização. Outras comunidades do Baixo Parnaíba deveriam seguir o exemplo ímpar do São Raimundo, assim portanto tomando conhecimento de sua independência e força com o sentimento e sonhos de um outro mundo possível.

José Antonio Basto
Dezembro de 2015